quinta-feira, maio 21, 2009

 

O Último Suspiro - 2


Um outro conjunto de dados que não tem um significado relevante, como indicador de tendências, quando observado em apenas um mês isolado, são as ocorrências diárias das idades máxima e mínima das pessoas que falecem em um dado dia. Aqui, no entanto, como já analisei um bom conjunto de meses (22), pude identificar uma tendência quase unânime (apenas com exceção em um mês): as idades diárias máximas são lideradas pelas mulheres em todos os meses; já as idades diárias mínimas são sempre lideradas pelas pessoas do sexo masculino. Para o mês de abril de 2009 temos os seguintes dados:

Idades máximas: 19f [ 81 <----> 103 ; média = 90,8 anos ] e 13m [ 79 <----> 98 ; 89,5 anos ] [Significado: em 19 dias do mês as mulheres tiveram a idade máxima de falecimento, variando entre 81 e 103 anos, com uma média de idade de 90,8 anos; em 13 dias do mês, os homens tiveram a idade mais elevada, variando entre 79 e 98 anos, com média de 89,5 anos]; média total (sem distinção de sexo) = 90,3 anos. Para registro: houve o falecimento de apenas uma pessoa centenária, do sexo feminino, no mês de abril de 2009, com a idade de 103 anos.

Idades mínimas: 10f [ 3 dias <----> 44; média = 20,1 ] e 21m [ 00 <----> 64 ; 19,6; 00 = natimortos, que ocorreram dois neste mês de abril/2009]; média total = 18,9 anos.

Vamos, agora, tentar identificar a influência das variáveis climáticas nos falecimentos diários das pessoas. Conseguimos colher quatro tipos de parâmetros climáticos diários para cruzarmos com os falecimentos diários: temperatura máxima (ou mínima), precipitação pluviométrica, pressão barométrica e poluição atmosférica. Precisamos, inicialmente, identificar quais as tendências dessas variáveis na mortandade das pessoas.

Temperatura máxima diária: Em um país tropical (quente), como o Brasil, um aumento adicional na temperatura ambiente coloca uma tensão adicional no corpo das pessoas, o que deve contribuir para uma maior mortandade humana. A região mais quente do Brasil (Nordeste) é onde existe a menor expectativa de vida, em média, ... A África, o continente mais quente do planeta, é onde existe a menor expectativa de vida...

Precipitação pluviométrica: Só existe vida onde há a presença de água. Quando ocorre chuva, há uma maior densidade de moléculas de água (H2O) no ar ambiente, o que funciona a favor da vida. Portanto, o aumento da precipitação pluviométrica deve contribuir para diminuir o número de mortes das pessoas. Em vista disto, pense um pouco sobre os possíveis efeitos de umidificadores e de aparelhos de ar condicionado na sua vida...

Pressão barométrica: A maior densidade de pessoas centenárias ocorre em regiões montanhosas elevadas, onde a pressão barométrica do ambiente é baixa. A pressão ambiente é máxima ao nível dos oceanos. Portanto, a queda da pressão atmosférica diminui a tensão exercida sobre o corpo, o que deve contribuir para preservá-lo.

Poluição atmosférica: Aqui não há qualquer dúvida: quanto maior a poluição atmosférica, maior a agressão exercida sobre o corpo, contribuindo para matá-lo.

Minhas fontes de dados para esses quatro parâmetros ambientais foram o endereço eletrônico do Agritempo [1], do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do governo federal, de onde foram colhidos os dados sobre temperatura máxima (em graus Celsius) e grau de precipitação pluviométrica (em milímetros), colhidos na estação do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (CEPAGRI/Unicamp) [2] , localizada no câmpus da Unicamp, em Campinas. Os dados diários da pressão barométrica também foram obtidos de [2]. Os dados sobre a poluição atmosférica de Campinas foram obtidos do endereço eletrônico da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), do governo do Estado de São Paulo [3].

Convém notar que cada pessoa possui uma sensitividade diferente com relação a cada um dos quatro parâmetros selecionados para acompanhamento. Em particular, parece que o sexo feminino e o masculino possuem esta diferença de sensibilidade. Por que digo isso? Porque nos gráficos de falecimentos mensais é comum que as variações de falecimentos masculino e feminino, no mesmo intervalo temporal de dias sucessivos, não ocorram no mesmo sentido (permaneçam estáveis, subam ou caiam). Existem, também, uma certa imprecisão na aplicação dos dados utilizados: muitos desses dados ambientais são fornecidos para muitos horários ao longo do dia, mas nós arbitramos escolher o dado utilisado referente a um horário fixo, já que os falecimentos não são informados com o horário de sua ocorrência. Por exemplo, os dados de pressão atmosférica são disponibilizados ao longo de todo o dia, mas arbitramos usar apenas o valor referente ao meio-dia (12:00 hs).

Vejamos o que ocorreu no mês de abril de 2009, quando cruzamos os dados meteorológicos diários com os falecimentos diários desse mês.

O mês de abril possui 30 dias e, portanto, 29 possíveis variações temporais entre seus dias consecutivos. São as 29 variações consecutivas de falecimentos (masculinos, femininos e total) que iremos confrontar com as 29 possíveis variações consecutivas dos quatro parâmetros climáticos selecionados para análise.

Das 29 variações mensais possíveis, o sexo feminino teve 12 quedas (do número de falecimentos), 15 subidas e 2 ocasiões de estabilidade (de não-variação do número de mortes); para o sexo masculino tivemos 15 quedas, 11 aumentos e 3 estabilidades; no total, sem distinção de sexo, tivemos 13 quedas, 15 subidas e uma estabilidade. Em todo o mês, apenas em 8 ocasiões as três variações (F, M, T) ocorreram no mesmo sentido, correspondendo a 8/29 = 27,6% das situações. Dessas 8 ocasiões, 3 corresponderam a subidas e 5 a quedas no número de falecimentos. Nos 3 casos de subidas, a poluição foi o fator justificante nas 3 ocasiões, a pressão atmosférica justificou 2 dessas 3 variações e a temperatura máxima ambiente justificou a subida em uma ocasião. Nas 5 quedas as justificativas envolveram 2 temperaturas, 2 pressões atmosféricas, 2 precipitações pluviométricas e 1 poluição atmosférica.

No mês inteiro de abril/2009, a temperatura, como fator causal de falecimento, esteve envolvida em 11 ocasiões (37,9%), para o sexo feminino, 15 vezes (51,7%) para o sexo masculino e 18 vezes (62,1%) no total (sem considerar distinção de sexo) na justificativa da variação dos falecimentos do mês. Abaixo apresentamos a coleção completa dos 4 parâmetros utilizados na justificação dos falecimentos, com seus números de vezes que foram usados nessa justificação:

Feminino/Masculino/Total

Temperatura máxima: 11(37,9%) 15(51,7%) 18(62,1%)
Poluição atmosférica: 10(34,5%) 17(58,6%) 14(48,3%)
Pressão barométrica: 15(51,7%) 9(31,0%) 10(34,5%)
Precipitação de chuva: 4(44,4%) 4(44,4%) 5(55,5%)

Vale o seguinte comentário sobre a precipitação pluviométrica: durante o mês de abril de 2009 houve apenas 6 ocasiões com precipitações não-nulas; nos demais 24 dias do mês houve precipitação nula em Campinas. Portanto, houve apenas 9 variações de precipitações pluviométricas no mês, o que justifica os valores mostrados acima [ 4/9 = 44,4% e 5/9 = 55,5%].

Alguns comentários sobre os números acima: a temperatura máxima diária é o fator que mais justificou os falecimentos (62,1% das ocasiões) deste mês de abril, quando não fazemos distinção entre os sexos. O sexo masculino foi mais sensível (morreu mais devido) à poluição atmosférica (58,6%) e o sexo feminino à pressão barométrica ambiente (51,7%). A precipitação de chuva tem uma boa porcentagem de acerto na justificativa dos falecimentos diários (55,5%). Fazendo a combinação de todos os quatro fatores climáticos mencionados acima, é possível justificar 26 variações de falecimentos femininos (de um total de 29 possibilidades no mês, correspondendo a 26/29 = 89,6% de previsões corretas), 27 variações dos falecimentos masculinos (93,1%) e 26 das variações dos falecimentos totais (89,6%), quando não se faz distinção de sexo.

[continua]

Referências:
[1] http://www.agritempo.gov.br/
[2] http://www.cpa.unicamp.br/
[3] http://www.cetesb.sp.gov.br/Ar/ar_boletim_mensal.asp

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