sábado, janeiro 31, 2009

 

Poluição e Longevidade

"Adotar medidas de combate à poluição ambiental é questão de saúde pública" [1]

A respiração é a mais imprescindível das funções fisiológicas. Cinco minutos sem respirar, o cérebro vai para o espaço, e adeus condição humana.

Que a poluição causada por partículas sólidas em suspensão, ozônio, dióxido de enxofre, óxido nitroso e monóxido de carbono, provoca problemas de saúde que vão além de irritação na garganta e ardência nos olhos, ninguém mais contesta.

O impacto a curto prazo da poluição nos índices de mortalidade foi avaliado em 124 cidades grandes da Europa e América do Norte. Aumentos da concentração de partículas sólidas da ordem de dez microgramas (micrograma é a milionésima parte do grama) por metro cúbico de ar fazem com que a mortalidade geral da população cresça de 0,2% a 0,6%.

Os trabalhos sobre os efeitos tardios da exposição ao ar poluído também chegaram a conclusões semelhantes. Os mais importantes foram realizados pela Universidade Harvard, em seis cidades americanas, e pela American Cancer Society, que acompanhou o destino de 1,1 milhão de pessoas a partir dos anos 80.

Inquéritos conduzidos em diversos países industrializados demonstraram que a concentração de poluentes no ar está diretamente associada à diminuição da expectativa de vida: redução média de 13 meses na Holanda, 15 meses na Finlândia e nove meses no Canadá.

A Organização Mundial de Saúde calcula que 1,4% de todas as mortes e 0,8% dos anos de trabalhos perdidos por doenças sejam consequência direta da poluição do ar.

Faltava até hoje, porém, a comprovação do fenômeno oposto, isto é, que a redução da quantidade de poluentes fosse capaz de reverter os malefícios do ar mais poluído.

Uma das revistas científicas de maior prestígio ("The New England Journal of Medicine") publicou nesta semana o primeiro estudo planejado com o objetivo específico de esclarecer essa questão.

Os autores analisaram 51 áreas metropolitanas, ao redor das maiores cidades do território americano. Nelas, levantaram os dados referentes à expectativa de vida, condição socioeconômica dos habitantes, nível educacional, número de fumantes, etnia e demais características demográficas.

Os dados sobre os níveis de poluição foram conseguidos junto às agências oficiais, entre o final dos anos 70 até o início dos anos 2000. Graças ao controle exercido pelos órgãos competentes, a partir dos anos 80 e 90 a concentração de partículas poluentes no ar diminuiu em todas as áreas estudadas.

Os resultados revelaram que programas de combate à poluição, capazes de reduzir dez microgramas de partículas poluentes por metro cúbico de ar, provocam um aumento médio de expectativa de vida da população da ordem de 7,3 meses.

No período de 1980 a 2000, a expectativa média de vida nos EUA aumentou 2,74 anos. A redução dos níveis de poluição ocorrida nesses 20 anos foi responsável por cerca de 18% desse aumento.

A parte do corpo que apresenta maior superfície de contato com o exterior não é a pele, são os pulmões. Se fosse possível esticá-los, eles cobririam uma quadra de tênis.

Para protegê-los, o aparelho respiratório é dotado de pelos no interior do nariz (nas narinas), cílios que revestem as paredes internas dos brônquios e células que produzem muco de consistência viscosa. As partículas grandes suspensas no ar inalado ficam presas nos pelos. As menores, mais finas, acabam atoladas no muco, e são empurradas para fora pelo movimento permanente dos cílios (compara-se ao do vento num canavial).

Apesar da eficiência desses mecanismos, algumas partículas sólidas conseguem chegar nos alvéolos pulmonares, porque são muito finas ou porque os cílios funcionam mal (como os dos fumantes).

Nos alvéolos, a poluição causa um processo inflamatório que dificulta as trocas de oxigênio e gás carbônico, agravando os casos de doença pulmonar obstrutivo-crônicas em pessoas suscetíveis.

Esse processo inflamatório provoca liberação de mediadores que vão agir nas placas de aterosclerose depositadas nas artérias, aumentando o risco de ataques cardíacos, derrames cerebrais e obstruções de artérias periféricas.

Adotar medidas de combate à poluição ambiental não é reivindicação de cidadãos ecointransigentes, é questão de saúde pública que afeta a duração da vida de todos nós. Quanto mais limpo o ar de uma cidade, maior é a longevidade dos que vivem nela.

Referência:
[1] Drauzio Varella, Poluição e longevidade, Jornal Folha de S. Paulo, Caderno Ilustrada, pg. E10, 31 de janeiro de 2009.

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