segunda-feira, junho 24, 2024
Quiroga - 5855
IMPRÓPRIO AMOR PRÓPRIO
O amor-próprio é algo assim como um tipo de substância que precisa ser experimentada na dose certa, porque em certa medida é necessário e fundamental para transitar como humanos por entre o céu e a terra com saúde física e mental, mas se a dose for errada o amor-próprio se torna tóxico e destrutivo, e ainda por cima acontece que, como tudo o mais que ocorre em nossa civilização hoje em dia, a banalização do conceito leva as pessoas a crerem que não conseguiriam amar outrem se não tiverem amor-próprio, e que só depois de amarem a si mesmas conseguiriam a façanha de amar alguém.
E assim, a dose de amor-próprio a que se dão licença os que acreditam na banalização dos conceitos é tão tóxica que se confunde com o autocentramento egoísta cheio de si, convencido de que não há nada mais para conhecer no universo do que a si próprio.
E a receita parece tão certa que ninguém percebe que seus resultados são incertos, em primeiro lugar porque amar outrem, apesar de precisar de uma dose de amor-próprio, também envolve o exercício de sairmos de dentro de nós mesmos, superando, para descobrir alguém, o autocentramento egoísta a que nos dedicamos a maior parte do tempo.
Em segundo lugar porque o amor-próprio, na sua dose tóxica, que é mais comum do que imaginamos, para a construção do relacionamento leva a condições impróprias, a de buscarmos alguém que nos ame do mesmo jeito com que amamos a nós mesmos.
Se for para alguém nos amar como amamos a nós mesmos, a construção do relacionamento se resolve comprando um espelho e ficando conosco o tempo inteiro, terminando tudo isso com que o amor-próprio se torna impróprio para relacionamentos.
As tarefas e deveres são inevitáveis, por isso é hora de sua alma se reconciliar com essa dimensão para não agregar peso ao que não precisa mais. Fazer com alegria e leveza é a melhor pedida, nada menos do que isso.
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