sábado, junho 22, 2019

 

Jejum: Uma Nova Terapia?


Trechos do livro [1].

A profissão médica condena a prática do jejum. E se "menos" fosse "mais"?

Um dia, no início dos anos 1890, Edward H. Dewey folheava a última edição do Manual de Fisiologia de Gerald Francis Yeo, professor de medicina do King's College, de Londres. No capítulo sobre a fome, Yeo publica uma tabela em que indica a porcentagem de perda de peso de cada órgão após a morte por fome. Dewey observa que a gordura teve redução de 97%, os músculos de 30%, o fígado de 56%, mas o cérebro e o sistema nervoso, em compensação, permaneceram intactos! Assim, o cérebro de alguém que morreu de fome não perdeu um único grama, ao passo que praticamente toda a gordura foi absorvida (eliminada)! Para Dewey era uma revelação: "Eu imediatamente vi o corpo humano como uma vasta reserva de alimento pré-digerido, com o cérebro detendo o poder para manter a integridade da estrutura na ausência de alimento... É na capacidade do cérebro de alimentar-se que se encontra a explicação da conservação de um pensamento claro, mesmo quando o resto do corpo está reduzido a um esqueleto".

Bernarr MacFadden funda, em 1899, a revista Physical Culture que faz um sucesso estrondoso. Ela estabelece as bases de um verdadeiro culto ao corpo, que obedece a uma primeira ordem: a alimentação é o medicamento principal. Uma alimentação saudável, equilibrada, de preferência vegetariana. Seguida de uma segunda ordem: a privação de alimento é o medicamento mais eficaz que existe. 

Francis Gano Benedict (1870-1957) fez um estudo revolucionário que revela um mecanismo fundamental do jejum. Ele elabora a fórmula do "mecanismo basal", que corresponde ao número de calorias queimadas pelo corpo em 24 horas a fim de garantir suas funções vitais: circulação sanguínea, manutenção da temperatura, nutrição do cérebro, respiração... Isso não inclui a energia consumida para a digestão de alimentos. Para simplificar, é a energia queimada pelo corpo de alguém em coma ou jejuando. Essa taxa de metabolismo basal é variável para cada indivíduo, depende do peso, da altura e da idade, mas é um cálculo bastante fácil de fazer. Só poderemos emagrecer se ingerirmos menos calorias do que as consumidas por nossa taxa metabólica basal. Durante um jejum, essa taxa indica a energia diária que o corpo vai consumir. Mas, neste caso, não há alimentação externa. Quem vai lhe fornecer essa energia? O corpo vai extrair de suas reservas. De quais tecidos, de quais órgãos? Dewey, como vimos, notara que o cérebro conservava o peso inicial em caso de morte por inanição. Benedict descobriu de quais reservas o corpo lança mão.

Guillaume Guelpa (1850-1930) é um médico que conhece o poder das palavras. E se há uma de que não gosta é "fraqueza". Para ele, este termo, empregado tão comumente para designar o estado de um homem doente, está na origem de muitos erros de julgamentos. Conforme escreve em 1911: "Hipnotizados por essas concepções errôneas de fraqueza e de anemia, durante quase um século os médicos fizeram dos fortificantes o eixo de sua higiene e de sua terapêutica aplicadas. Isso explica o exagero da alimentação à base de carne e das bebidas alcoólicas e o abuso de preparações tônicas, carne em pó ou em extrato, vinho de quinina ou ferruginoso, etc., que deterioraram tantos estômagos, arruinaram a saúde de tantas pessoas de nossa geração. Foi, e podemos dizer que ainda é, delírio puro. Provocar o apetite e introduzir em nosso tubo digestivo muitos alimentos... se tornou uma verdadeira obsessão". 

A qualificação de "fraqueza" é um erro, porque leva a seu corretivo, o fortificante. Para Guillaume Guelpa, a "fraqueza" é apenas o resultado da sujeira do nosso sistema, fruto de uma autointoxicação provocada por nossa alimentação rica demais. Um emagrecimento rápido sugere que o corpo ainda tem a energia necessária para queimar suas reservas, que encontra nele mesmo a força necessária para lutar contra a doença e eliminar seus dejetos. "A partir dessas experiências, para mim memoráveis,", escreve Guelpa, "não me preocupei mais com a fraqueza de meus pacientes: sua falsa sensação de fraqueza na verdade não passava da evacuação de uma superabundância de produtos tóxicos e de dejetos celulares, da qual era preciso, o mais depressa possível, na medida do possível, livrar o organismo".

Guelpa define assim um dos princípios essenciais do jejum terapêutico: a força nasce da fraqueza. "Então você constatará este resultado surpreendente, que parece paradoxal: privando de tempos em tempos os anêmicos de alimento e os purificando por dois e até três dias, a saúde deles se restabelece rapidamente, e mais rapidamente ainda se você tiver o cuidado de manter seu paciente em um regime vegetariano".

[continua]

Referência:
[1] Thierry de Lestrade, Jejum: Uma Nova Terapia? (tradução de: Le jeûne, une nouvelle thérapie?), publicação da L&PM - Porto Alegre, RS, 1. ed., 2015. ISBN: 978.85.254.3172-1.

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