sábado, abril 15, 2006
O Corpo Físico
por Cinira Riedel de Figueredo [1]
Vamos dedicar este artigo àqueles que não sabem viver. Esquecidos de que o corpo físico é o "templo do Espírito Santo", como poeticamente o definiu São Paulo, e desconhecedores do princípio de que cada lei age diretamente em seu próprio plano, esses supõem que espiritualidade é abandonar o corpo. Assim, com a cabeça num céu ilusório, transformam-se em lunáticos e desequilibrados, e deixam de cumprir os seus deveres materiais.
As leis que regem os destinos do universo e o mantém em equilíbrio, são as mesmas que regem os destinos humanos. E o homem que se desviar de qualquer um dos seus princípios, estará fadado ao fracasso, à desilusão, podendo mesmo ser vítima daquilo que ele erroneamente chama de espiritualidade. Embora na formação de cada planeta encontremos matérias de densidades diferentes, e cada uma com a sua própria função, elas agem dentro dos princípios das leis do ritmo e do equilíbrio, lutando pela conservação de cada um de seus veículos, para que se mantenham estáveis e sirvam de habitação à humanidade, enquanto ela existir.
O mesmo se dá com a vida humana. Enquanto o homem está encarnado, é seu dever atender às necessidades da matéria física e mantê-la em condições de servir à alma, que dela depende para sua exteriorização. O abandono do corpo físico traz resultados tão nocivos ao seu possuidor, como se usasse seu corpo astral para satisfazer desejos inferiores ou seu corpo mental para corromper os princípios do amor e beleza.
Antigamente se supunha que o martírio do corpo físico por meio de suplícios, usados em certas ordens religiosas, bem como entre os faquires da Índia, era sinal de evolução e realização interior. Sabe-se, no entanto, que estes sacrifícios, ao invés de beneficiar a alma, só a prejudicam. Tudo quanto foge às leis naturais, assemelha-se a pretender enrolar um carretel de trás para diante; em lugar de enchê-lo, misturamos os seus fios, e temos que recomeçar depois o nosso trabalho. Este método não só provoca no indivíduo uma tendência para a inércia, como cria um karma do qual ele terá de se libertar posteriormente.
"Espiritualidade é naturalidade", disse um grande pensador oriental; e poderíamos acrescentar que é também simplicidade. Ser natural e simples é ser espiritual; é vencer de acordo com as leis da natureza, indo em seu encontro e jamais formando ondas e redemoinhos dentro dos quais não só podemos cair, como fazer que outros caiam. Neste último caso, iremos nos emaranhando em karmas individuais e coletivos, prolongando a nossa estadia neste mundo e aumentando as possibilidades de mais dores e maiores sofrimentos.
No mundo físico, a vida requer maior inteligência e sabedoria do que nos outros mundos. No mundo físico estamos limitados a uma matéria mais pesada, incapaz de ceder facilmente aos impulsos de nosso pensamento, e que nem sempre responde aos anseios de nosso Ego, que no entanto dela necessita para sua manifestação neste mundo mais denso. A maioria da humanidade encarnada está limitada pela matéria física de forma tal, que não pode nem mesmo vislumbrar o seu real valor. Em nossa generalidade, aparentamos ser muito piores do que realmente somos; mas quando passamos para o mundo astral, libertos do corpo físico, sentimos melhor a presença de nosso Ego, apesar das limitações ainda ali existentes.
Sabemos que trazemos três espécies de karma: o físico, o emocional e o mental. Quando encarnamos, carregamos sobre os ombros os três de uma só vez. Ao deixarmos o corpo físico, estamos limitados apenas pelo karma astral e mental, e ao abandonarmos o corpo astral, sentimos apenas o peso do karma mental. Embora estes karmas nos acompanhem de vidas anteriores, enquanto não estamos encarnados, não sentimos o peso de uma matéria da qual não temos corpo. Quando renascemos, o átomo permanente é como um disco que traz gravadas as nossas dívidas passadas, e por isso já nascemos em luta e sofrimento. Como a matéria física pouco atende aos reclamos de nosso Espírito, o karma físico da humanidade é geralmente pesado e difícil de esgotar.
Vamos, porém, estudar meios e métodos pelos quais possamos melhorar nossas condições físicas, nascendo menos doentes e libertando-nos de tantas moléstias, para as quais a ciência não encontra cura. Já se diz muito comumente: "É melhor prevenir do que remediar." E se formos mais inteligentes, poderemos não só melhorar as nossas condições físicas nesta encarnação, como também criar melhor karma físico para um futuro nascimento, mais belo e mais saudável.
Se para a vida espiritual necessitamos encontrar o caminho do meio-termo, pois ela é como uma espada de dois gumes que nos pode ferir ou defender por qualquer um deles, a mesma lei rege a vida material ou a vida no plano físico, que necessita de um grande equilíbrio para ser normal. Infelizmente, a humanidade atravessa um momento dificílimo para viver dentro de regras que mantenham em equilíbrio a sua personalidade, porque a sua própria organização social (criação do próprio homem) a arrasta a excessos, tornando-lhe difícil trilhar o caminho do meio, único método justo para atingir sua libertação.
Em tudo na vida atual, há de mais ou há de menos, e compete ao homem, que criou esta situação, lutar para que as gerações futuras encontrem um caminho menos áspero a percorrer e uma situação menos perigosa; libertar-se deste emaranhado de karma, e capacitar-se para cooperar na nova raça. É bem verdade que a vida material depende da vida espiritual, mas também a espiritual está em grande dependência da vida material.
Enquanto uns não têm do que se alimentar, outros se enchem e se envenenam de alimentos inventados, só para gastar o dinheiro que possuem demais e não sabem em que aplicar. Enquanto uns se cobrem em demasia, outros passam frio. É difícil ditar leis individuais; porém, como o homem é o construtor do seu destino, compete-lhe lutar pela formação de uma sociedade mais harmonizada e mais feliz.
A purificação do corpo físico para servir de instrumento da alma, depende de uma verdadeira cultura física. Assim como cuidamos da cultura do espírito, é preciso também cuidarmos da cultura do corpo, e para isto não há melhor indicação que as palavras de Paul Carton, o grande médico naturista, em sua obra Vida Perfeita. É um comentário aos Versos Áureos de Pitágoras, um dos sábios da antiga Grécia, que legou ao mundo ocidental uma das doutrinas mais perfeitas para a libertação da alma pela purificação do corpo e cultivo da inteligência.
Diz Paul Carton: "A saúde do espírito adquire-se pela obediência às leis espirituais, que regulam a elevação dos pensamentos, a formação da inteligência e a educação da vontade. A saúde do corpo físico obtém-se pela pureza e pelo equilíbrio dos humores, graças a uma alimentação pura e moderada, a um exercício regular e proporcionado, e a uma higiene natural. O progresso e a felicidade decorrem fatalmente da perfeição e do emprego harmonioso das forças espirituais, vitais e físicas. Uma educação que despreza os cuidados do corpo ou do espírito, produz discordâncias de caráter, desarmonias de desenvolvimento, e fatalmente desordens de espírito ou do corpo. É assim que homens de um poder mental prodigioso podem arruinar-se prematuramente, por falta de cuidados físicos racionais, e encontrarem-se privados do desenvolvimento integral que podiam conseguir. Do mesmo modo, a educação física demasiado exclusiva acaba em falta de cultura espiritual. Tanto é verdade que não se pode pensar corretamente maltratando o corpo, como também em bom estado orgânico pensando de uma maneira defeituosa."
Ainda é ele quem nos diz: "A supernutrição é um flagelo da humanidade; a insuficiência alimentar é capaz de criar também perturbações fisiológicas e doenças. Não se pode atingir um grau de moralidade elevada, um nível intelectual superior, uma resistência física duradoura, sem ter aprendido a beber e a comer com moderação. A sobriedade é um dos maiores segredos da saúde e da longevidade. Constitui mesmo o melhor dos remédios. O exercídio torna o corpo robusto, ao mesmo tempo que saneia o pensamento e fortifica o caráter. Tudo se torna suportável a quem endureceu a epiderme e fortificou a vontade. É preciso, pois, querer ser forte fisicamente, para ser forte em espírito e não para impor a sua força bruta. É preciso nunca esquecer de ser bom.
A alimentação vegetariana assegura ao organismo material o jogo livre e harmônico das funções e a pureza dos humores. Confere um enrijamento muscular, uma agilidade e uma resitência vital extraordinária. Cria a permanência da saúde. Realiza-se, desta maneira, o regime de alta virtude, que nos permite evoluir sãos e vigorosos, gozando da plenitude e da harmonia das nossas potências físicas e espirituais. Vive-se ao abrigo dos grandes sofrimentos morais, como das graves misérias físicas. Adquire-se a certeza de viver muito tempo, até o esgotamento total das forças pessoais, de gozar uma velhice vigorosa e lúcida, e de morrer suave e serenamente, sem angústias nem azedumes, porque, quando se tem cumprido todas as obrigações primordiais, deixa-se a vida tão facilmente como um fruto maduro que se desprende da árvore, para voltar à terra.
Se realizarmos esta cultura corporal, fácil nos será manter em equilíbrio as emoções e a mente. Para o homem que se levanta às doze horas ou a mulher que despreza os seus deveres maternais entregando-se à vida noturna, um, abandonando-se às devassidões e ao vício, e a outra perdendo o sentido de sua responsabilidade materna, fogem ambos à missão de formadores de uma raça forte e refinada. A vida tem que lhes ser um martírio, um vale de lágrimas, e não este brinco divino que é a oportunidade que Deus colocou em nossas mãos para, por meio de uma vida sã, purificarmos nossa matéria física e melhorarmos as condições kármicas do futuro. Isto não apenas em benefício do nosso Eu pessoal, mas para, pelo princípio da hereditariedade, legarmos a nossos filhos um corpo são, possuidor de uma mente sã, que servirá de templo à alma que nele vier habitar.
É engano supor que o cuidado com o corpo físico é materialidade, pois a alma é tão útil ao aperfeiçoamento do corpo, como o corpo é útil à manifestação da alma. São partes e partícipes do mesmo todo; na realidade, são uma e a mesma coisa. Encarando a vida do ponto de vista do Absoluto, já não separamos corpo e espírito, e sentimos a beleza da criação fornecendo ao homem, para manifestação de sua alma, um corpo cuja máquina é de perfeição extraordinária; um instrumento adequado a nele se abrigarem os poderes da ação, da emoção e da inteligência humana.
É por seu intermédio que o homem realiza as experiências no mundo físico; é através desta matéria que ele consegue acelerar sua evolução. Se o corpo se degenera e se torna um empecilho à evolução humana, a responsabilidade não cabe à natureza, e sim, ao homem que fugiu das suas leis eternas. A natureza é bela, pródiga e benfazeja, mas quando a nossa conduta vai de encontro à sua, que é bela e bonançosa, ela se insurge contra nós, porque deturpamos suas leis e prejudicamos sua ascensão para o alto. Ela involui e evolui, e do homem em que já está manifestada com os poderes do espírito, espera o seu auxílio e nunca obstáculos ao seu desenvolvimento.
Vivendo de acordo com as leis da natureza, voltando-se mais para ela, pondo-se em contato mais direto com a luz solar, o perfume das matas, a beleza das flores, o encantador gorjeio dos pássaros, a simplicidade do viver campestre sem os atavios dos grandes centros, e utilizando-se de uma alimentação pura e da higiene natural, o homem receberá, como recompensa, um corpo capaz de revelar todos os poderes do espírito e de ser um instrumento útil à formação da nova raça.
Referência:
[1] Cinira Riedel de Figueredo, O Corpo Físico, O Pensamento [Periódico do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento], pp. 83-88, março/abril 2006.
As leis que regem os destinos do universo e o mantém em equilíbrio, são as mesmas que regem os destinos humanos. E o homem que se desviar de qualquer um dos seus princípios, estará fadado ao fracasso, à desilusão, podendo mesmo ser vítima daquilo que ele erroneamente chama de espiritualidade. Embora na formação de cada planeta encontremos matérias de densidades diferentes, e cada uma com a sua própria função, elas agem dentro dos princípios das leis do ritmo e do equilíbrio, lutando pela conservação de cada um de seus veículos, para que se mantenham estáveis e sirvam de habitação à humanidade, enquanto ela existir.
O mesmo se dá com a vida humana. Enquanto o homem está encarnado, é seu dever atender às necessidades da matéria física e mantê-la em condições de servir à alma, que dela depende para sua exteriorização. O abandono do corpo físico traz resultados tão nocivos ao seu possuidor, como se usasse seu corpo astral para satisfazer desejos inferiores ou seu corpo mental para corromper os princípios do amor e beleza.
Antigamente se supunha que o martírio do corpo físico por meio de suplícios, usados em certas ordens religiosas, bem como entre os faquires da Índia, era sinal de evolução e realização interior. Sabe-se, no entanto, que estes sacrifícios, ao invés de beneficiar a alma, só a prejudicam. Tudo quanto foge às leis naturais, assemelha-se a pretender enrolar um carretel de trás para diante; em lugar de enchê-lo, misturamos os seus fios, e temos que recomeçar depois o nosso trabalho. Este método não só provoca no indivíduo uma tendência para a inércia, como cria um karma do qual ele terá de se libertar posteriormente.
"Espiritualidade é naturalidade", disse um grande pensador oriental; e poderíamos acrescentar que é também simplicidade. Ser natural e simples é ser espiritual; é vencer de acordo com as leis da natureza, indo em seu encontro e jamais formando ondas e redemoinhos dentro dos quais não só podemos cair, como fazer que outros caiam. Neste último caso, iremos nos emaranhando em karmas individuais e coletivos, prolongando a nossa estadia neste mundo e aumentando as possibilidades de mais dores e maiores sofrimentos.
No mundo físico, a vida requer maior inteligência e sabedoria do que nos outros mundos. No mundo físico estamos limitados a uma matéria mais pesada, incapaz de ceder facilmente aos impulsos de nosso pensamento, e que nem sempre responde aos anseios de nosso Ego, que no entanto dela necessita para sua manifestação neste mundo mais denso. A maioria da humanidade encarnada está limitada pela matéria física de forma tal, que não pode nem mesmo vislumbrar o seu real valor. Em nossa generalidade, aparentamos ser muito piores do que realmente somos; mas quando passamos para o mundo astral, libertos do corpo físico, sentimos melhor a presença de nosso Ego, apesar das limitações ainda ali existentes.
Sabemos que trazemos três espécies de karma: o físico, o emocional e o mental. Quando encarnamos, carregamos sobre os ombros os três de uma só vez. Ao deixarmos o corpo físico, estamos limitados apenas pelo karma astral e mental, e ao abandonarmos o corpo astral, sentimos apenas o peso do karma mental. Embora estes karmas nos acompanhem de vidas anteriores, enquanto não estamos encarnados, não sentimos o peso de uma matéria da qual não temos corpo. Quando renascemos, o átomo permanente é como um disco que traz gravadas as nossas dívidas passadas, e por isso já nascemos em luta e sofrimento. Como a matéria física pouco atende aos reclamos de nosso Espírito, o karma físico da humanidade é geralmente pesado e difícil de esgotar.
Vamos, porém, estudar meios e métodos pelos quais possamos melhorar nossas condições físicas, nascendo menos doentes e libertando-nos de tantas moléstias, para as quais a ciência não encontra cura. Já se diz muito comumente: "É melhor prevenir do que remediar." E se formos mais inteligentes, poderemos não só melhorar as nossas condições físicas nesta encarnação, como também criar melhor karma físico para um futuro nascimento, mais belo e mais saudável.
Se para a vida espiritual necessitamos encontrar o caminho do meio-termo, pois ela é como uma espada de dois gumes que nos pode ferir ou defender por qualquer um deles, a mesma lei rege a vida material ou a vida no plano físico, que necessita de um grande equilíbrio para ser normal. Infelizmente, a humanidade atravessa um momento dificílimo para viver dentro de regras que mantenham em equilíbrio a sua personalidade, porque a sua própria organização social (criação do próprio homem) a arrasta a excessos, tornando-lhe difícil trilhar o caminho do meio, único método justo para atingir sua libertação.
Em tudo na vida atual, há de mais ou há de menos, e compete ao homem, que criou esta situação, lutar para que as gerações futuras encontrem um caminho menos áspero a percorrer e uma situação menos perigosa; libertar-se deste emaranhado de karma, e capacitar-se para cooperar na nova raça. É bem verdade que a vida material depende da vida espiritual, mas também a espiritual está em grande dependência da vida material.
Enquanto uns não têm do que se alimentar, outros se enchem e se envenenam de alimentos inventados, só para gastar o dinheiro que possuem demais e não sabem em que aplicar. Enquanto uns se cobrem em demasia, outros passam frio. É difícil ditar leis individuais; porém, como o homem é o construtor do seu destino, compete-lhe lutar pela formação de uma sociedade mais harmonizada e mais feliz.
A purificação do corpo físico para servir de instrumento da alma, depende de uma verdadeira cultura física. Assim como cuidamos da cultura do espírito, é preciso também cuidarmos da cultura do corpo, e para isto não há melhor indicação que as palavras de Paul Carton, o grande médico naturista, em sua obra Vida Perfeita. É um comentário aos Versos Áureos de Pitágoras, um dos sábios da antiga Grécia, que legou ao mundo ocidental uma das doutrinas mais perfeitas para a libertação da alma pela purificação do corpo e cultivo da inteligência.
Diz Paul Carton: "A saúde do espírito adquire-se pela obediência às leis espirituais, que regulam a elevação dos pensamentos, a formação da inteligência e a educação da vontade. A saúde do corpo físico obtém-se pela pureza e pelo equilíbrio dos humores, graças a uma alimentação pura e moderada, a um exercício regular e proporcionado, e a uma higiene natural. O progresso e a felicidade decorrem fatalmente da perfeição e do emprego harmonioso das forças espirituais, vitais e físicas. Uma educação que despreza os cuidados do corpo ou do espírito, produz discordâncias de caráter, desarmonias de desenvolvimento, e fatalmente desordens de espírito ou do corpo. É assim que homens de um poder mental prodigioso podem arruinar-se prematuramente, por falta de cuidados físicos racionais, e encontrarem-se privados do desenvolvimento integral que podiam conseguir. Do mesmo modo, a educação física demasiado exclusiva acaba em falta de cultura espiritual. Tanto é verdade que não se pode pensar corretamente maltratando o corpo, como também em bom estado orgânico pensando de uma maneira defeituosa."
Ainda é ele quem nos diz: "A supernutrição é um flagelo da humanidade; a insuficiência alimentar é capaz de criar também perturbações fisiológicas e doenças. Não se pode atingir um grau de moralidade elevada, um nível intelectual superior, uma resistência física duradoura, sem ter aprendido a beber e a comer com moderação. A sobriedade é um dos maiores segredos da saúde e da longevidade. Constitui mesmo o melhor dos remédios. O exercídio torna o corpo robusto, ao mesmo tempo que saneia o pensamento e fortifica o caráter. Tudo se torna suportável a quem endureceu a epiderme e fortificou a vontade. É preciso, pois, querer ser forte fisicamente, para ser forte em espírito e não para impor a sua força bruta. É preciso nunca esquecer de ser bom.
A alimentação vegetariana assegura ao organismo material o jogo livre e harmônico das funções e a pureza dos humores. Confere um enrijamento muscular, uma agilidade e uma resitência vital extraordinária. Cria a permanência da saúde. Realiza-se, desta maneira, o regime de alta virtude, que nos permite evoluir sãos e vigorosos, gozando da plenitude e da harmonia das nossas potências físicas e espirituais. Vive-se ao abrigo dos grandes sofrimentos morais, como das graves misérias físicas. Adquire-se a certeza de viver muito tempo, até o esgotamento total das forças pessoais, de gozar uma velhice vigorosa e lúcida, e de morrer suave e serenamente, sem angústias nem azedumes, porque, quando se tem cumprido todas as obrigações primordiais, deixa-se a vida tão facilmente como um fruto maduro que se desprende da árvore, para voltar à terra.
Se realizarmos esta cultura corporal, fácil nos será manter em equilíbrio as emoções e a mente. Para o homem que se levanta às doze horas ou a mulher que despreza os seus deveres maternais entregando-se à vida noturna, um, abandonando-se às devassidões e ao vício, e a outra perdendo o sentido de sua responsabilidade materna, fogem ambos à missão de formadores de uma raça forte e refinada. A vida tem que lhes ser um martírio, um vale de lágrimas, e não este brinco divino que é a oportunidade que Deus colocou em nossas mãos para, por meio de uma vida sã, purificarmos nossa matéria física e melhorarmos as condições kármicas do futuro. Isto não apenas em benefício do nosso Eu pessoal, mas para, pelo princípio da hereditariedade, legarmos a nossos filhos um corpo são, possuidor de uma mente sã, que servirá de templo à alma que nele vier habitar.
É engano supor que o cuidado com o corpo físico é materialidade, pois a alma é tão útil ao aperfeiçoamento do corpo, como o corpo é útil à manifestação da alma. São partes e partícipes do mesmo todo; na realidade, são uma e a mesma coisa. Encarando a vida do ponto de vista do Absoluto, já não separamos corpo e espírito, e sentimos a beleza da criação fornecendo ao homem, para manifestação de sua alma, um corpo cuja máquina é de perfeição extraordinária; um instrumento adequado a nele se abrigarem os poderes da ação, da emoção e da inteligência humana.
É por seu intermédio que o homem realiza as experiências no mundo físico; é através desta matéria que ele consegue acelerar sua evolução. Se o corpo se degenera e se torna um empecilho à evolução humana, a responsabilidade não cabe à natureza, e sim, ao homem que fugiu das suas leis eternas. A natureza é bela, pródiga e benfazeja, mas quando a nossa conduta vai de encontro à sua, que é bela e bonançosa, ela se insurge contra nós, porque deturpamos suas leis e prejudicamos sua ascensão para o alto. Ela involui e evolui, e do homem em que já está manifestada com os poderes do espírito, espera o seu auxílio e nunca obstáculos ao seu desenvolvimento.
Vivendo de acordo com as leis da natureza, voltando-se mais para ela, pondo-se em contato mais direto com a luz solar, o perfume das matas, a beleza das flores, o encantador gorjeio dos pássaros, a simplicidade do viver campestre sem os atavios dos grandes centros, e utilizando-se de uma alimentação pura e da higiene natural, o homem receberá, como recompensa, um corpo capaz de revelar todos os poderes do espírito e de ser um instrumento útil à formação da nova raça.
Referência:
[1] Cinira Riedel de Figueredo, O Corpo Físico, O Pensamento [Periódico do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento], pp. 83-88, março/abril 2006.