segunda-feira, fevereiro 13, 2012
Epicteto - 32
Considere o que vem primeiro, depois o que se segue, e então aja
Cultive o hábito de pesquisar e testar uma ação previsível antes de pô-la em prática. Antes de agir, recue e considere a situação todaa a fim de não agir precipitadamente, por puro impulso. Determine o que acontecerá primeiro, pense no que resultará de sua ação e então aja de acordo com o que você aprendeu.
Quando agimos sem circunspecção pode acontecer de começarmos uma tarefa com grande entusiasmo e depois, ao sobrevirem consequências imprevistas ou indesejadas, batemos em retirada envergonhados e sermos tomados pelo remorso: "Eu teria feito isso; eu poderia ter feito isso; eu devia ter feito isso de modo diferente".
Suponhamos que você quisesse sair vitorioso nas Olimpíadas. Isso é ótimo, mas considere amplamente aquilo em que você está se envolvendo. O que esse desejo acarreta? O que deve acontecer primeiro? E depois? O que será exigido de você? E o que mais decorre disso? Seria toda essa linha de ação realmente benéfica para você? Se for, vá em frente.
Se você deseja vencer nos Jogos Olímpicos, para preparar-se adequadamente será necessário seguir um programa rígido que o levará ao limite de sua resistência. Você terá de se submeter a regras exigentes, seguir uma dieta adequada, ficar longe de doces e sobremesas, exercitar-se vigorosamente por um tempo estipulado, tanto no calor quanto no frio, e parar de beber. Será preciso seguir as orientações do treinador, como se ele fosse seu médico. Então, quando você estiver realmente na competição, há uma boa chance de você ser arremessado num fosso. Você poderá machucar um braço, torcer o tornozelo, cair com o rosto na lama e ainda por cima acabar sendo desclassificado.
Se depois de ter refletido sobre isso tudo - ciente de todas as coisas que podem acontecer e das consequências que elas acarretam - você ainda estiver firmemente decidido, então ponha em prática seu julgamento. Se o quadro como um todo ainda lhe parecer benéfico, então entre para os Jogos Olímpicos, de corpo e alma.
Ao considerar as possibilidades você se distingue do mero diletante, da pessoa que faz as coisas enquanto elas são cômodas ou interessantes. Isso não é nobre. Examine tudo meticulosamente e com um empenho absoluto! Do contrário você será como uma criança que faz de conta que é ora um lutador romano, ora um soldado, ora um músico, ora um ator numa tragédia.
A menos que nos doemos inteiramente àquilo a que nos dedicamos, seremos vazios, superficiais e nunca desenvolveremos nossos dons naturais. Todos nós conhecemos pessoas que, como macacos, imitam tudo o que parece ser novo e vistoso num certo momento. Mas depois então o entusiasmo e os esforços fenecem; elas abndonam seus projetos assim que eles se tornam conhecidos demais ou exigentes.
Um espírito desanimado não tem poder. Esforços hesitantes levam a resultados incertos. As pessoas comuns iniciam suas diligências precipitadamente e sem cuidado. Talvez elas se deparem com uma figura exemplar como Eufrates e dele retirem a inspiração para se exceder a si mesmas. É muito bom fazer isso, mas pense primeiro na verdadeira natureza de suas aspirações e pese-as a partir das capacidades de que dispõe.
Seja honesto consigo mesmo. Avalie com clareza suas forças e fraquezas. Você tem o que é exigido para competir? Para ser lutador romano, por exemplo, é preciso ter uma força extraordinária nos ombros, nas costas e nas coxas. Você tem a destreza física e a agilidade para estar entre os melhores do esporte? Uma coisa é desejar ser campeão ou fazer algo com facilidade; outra é fazê-lo realmente e com extrema habilidade. Pessoas diferentes foram feitas para coisas diferentes.
A obtenção do sucesso numa determinada área exige também, além de capacidade, alguns sacrifícios. Se você deseja se tornar proficiente na arte de viver com sabedoria, acha que poderá comer e beber em excesso? Pensa que poderá sucumbir à raiva e aos hábitos mais comuns de frustração e infelicidade? Não. Se a verdadeira sabedoria é seu objetivo e você é sincero, terá muito o que trabalhar. Precisará superar muitos desejos pouco saudáveis e reações por reflexo. Deverá repensar suas relações com as outras pessoas. Seus amigos e sócios são pessoas dignas? A influência deles - os hábitos, valores e comportamentos dessas pessoas - eleva-o ou reforça os hábitos desleixados dos quais você procura se afastar? A vida de sabedoria, como qualquer outra coisa, tem seu preço. Talvez você seja ridicularizado ao segui-la e até tenha que enfrentar o pior em todos os setores de sua vida pública, inclusive na carreira, na posição social e em termos legais.
Uma vez que você refletiu com propriedade sobre todos os detalhes que compõem o esforço para viver uma vida superior, arrisque um esforço supremo. Faça os sacrifícios necessários que são o preço da mais valiosa das metas: a liberdade, a leveza de espírito e a tranquilidade. Se, no entanto, depois de ter honestamente avaliado seu ânimo você concluir que não está pronto, livre-se da ilusão e caminhe por uma estrada diferente e mais realista.
Querendo ser algo que não é ou se empenhando em alguma coisa completamente além de sua capacidade presente, você acabará por se tornar um patético diletante, tentando inicialmente ser uma pessoa sábia, depois um burocrata, depois um político, depois um líder civil. Esses papeis não são compatíveis. Você não pode ficar alçando vôo em infinitas direções, por mais que elas sejam atraentes, e ao mesmo tempo viver uma vida harmoniosa e frutífera.
Você só pode ser uma pessoa - uma pessoa boa ou uma pessoa má. Sua decisão será essencialmente entre duas alternativas: desenvolver a razão aderindo à verdade ou ansiar por coisas exteriores. A escolha é única e absolutamente sua. Você tanto pode colocar suas aptidões à disposição de um trabalho interior quanto pode perder-se com coisas exteriores, o que vale dizer: ser uma pessoa sábia ou seguir o caminho comum dos medíocres.
Fonte: Sharon Lebell, O Pequeno Livro da Vida, Editora Best Seller, 1994 (do original em inglês). ISBN 85-7123-482-5.
Quando agimos sem circunspecção pode acontecer de começarmos uma tarefa com grande entusiasmo e depois, ao sobrevirem consequências imprevistas ou indesejadas, batemos em retirada envergonhados e sermos tomados pelo remorso: "Eu teria feito isso; eu poderia ter feito isso; eu devia ter feito isso de modo diferente".
Suponhamos que você quisesse sair vitorioso nas Olimpíadas. Isso é ótimo, mas considere amplamente aquilo em que você está se envolvendo. O que esse desejo acarreta? O que deve acontecer primeiro? E depois? O que será exigido de você? E o que mais decorre disso? Seria toda essa linha de ação realmente benéfica para você? Se for, vá em frente.
Se você deseja vencer nos Jogos Olímpicos, para preparar-se adequadamente será necessário seguir um programa rígido que o levará ao limite de sua resistência. Você terá de se submeter a regras exigentes, seguir uma dieta adequada, ficar longe de doces e sobremesas, exercitar-se vigorosamente por um tempo estipulado, tanto no calor quanto no frio, e parar de beber. Será preciso seguir as orientações do treinador, como se ele fosse seu médico. Então, quando você estiver realmente na competição, há uma boa chance de você ser arremessado num fosso. Você poderá machucar um braço, torcer o tornozelo, cair com o rosto na lama e ainda por cima acabar sendo desclassificado.
Se depois de ter refletido sobre isso tudo - ciente de todas as coisas que podem acontecer e das consequências que elas acarretam - você ainda estiver firmemente decidido, então ponha em prática seu julgamento. Se o quadro como um todo ainda lhe parecer benéfico, então entre para os Jogos Olímpicos, de corpo e alma.
Ao considerar as possibilidades você se distingue do mero diletante, da pessoa que faz as coisas enquanto elas são cômodas ou interessantes. Isso não é nobre. Examine tudo meticulosamente e com um empenho absoluto! Do contrário você será como uma criança que faz de conta que é ora um lutador romano, ora um soldado, ora um músico, ora um ator numa tragédia.
A menos que nos doemos inteiramente àquilo a que nos dedicamos, seremos vazios, superficiais e nunca desenvolveremos nossos dons naturais. Todos nós conhecemos pessoas que, como macacos, imitam tudo o que parece ser novo e vistoso num certo momento. Mas depois então o entusiasmo e os esforços fenecem; elas abndonam seus projetos assim que eles se tornam conhecidos demais ou exigentes.
Um espírito desanimado não tem poder. Esforços hesitantes levam a resultados incertos. As pessoas comuns iniciam suas diligências precipitadamente e sem cuidado. Talvez elas se deparem com uma figura exemplar como Eufrates e dele retirem a inspiração para se exceder a si mesmas. É muito bom fazer isso, mas pense primeiro na verdadeira natureza de suas aspirações e pese-as a partir das capacidades de que dispõe.
Seja honesto consigo mesmo. Avalie com clareza suas forças e fraquezas. Você tem o que é exigido para competir? Para ser lutador romano, por exemplo, é preciso ter uma força extraordinária nos ombros, nas costas e nas coxas. Você tem a destreza física e a agilidade para estar entre os melhores do esporte? Uma coisa é desejar ser campeão ou fazer algo com facilidade; outra é fazê-lo realmente e com extrema habilidade. Pessoas diferentes foram feitas para coisas diferentes.
A obtenção do sucesso numa determinada área exige também, além de capacidade, alguns sacrifícios. Se você deseja se tornar proficiente na arte de viver com sabedoria, acha que poderá comer e beber em excesso? Pensa que poderá sucumbir à raiva e aos hábitos mais comuns de frustração e infelicidade? Não. Se a verdadeira sabedoria é seu objetivo e você é sincero, terá muito o que trabalhar. Precisará superar muitos desejos pouco saudáveis e reações por reflexo. Deverá repensar suas relações com as outras pessoas. Seus amigos e sócios são pessoas dignas? A influência deles - os hábitos, valores e comportamentos dessas pessoas - eleva-o ou reforça os hábitos desleixados dos quais você procura se afastar? A vida de sabedoria, como qualquer outra coisa, tem seu preço. Talvez você seja ridicularizado ao segui-la e até tenha que enfrentar o pior em todos os setores de sua vida pública, inclusive na carreira, na posição social e em termos legais.
Uma vez que você refletiu com propriedade sobre todos os detalhes que compõem o esforço para viver uma vida superior, arrisque um esforço supremo. Faça os sacrifícios necessários que são o preço da mais valiosa das metas: a liberdade, a leveza de espírito e a tranquilidade. Se, no entanto, depois de ter honestamente avaliado seu ânimo você concluir que não está pronto, livre-se da ilusão e caminhe por uma estrada diferente e mais realista.
Querendo ser algo que não é ou se empenhando em alguma coisa completamente além de sua capacidade presente, você acabará por se tornar um patético diletante, tentando inicialmente ser uma pessoa sábia, depois um burocrata, depois um político, depois um líder civil. Esses papeis não são compatíveis. Você não pode ficar alçando vôo em infinitas direções, por mais que elas sejam atraentes, e ao mesmo tempo viver uma vida harmoniosa e frutífera.
Você só pode ser uma pessoa - uma pessoa boa ou uma pessoa má. Sua decisão será essencialmente entre duas alternativas: desenvolver a razão aderindo à verdade ou ansiar por coisas exteriores. A escolha é única e absolutamente sua. Você tanto pode colocar suas aptidões à disposição de um trabalho interior quanto pode perder-se com coisas exteriores, o que vale dizer: ser uma pessoa sábia ou seguir o caminho comum dos medíocres.
Fonte: Sharon Lebell, O Pequeno Livro da Vida, Editora Best Seller, 1994 (do original em inglês). ISBN 85-7123-482-5.
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