terça-feira, setembro 22, 2009
Brasil, o maior consumidor mundial de agrotóxicos
Abaixo um artigo do agricultor brasileiro, de origem holandesa, Joop Stoltenborg comentando sobre a sua experiência com o uso de agrotóxicos na agricultura [1]. O meu primeiro contato com agrotóxicos aconteceu quando estava com quase 6 anos, em 1945, no final da 2ª Guerra Mundial. O governo da Holanda livre decidiu levar todas as crianças das escolas e jardins da infância para tomar banho em lugares improvisados com chuveiros de água quente. Depois de secar o corpo e se vestir, aplicaram um pó branco, DDT, com um polvilhador manual, cobrindo todo corpo, inclusive os cabelos. Conseguiram eliminar os piolhos, sarna etc. Este mesmo DDT foi o começo da introdução do veneno na agricultura. Depois chegavam, a cada ano, novidades no mundo agrícola. Lembro-me do parathion que chegou em frascos pequenos junto com as máquinas costais de pulverizar. Aplicamos parathion nas beterrabas contra larva minadora sem máscara ou outra proteção e sem saber dos perigos dos agrotóxicos. Chegaram os herbicidas em forma de um pó amarelo que era tão “sistêmico” que penetrava nas mãos e embaixo das unhas ficando meses. No domingo depois da missa comparávamos com os amigos, quem tinha mãos e unhas mais amarelas. Nós nos orgulhávamos de fazer parte da galera dos jovens agricultores modernos. Chegou depois o 2-4 D, outro herbicida poderoso, que continua sendo usado. Reconheço até hoje o cheiro de muitos tipos de agrotóxicos quando vou a uma propriedade onde usam estes produtos. A inalação do cheiro vem acompanhada com a sensação das glândulas aumentadas e dor de cabeça. Minha maior experiência com veneno agrícola aconteceu mesmo aqui, no Brasil, quando trabalhei durante muitos anos com todo tipo de agrotóxico. Vi centenas de peixes mortos quando a chuva pesada lavava uma plantação recém pulverizada levando a água contaminada para os rios e açudes. Também vi muitos pássaros mortos que desenterraram e comeram sementes plantadas com veneno. Vi como um agrotóxico matou um burro que, no trabalho de puxar um sulcador, inalou tantos gases tóxicos de um dos mais terríveis venenos sistêmicos, Temik, que caiu morto no final da tarde. Tivemos muitos incidentes graves com herbicidas também matando ou prejudicando a própria cultura plantada. Certo ano levamos 5 pessoas intoxicadas para o hospital. Elas plantaram milho tratado com o terrível inseticida Furadan. Apesar de usar máscaras, elas inalaram mesmo assim, de alguma forma, um pouco do produto. Após este incidente abolimos de vez o seu uso. Tenho um cunhado que nos anos sessenta aplicou veneno Folidol nos tomates com uma máquina costal que estava com vazamento, molhando assim as costas dele. O produto sistêmico penetrou no seu corpo, atingindo os rins. Ficou meses em repouso absoluto e já falavam na necessidade de um transplante em que sua irmã Tini (hoje minha esposa) seria a possível doadora. Mas, graças a Deus, a situação dele reverteu. Com essas experiências muito negativas, mudei para o orgânico, um caminho difícil. Os produtores orgânicos ficam muito sozinhos, quase não existe apoio das universidades e pesquisadores. Por que será? Mesmo assim, conseguir produzir e comercializar um alimento que só traz saúde dá muita satisfação. Infelizmente o uso de veneno na lavoura só aumentou. Em 2008 o Brasil ganhou o título nada honroso de ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, comprando até muitos venenos proibidos em outros países. Razão a mais para consumir produtos orgânicos. |
Joop Stoltenborg Referência: [1] http://www.aboaterra.com.br/artigos/?id=581 |