segunda-feira, maio 31, 2021

 

Quiroga - 4765

 
O ENCANTAMENTO DO SOFRER

 
Vamos ser sinceros a respeito de nossa atuação como humanos entre o céu e a terra, apesar de todos nossos defeitos e imperfeições, há algo que sabemos fazer muito bem, sofrer. 
 
Somos destros na arte de sofrer e de provocar sofrimento, temos um embasamento atávico tão entranhado, que o consideramos natural, é um conhecimento aprimorado ao longo de milênios, uma excelência no sofrimento.
 
Ponto negativo para nossa evolução, porque evoluímos na mesma medida em que nos livramos do sinistro encantamento do sofrer, ao qual consciente e inconscientemente recorremos para atrair a atenção sobre nós, sobre nossa condição, e essa, no mais das vezes, se vista objetivamente, tem conserto relativamente fácil. 
 
Porém, em vez de nos dedicarmos ao conserto da situação penosa em que nos encontramos, recorremos a esse sinistro encantamento, dramatizando nossa condição. 
 
Somos excelentes roteiristas de seriados dramáticos.
 
De todo modo, faça-se justiça, é certo que nos sobram argumentos e justificativas para nos angustiarmos e sofrermos, mas não menos sólidos e vigorosos seriam os argumentos que nos demonstrariam um cenário em que o exercício de sofrer é um luxo no qual investimos enormes recursos materiais e espirituais. 
 
Nossa evolução, nossa espiritualidade, nosso progresso, continuarão presos a essa dramatização perpétua, porque ela é um produto de nossa maravilhosa criatividade, nós mesmos inventamos de que aqui na Terra se nasça para sofrer. 
 
Em algum momento teremos de nos enfastiar desse engodo e sermos firmes, desfazendo essa amizade tola com o sofrer.
 
Isso requer método e persistência.

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