terça-feira, fevereiro 14, 2012

 

Epicteto - 33


Nossas obrigações são reveladas em nossas relações uns com os outros


Ao contrário de uma entidade isolada, você é parte do cosmo singular e insubstituível. Não esqueça isso. Você é uma peça essencial no quebra-cabeça da humanidade. Cada um de nós é parte de uma comunidade humana perfeitamente ordenada, intrincada e vasta. Mas onde você se encaixa nessa teia da humanidade? Por quem você é notado?

Busque suas ligações com os outros e comece a entendê-las. Localizamo-nos adequadamente no esquema cósmico reconhecendo as relações naturais que mantemos uns com os outros e assim identificando nossas obrigações. Nossas obrigações emergem naturalmente de relacionamentos fundamentais como a família, os vizinhos, os locais de trabalho, o estado e o país. Faça o hábito regular de pensar sobre seus papéis - de pai, mãe, criança, vizinho, cidadão, líder - e as obrigações naturais que lhes são intrínsecas. Uma vez que você souber quem é e a quem está ligado, saberá o que fazer.

Se um homem é seu pai, por exemplo, certos direitos emocionais e práticos decorrem disso. O fato de ele ser seu pai implica uma ligação fundamental e durável entre vocês dois. Você está naturalmente obrigado a se importar com ele, ouvir seu conselho, exercitar a paciência diante de seus pontos de vista e respeitar sua orientação.

No entanto, suponhamos que ele não seja um bom pai. Talvez ele seja insensato, ignorante, mal-educado, ou demonstre pontos de vista bem diferentes dos seus. Será que a natureza dá a cada um o pai ideal ou simplesmente um pai? Quando se trata da obrigação fundamental de filho ou de filha, o caráter de seu pai, os hábitos e a personalidade dele são coisas secundárias. A ordem divina não designa as pessoas e as circunstâncias segundo nossos gostos. Quer você o ache agradável ou não, esse homem é, afinal de contas, seu pai e você deve se submeter a todos os deveres filiais.

Suponhamos que você tenha um irmão ou irmã que o trata mal. Que diferença isso faz? Ainda assim há um imperativo moral de reconhecer e manter sua obrigação fundamental para com ele ou ela. Concentre-se em se manter fiel a seu propósito superior, e não no que ele ou ela faz. Seu propósito deve ser buscar harmonia com a própria natureza. Pois essa é a verdadeira estrada para a liberdade. Deixe os outros agirem como quiserem - isso não está sob seu controle, e assim não lhe diz respeito. Entenda que a natureza como um todo está ordenada de acordo com a razão, mas nem tudo na natureza é razoável.

Quando você está empenhado em agir como uma pessoa sábia e decente, buscando fazer com que suas intenções e atos correspondam à vontade divina, você não se sente vítima das palavras ou ações de outras pessoas. Na pior das hipóteses, essas palavras e ações lhe parecerão risíveis ou lamentáveis.

A não ser por uma violência física extrema, as outras pessoas não podem ofendê-lo, a menos que você lhes permita isso. E isso é verdade mesmo que a pessoa seja pai, mãe, irmão, irmã, professor ou empregado. Não consinta em ser ofendido e você não será ofendido - essa é uma escolha sobre a qual você tem controle.

Muitas pessoas tendem a se iludir, pensando que a liberdade está em fazer aquilo que nos traz uma sensação gostosa ou o que propicia a comodidade e a facilidade. A verdade é que as pessoas que submetem a razão aos sentimentos momentâneos são verdadeiras escravas de seus desejos e aversões. São mal preparadas para agir de modo eficaz e com dignidade quando surgem desafios inesperados, como inevitavelmente surgirão.

A liberdade autêntica coloca-nos diante de exigências. Ao descobrirmos e compreendermos nossas relações fundamentais uns com os outros e ao cumprirmos nossas tarefas com prazer, a verdadeira liberdade, pela qual todos anseiam, será de fato possível.

Fonte: Sharon Lebell, O Pequeno Livro da Vida, Editora Best Seller, 1994 (do original em inglês). ISBN 85-7123-482-5.

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