quinta-feira, novembro 30, 2023

 

Quiroga - 5648

 A NEUROSE HUMANA

Nossa humanidade entoa clamores ao céu para que o sofrimento diminua, e faz isso com vigor e determinação, parecendo que, de fato, quer se livrar da dor e experimentar o regozijo de levitar despreocupadamente no infinito Universo, mas nossa relação com o sofrimento é ambígua e paradoxal, porque tanto queremos nos livrar quanto também nos apegamos ao sofrimento, e isso pela mera razão de que, convivendo com a dor e diversos tipos de angústia com tamanha frequência, essas condições se tornam familiares, e tudo que é familiar aconchega, por mais horrível que seja, e tem mais!, a dor parece ser a única experiência intensa e verdadeira que temos como referência, a única que resiste à banalização ou à profanação com que tratamos todas as outras experiências, e como a dor acaba sendo a experiência mais verdadeira que temos, é normal que nos apeguemos ao que consideremos valioso enquanto nos desapegamos facilmente do que não valorizamos.

Se há apego ao sofrimento, mesmo que pareça o contrário por executarmos manobras para nos desvencilhar desse, é porque valorizamos o sofrimento, e porque o valorizamos nos apegamos a ele, num circuito viciado sem fim, tendo como resultado a ineficácia de nossas manobras e orações, e a consequente vitória do sofrimento, imaginando que seja o sofrimento que não nos larga, enquanto a verdade é que nós não largamos do sofrimento.

Seria melhor que cada pessoa cuidasse do que é de sua alçada, sem dar palpites sobre o trabalho alheio, mas como as pessoas andam dispersas, o resultado é o contrário. Cuide para isso não acontecer a você.

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