terça-feira, abril 11, 2006

 

O Caminho Divino da Iluminação

Deus não é sádico! Portanto, o Caminho divino e sagrado [trilhado por nosso modo de vida] que nos leva para mais perto Dele, não é um caminho cheio de espinhos, de dor e de sofrimento. O caminho correto, que deveríamos trilhar, deve ser repleto de alegrias e prazeres. O Laércio B. Fonseca [ http://www.laerciobfonseca.com.br/ ] enfatiza bem este ponto no artigo abaixo.

Menos choradeira e mais alegria!

Abraço, Rui.

O CAMINHO DO PRAZER

Vou tentar aqui demonstrar que o caminho do prazer é o caminho que nos conduz verdadeiramente ao encontro com o Divino. A iluminação só pode ser encontrada no prazer e na felicidade. Deus não é sinônimo de dor e sofrimento, mas sim de prazer e êxtase. Vamos compreender que Deus criou o prazer como uma lei universal para que todos os seres vivos fossem guiados pelo prazer e vivessem em êxtase com o prazer.

Todos os seres vivos no universo direcionam suas forças e energias através da busca do prazer. Eles fogem do que nós chamamos de dor e sofrimento e buscam incessantemente viver em prazer.

Quero mostrar neste capítulo que toda natureza viva do universo foi criada pelas leis divinas para seguir o caminho do prazer. Um exemplo simples que podemos analisar para ilustrar esse fato é o seguinte:

Se oferecermos a um cão um pedaço de carne e um gesto de carinho, ele corre rapidamente em direção a esse alimento e ao carinho; no entanto, se você lhe oferece um gesto de ira e levanta a sua mão no sentido de agredi-lo e promover-lhe a dor e o sofrimento, certamente ele irá fugir de você. Isto vem demonstrar que toda forma de vida naturalmente foge da dor e do sofrimento e inconscientemente é direcionada a buscar o prazer.

Esta será a nossa linha fundamental para compreendermos todos os seres vivos no universo, toda ordem universal e, portanto, a lei fundamental do caminho do Tantra Yoga.

A filosofia do Tantra está fundamentada nos princípios mais básicos da ordem universal; portanto, ela assume uma sintonia radical com o caminho do prazer. Não existe lei mais natural do que o caminho do prazer. A dor e o sofrimento foram criados e são gerados dentro de nosso ser como um instrumento biológico para dizer que algo está errado, para dizer que algo não está funcionando bem e que algo está fora das leis e da ordem universal. A dor é um sistema de alarme biológico para nos mostrar que existe um problema em nosso ser que precisa ser corrigido. Dessa maneira, o criador proporcionou aos seres vivos uma ferramenta fundamental para manter a ordem do sistema interno sempre em perfeito funcionamento; toda dor e todo sofrimento são indícios claros de que algo está errado e precisa imediatamente ser corrigido.

Todos os seres vivos foram criados para viver em prazer e quando o sistema estiver funcionando em perfeita harmonia, certamente estará vivendo em prazer. A dor e o sofrimento só surgem como um resultado de um estado de desarmonia; todas as doenças, quer sejam de ordem biológica, psicológica ou emocional, são sinais claros de um profundo estado de desarmonia e desequilíbrio de toda ordem natural do ser.

Com esse pensamento básico e fundamental poderemos compreender as leis fundamentais do caminho do Tantra, que é o caminho universal da realização espiritual do ser através de um estado de prazer e total negação do caminho da dor e do sofrimento.

Todas as religiões ocidentais que prometem uma comunhão com o divino e uma realização com Deus são totalmente antagônicas ao principio do prazer.

Elas constroem suas bases fundamentais no caminho do sofrimento. Acreditam que somente o sofrimento pode nos conduzir à iluminação e a Deus; por isso, todas essas religiões estão baseadas fundamentalmente na atitude do sofrimento. Acreditam que Deus exige que o homem sofra para que possa se aperfeiçoar e só então ganhar o reino dos céus. Com base nesse princípio todas essas religiões criam suas doutrinas e suas estruturas sacerdotais com base em atitudes que levam ao sofrimento e a um estado de dor e angustia, como base fundamental de seu caminho para chegar a Deus. Em geral, suas doutrinas não admitem nenhuma forma de prazer, encarando qualquer forma de prazer como algo pecaminoso e antidivino. Certamente toda a oposição ao divino deve ter uma figura responsável por ela, que, na visão dualista da dialética de suas doutrinas, surgirá na figura do demônio.

Dessa maneira, todas formas de prazer, e certamente o prazer sexual, estarão intimamente ligadas à figura do demônio. Essa tese é incrustada na mente de todos os seguidores dessas religiões.

Um exemplo claro para ilustrarmos essas distinções se encontra no símbolo máximo do cristianismo, que vem a ser o Jesus crucificado. Todo cristão carrega em seu peito o símbolo da cruz e da crucificação. A imagem fundamental do cristianismo é uma imagem de dor e sofrimento. Ela reforça a visão de que Jesus, para salvar a humanidade e abrir o caminho dos céus para os homens, teve que viver em profundo sofrimento e resignação ao prazer. Nesta tese, todo cristão deve seguir o mesmo caminho, viver uma vida de profundo sofrimento e negação ao prazer, como se a vida fosse uma eterna penitência. Se quisermos alcançar a salvação e o reino de Deus, necessitamos seguir o exemplo de Jesus que, aparentemente (o que eu não creio), viveu sempre uma vida de dor e sofrimento.

Não acredito que um ser iluminado pudesse viver em dor e sofrimento, se considerarmos Jesus como um ser iluminado. Certamente ele deveria ser um ser que viveu em profundo estado de prazer e êxtase. Se não fosse assim, onde estaria a beleza e a necessidade de nos tornarmos um ser iluminado igual a Cristo, se após atingirmos esse nível crístico iríamos continuar num estado de dor e sofrimento? No entanto, os cristãos tendem sempre a reforçar a imagem de Jesus como um homem que carregava dentro de si muita angústia, muita dor e muito sofrimento. Nunca vi uma imagem de Jesus que pudesse expressar felicidade, alegria e êxtase. Eu nunca vi uma imagem de Jesus sorrindo, expressando a felicidade de um ser iluminado.

Porque será que nenhum artista cristão teve a coragem de pintar um Jesus sorrindo?

Ao contrário a esta visão, os artistas indianos costumam retratar seus avatares e seus mestres iluminados como figuras alegres, sorridentes, felizes e sempre rodeados de muitas mulheres em um clima totalmente festivo, com músicas e danças. O prazer não é uma figura proibitiva nas doutrinas orientais, muito pelo contrário, ele é uma figura de destaque fundamental.

O Tantra é uma dessas doutrinas indianas onde o prazer toma a figura central. Portanto ele é um dos caminhos mais controvertidos e incompreendidos pelos ocidentais, que trazem consigo um arquétipo milenar em suas religiões de dor e sofrimento. A visão do ocidental em relação ao Tantra é uma visão de um caminho de luxúrias e promiscuidades, sendo obviamente, um caminho ligado às forças demoníacas. Dessa forma, todas as religiões ocidentais combatem o orientalismo e o chamado conceito da nova era, como religiões do demônio. É muito difícil para o ocidental já condicionado a essa visão de dor e sofrimento, aceitar o prazer como instrumento fundamental do divino; portanto, o religioso ocidental estará certamente fadado a construir uma vida e uma jornada em torno da dor e do sofrimento.

AS FORMAS DE PRAZER

Se fizéssemos uma pesquisa com um grupo de pessoas, como normalmente costumo fazer em meus cursos de Tantra, e lhes perguntar quais as coisas que mais lhes dão prazer na vida, elas costumam naturalmente responder o seguinte:

Algumas respondem que sentem muito prazer em comer e beber. Outras, respondem que adoram viajar e sentem muito prazer com isso, já outras respondem que adoram ouvir música, outras adoram dançar; no entanto, não deixa de ser unânime que o sexo é, sem dúvida, o maior de todos os prazeres.

Costumo em minhas aulas construir um gráfico onde registro em seus eixos cartesianos, na abscissa, o tipo de prazer e, no eixo y, a intensidade do prazer. Conversando com os alunos é possível construir esse gráfico registrando os níveis de prazer relacionados a cada atividade humana e, é obvio, que sem dúvida nenhuma o prazer do orgasmo sexual supera, em uma escala astronômica, o nível de intensidade de todas as outras formas de prazer.

Ainda conversando com esse grupo de alunos indago a eles, para ilustrar melhor esse nosso gráfico, quais os momentos de sua vida que ele pôde experimentar esses níveis de prazer expressados no gráfico. A resposta sem dúvida nenhuma é que são poucos os momentos da vida em que o ser humano vivencia esses poucos níveis de prazer. E, mesmo no orgasmo sexual, o tempo é muito curto e o prazer se esvai rapidamente. Isto vem demonstrar que a natureza mais constante de uma pessoa, considerada normal, é viver a maior parte do seu tempo e de sua vida num estado onde não há prazer, ou seja, em muitos casos numa escala de angustia e sofrimento, num estado depressivo que se posiciona no lado negativo de nosso eixo y, do gráfico acima mencionado.

A maioria de nossa sociedade vive num estado de profunda depressão e afastada de um estado de prazer, mesmo que seja o prazer em um nível de baixa intensidade. Isso vem provar que vivemos em profunda desarmonia com as leis cósmicas que discutimos no inicio desse capítulo e essa desarmonia cria um estado altamente doentio que contamina toda sociedade e toda a nossa humanidade. Certamente, a maior parte das religiões contribui profundamente para essa situação.

Na Índia, a maior parte das religiões também segue esses princípios, legando, somente ao Tantra Yoga, carregar a bandeira do prazer em sua doutrina.

A humanidade acostumou-se a viver neste estado abaixo da linha de qualquer nível de prazer e acha isso algo totalmente normal e natural. Você olha seu amigo do lado e percebe que ele também está depressivo e olha todas as pessoas ao seu lado, em seu ambiente de trabalho, ou na escola, em qualquer outra parte, e você nota que todas elas estão profundamente infelizes e inconscientemente procurando o prazer e a felicidade que não encontram. Sendo assim, todas as pessoas ao nosso redor estão profundamente angustiadas e tristes e não conseguem, de forma alguma, sair desse estado, por mais que tentem. Acabamos achando isso totalmente normal e natural.

FELICIDADE E A SOCIEDADE

Nossa sociedade está montada estritamente sobre a égide do materialismo dialético. Nessa sociedade não há lugar para o espírito ou qualquer coisa que diga respeito à espiritualidade. As pessoas são condicionadas, desde sua tenra infância, através das escolas, a darem importância única e exclusivamente a valores materiais. As escolas produzem indivíduos como as indústrias produzem máquinas. Os homens não passam de meras peças, simples máquinas na sociedade industrial. Seu valor é medido única e exclusivamente com relação ao rendimento e à sua capacidade de produção.

Dessa maneira, durante toda sua vida o homem vive profundamente distanciado de sua essência espiritual, acreditando na filosofia materialista da sociedade onde o ideal maior é obter o sucesso. Porém, o conceito de sucesso e realização, para essa sociedade, está única e exclusivamente ligado à capacidade do individuo em acumular bens materiais. Quanto mais um indivíduo acumula, mais ele será valorizado pela sociedade; sendo assim, todos os homens vivem diariamente numa luta frenética em seus postos de trabalho, travando verdadeiras batalhas financeiras no intuito de, simplesmente, acumular mais e mais objetos materiais. O homem dessa sociedade passa a acreditar que sua felicidade e realização só poderão acontecer após conquistar todos os bens materiais que a sociedade força-o a comprar todos os dias.

Se nós pensarmos que dentro do ser humano existe um potencial de energia vital que lhes proporciona a força fundamental para a vida e que esse mesmo ser humano direciona todo esse seu potencial físico, mental e intelectual com um único objetivo de conquistar os valores intrínsecos pregados pela nossa sociedade, iremos perceber que não sobrará nem um pouco de energia, nem um pouco de espaço e de tempo, para que o homem possa dedicar-se a si mesmo e a seus valores internos.

Um ser humano assim construído está totalmente afastado e desconectado de seu ser emocional e de seu espírito, jaz completamente morto e adormecido dentro de si mesmo. É obvio que um ser desta natureza deverá ser profundamente infeliz, viver em constante estado de depressão e angústia, em profundo conflito com sua psique. Seu estado emocional se apresentará em constante perturbação e o nível de prazer e realização não tem espaço na vida deste ser androidizado e transformado num perfeito robô, com o único e claro objetivo de canalizar todas as suas forças e seu potencial para servir à empresa onde trabalha.

Estamos cansados de ouvir discursos de conferencistas que são especialistas em construir este modelo do sucesso, da fama e da realização, da obtenção do poder dirigido sempre aos trabalhadores das grandes empresas, bancos e todo setor do capitalismo selvagem. E o discurso é sempre o mesmo:

Você precisa e pode fazer sucesso e para obter sucesso e realização pessoal você precisa trabalhar duro, dia e noite sem parar; só assim você poderá obter o sucesso que almeja.

No entanto, o tolo ouvinte dessas conferências não percebe que está sendo feita uma lavagem cerebral em seu ser e o único indivíduo que realmente obterá lucro com um pseudo-sucesso será o dono da empresa onde ele trabalha. É simples compreender o porque.

Imagine esse discurso sendo dado em uma empresa para mil funcionários e todos acabam acatando essa filosofia. A partir desse ponto irá iniciar dentro da empresa uma guerra frenética pela obtenção do sucesso e do poder. Numa sociedade capitalista onde o objetivo principal das empresas é competir umas com as outras; e numa competição, é obvio que o objetivo é vencer e, certamente, uns lutam contra os outros com o único intuito de destruir o seu adversário.

Basta você perceber como o EUA age para com o resto do mundo. Ele jamais admitirá que qualquer outro país venha competir com ele de igual para igual.Ele necessita sempre ser o primeiro e estar na liderança planetária. E, para tanto, usará de todas as armas possíveis para manter esse padrão de dominação, acumulando arsenais militares devastadores, que podem conduzir o mundo a um holocausto nuclear sem precedentes na história da civilização humana.

Portanto, vejam como é tolo esse discurso daqueles que pregam o sucesso e a realização numa sociedade materialista e capitalista, onde o espírito está morto.

Essa filosofia é muito fácil de ser compreendida quando é aplicada ao mundo dos esportes competitivos. Notem que em uma competição onde haja centenas de competidores, onde todos ouviram o mesmo discurso de sucesso, fama e poder, só poderá haver um vencedor. Logo, teremos centenas de perdedores frustrados, angustiados, perturbados e profundamente infelizes, porque nossa sociedade só tem espaço para poucos no ranking dos que realmente obtiveram sucesso. Notem que não há espaço neste modelo de sociedade, onde todos poderão obter a fama, o poder e o sucesso, pois para tanto, teríamos que inventar uma competição aonde todos cheguem em primeiro lugar.

Assim sendo, a nossa sociedade passa a viver em constante conflito entre as classes, pois, todos estão num processo de competição contínua, procurando derrotar seu semelhante. Isto vai gerar o alto grau de violência que hoje impera nas cidades e na guerra entre países. Assaltos, roubos, homicídios são frutos de uma insatisfação pessoal, de uma inexistência individual. Esse estado de coisas extrapola-se às fronteiras das grandes nações, onde as grandes empresas multinacionais competem entre si, levando as nações a um estado de conflito político e ideológico sem precedentes na história. Estamos vivendo atualmente esse estado de coisas que vem se arrastando ao longo da história de nossa humanidade, que culminou com a primeira e a segunda grande guerra mundial. Essa, sem duvida nenhuma, é a certeza da imbecilidade e da incapacidade do ser humano em resolver suas divergências pelo diálogo e pelo bom senso.

Estamos vivendo atualmente um clima semelhante ao das grandes guerras, onde atentados terroristas, guerras entre nações reforçam a tese de que vivemos num mundo de criaturas profundamente infelizes e angustiadas.

Buda já dizia que tudo o que acontece no mundo não passa de um reflexo do que acontece no interior de cada ser humano. Se não há paz no interior do homem, se não há prazer em viver, isso refletirá em tudo o que existe no mundo lá de fora. E, como eu acredito muito na sabedoria do grande Buda, a solução para transformar o mundo não se encontra em construirmos revoluções materialistas, pegarmos em armas para derrubarmos governos e ditadores. O verdadeiro passo e a verdadeira batalha deverão ser travados no interior do ser humano.

Eu somente acredito que haverá paz no mundo, quando o homem estiver em paz consigo mesmo e, para tanto, devemos eliminar as causas fundamentais do conflito humano em seu interior e, para eliminarmos esse conflito, é que surge o caminho do Tantra Yoga. Um caminho que irá transformar o homem de dentro para fora, trazendo-lhe a verdadeira realização espiritual, o verdadeiro sucesso de um ser que encontrou a sua alma e a si mesmo e que passa, então, a viver em verdadeiro estado de prazer e êxtase. Em um mundo onde o prazer está morto, certamente a alma estará também morta; portanto, para fazer o homem renascer e tornar a viver, devemos mostrar-lhe o caminho do prazer e da realização espiritual.


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