quinta-feira, setembro 21, 2023

 

Neurose e Meditação

A neurose nunca foi tão epidêmica no passado quanto agora. Ela está praticamente tornando-se um estado normal da mente humana. Ela tem de ser entendida.

O passado foi mais saudável espiritualmente, e o motivo foi que a mente não era alimentada com tantas coisas ao mesmo tempo, a mente não ficava sobrecarregada. A mente moderna está sobrecarregada, e aquilo que deixa de ser assimilado gera neurose. É como se a pessoa continuasse a comer sempre e a entupir o estômago. Aquilo que não é digerido pelo corpo vai ser venenoso. E o que se come é menos importante do que aquilo que se ouve e que se vê. A partir dos olhos, dos ouvidos, de todos os sentidos, recebem-se muitas coisas, a cada momento. E não tempo extra para assimilação. É como se alguém estivesse constantemente sentado à mesa de jantar, comendo, comendo, 24 horas por dia.

Esta é uma situação da mente moderna: ela está sobrecarregada, são muitas coisas sobrecarregando-a. Não é nenhuma surpresa a mente entrar em colapso. Há um limite para cada mecanismo humano. E a mente é um dos mecanismos mais sutis e delicados.

A pessoa realmente saudável é aquela que leva 50% de seu tempo para assimilar suas experiências - 50% de ação, 50% de inércia, este é o equilíbrio certo; 50% de pensamento, 50% de meditação,esta é a cura.

A meditação não é nada além de um tempo em que a pessoa pode relaxar completamente dentro de si, em que ela fecha todas as suas portas, todos os seus sentidos, para o estímulo exterior. Ela desaparece do mundo. Esquece do mundo como se ele não existisse mais, sem jornais, sem rádio, sem televisão (sem internet), sem gente.

O indivíduo está sozinho em seu ser mais íntimo, relaxado, confortável.

Nesses momentos, tudo o que acumulou passa a ser assimilado. Aquilo que não tem valor é jogado fora. A meditação funciona como uma faca de dois gumes: de um lado, assimila tudo o que é nutritivo e, do outro, rejeita e joga fora tudo o que é lixo.

Mas a meditação desapareceu do mundo. Nos velhos tempos, as pessoas eram naturalmente meditativas. A vida não tinha complicações, e as pessoas tinham tempo suficiente para simplesmente sentar e não fazer nada, ou olhar para as estrelas, ou observar as árvores, ou ouvir os pássaros. As pessoas tinham intervalos de passividade profunda. Naqueles momentos, as pessoas se tornavam cada vez mais saudáveis e inteiras.

A neurose significa que a pessoa está carregando uma carga tão grande na mente que está provocando sua morte. Ela não consegue se mover. Não há dúvida quanto à fuga de sua consciência.

Algumas coisas para que fique entendido. A neurose é o rato que tenta indefinidamente sair pelo beco sem saída, e não aprende. Sim, o não aprender é a neurose,  esta é a primeira definição. A pessoa continua tentando sair pelo beco sem saída.

A pessoa está irritada. Quantas vezes as pessoas já ficaram irritadas? E quantas vezes já se arrependeram de ficar irritadas? Ainda assim, basta haver um pequeno estímulo para que a reação delas seja novamente a mesma. Não aprenderam nada. As pessoas são gananciosas, e a ganância cria cada vez mais infelicidade. Todo mundo sabe que a ganância nunca deu felicidade a ninguém, mas as pessoas ainda são gananciosas,continuam gananciosas. Ninguém aprendeu.

A não aprendizagem cria a neurose, ou seja, é a neurose.

Aprendizado significa assimilação. A pessoa experimenta algo e depois descobre que aquilo não funciona. Em seguida, descarta aquilo. Move-se em outra direção, tenta outra opção. Isso é sábio, é inteligente. Bater a cabeça contra a parede, onde sabe perfeitamente bem que não há nenhuma porta, é neurose.

As pessoas estão ficando cada vez mais neuróticas, porque continuam tentando o beco sem saída, continuam tentando aquilo que não funciona. O homem que é capaz de aprender nunca se torna neurótico, não consegue. Ele vê imediatamente quando há uma parede. Ele abandona a ideia toda. Começa a passar para outras dimensões. Há outras opções disponíveis. Ele aprendeu algo.

Dizem que Edison estava tentando uma experiência em que fracassara setecentas vezes. Seus colegas ficaram desesperados. Três anos foram perdidos e ele continuava tentando novas formas, repetidas vezes. E toda manhã ele retornava com grande entusiasmo, o mesmo entusiasmo do primeiro dia. E três anos foram desperdiçados.

Um dia, seus colegas se reuniram e disseram a ele:

- Não conseguimos entender. Falhamos setecentas vezes. Está na hora de abandonar a experiência.

Edison teria dito:

- O que querem dizer com "falhamos"? Aprendemos que as setecentas opções eram opções erradas. Foi uma grande experiência! Hoje não vou tentar o mesmo experimento, pois descobri um outro. Estamos chegando mais perto da verdade. Quantas maneiras falsas podem existir? Deve haver um limite. Se  houver mil maneiras falsas, então, setecentas já foram descartadas, restam apenas trezentas. E, depois, chegaremos ao ponto certo.

Isso é aprendizagem. Tentar uma experiência e, ao ver que ela não dá certo, tentar uma outra opção e, ao ver que esta não funcona, o homem sábio a abandona. O tolo se apega a ela. O tolo chama a isso de consistência. O tolo diz: "Fiz isso ontem e vou fazer isso hoje também. E farei amanhã". Ele é teimoso, cabeça-dura. Ele diz: "Como é que posso deixá-la? Investi tanto nisso! Não posso mudar isso!" Então, ele prossegue insistindo naquilo, e sua vida inteira é desperdiçada. E, à medida que a morte se aproxima, ele fica desesperado, sem esperança. No fundo ele sabe perfeitamente que vai fracassar. Fracassou tantas vezes! E ainda está tentando a mesma coisa, sem ter aprendido nada. Isso gera a neurose.

O homem que é capaz de aprender nunca vai se tornar neurótico.

Um discípulo nunca vai se tornar neurótico. Um "discípulo" significa aquele que é capaz de aprender. Nunca se torna suficientemente bem-informado, está sempre em processo de aprendizagem.

A necessidade de ter muito conhecimento  deixa as pessoas neuróticas. Não é por acaso que professores, filósofos, psiquiatras, estudiosos enlouquecem com facilidade. Eles aprenderam e chegaram à conclusão de que não há mais o que aprender. No momento em que decide que não há mais o que aprender a pessoa para de crescer.

Parar de crescer é neurose - esta é a segunda definição.

O mundo era muito diferente no passado, é óbvio. O equivalente a cerca de seis semanas de estímulos sensoriais, há seicentos anos atrás, é o que hoje obtemos em um dia*. O equivalente a seis semanas de estímulos, informações, hoje se adquire em um único dia, ou seja, cerca de quarenta vezes a pressão para aprender e se adaptar. O homem moderno tem de ser capaz de aprender mais do que o homem jamais aprendeu antes, porque há mais o que aprender agora.

O homem moderno tornou-se capaz de se adaptar a novas situações todos os dias, porque o mundo está mudando muito rapidamente. É um grande desafio.

Um grande desafio, se aceito, vai ajudar bastante na expansão da consciência. Ou o homem moderno vai ser totalmente neurótico ou o homem moderno vai ser transformado pela própria pressão. Depende de como ele lida com isso. Uma coisa é certa: nãõ tem como voltar atrás. Os estímulos sensoriais vão continuar a crescer cada vez mais (ele acertou: hoje todo mundo está permanentemente na internet, com o telefone celular na mão). O homem obterá cada vez mais informações, e a vida mudará em um ritmo cada vez mais rápido. E ele terá de ser capaz de aprender coisas novas, de se adaptar a coisas novas.

No passado, o homem vivia em um mundo praticamente estático. Tudo era estático. O homem deixava o mundo exatamente como seu pai deixava para ele. Não teria mudado nada absolutamente. Nada havia mudado. Não havia motivo para aprender muito. Um pouco de aprendizado já era o suficiente. E, com isso, o ser humano tinha espaços em sua mente, espaços vazios que ajudavam as pessoas a permanecerem sãs. Agora não há mais espaço vazio, a menos que alguém o crie intencionalmente.

A meditação é necessária mais do que nunca nos dias de hoje.

A meditação é tão necessária que é quase uma questão de vida ou morte.

No passado, a meditação era um luxo, tanto que poucas pessoas, como um Buda, um Mahavira, um Krishna, se interessavam por isso. Outros mantinham-se naturalmente em silêncio, eram naturalmente felizes e sãos. Não havia a necessidade de se pensar em meditação, pois, de forma inconsciente, eles estavam meditando. A vida se movia de forma tão silenciosa, tão devagar, que até as pessoas mais estúpidas eram capazes de se adaptar a ela. Agora, a mudança é extremamente rápida, com uma velocidade tal que até os mais inteligentes sentem dificuldade de se adaptar. A cada dia a vida é diferente, e as pessoas têm que aprender de novo, têm de aprender repetidas vezes.

Nunca podem parar de aprender agora, e tem que ser um processo para toda a vida.

Como não sucumbir a essa pressão? A pessoa precisará ter momentos meditativos, de modo intencional. Se uma pessoa não meditar pelo menos uma hora por dia, então a neurose não ocorrerá por acaso, será criada pela própria pessoa.

Durante uma hora a pessoa deve desaparecer do mundo em seu próprio ser. Durante uma hora ela deve ficar tão sozinha que nada penetre nela, nenhuma memória,nenhum pensamento, nenhuma imaginação, uma hora sem nenhum conteúdo em sua consciência, e isso vai rejuvenescê-la e recarregá-la. Isso vai liberar novas fontes de energia nela, de modo que ela venha a estar de volta no mundo mais jovem, mais revigorada, com maior capacidade de aprender, com mais admiração em seus olhos, com mais reverência em seu coração - como uma criança novamente.

Essa pressão de aprender e o velho hábito de não aprendizagem estão levando as pessoas à loucura. A mente moderna é realmente sobrecarregada, e não há tempo para digeri-la, para assimilá-la dentro do próprio ser. É aí que a meditação entra e se torna mais significativa do que nunca.

Sem dar tempo par que a mente descanse em meditação, as pessoas reprimem todas as mensagens que vão sendo despejadas nela constantemente. Elas se recusam a aprender, dizem que não têm tempo. Então, as mensagens começam a acumular (muito comum na minha caixa de entrada de emails). Se elas não têm tempo suficiente para ouvir as mensagens que a mente recebe de forma contínua, elas começam a se acumular, assim como arquivos que se acumulam em cima da mesa (no computador), pilhas de cartas (emails) que se acumulam na mesa, porque não houve tempo suficiente para lê-las e respondê-las. É exatamente assim que a mente se torna atravancada: são tantos arquivos (sites) à espera de serem analisados, tantas cartas (emails) a serem lidas, a serem respondidas, tantos desafios a serem adotados, a serem enfrentados!

Ouvi dizer que certa vez Mulla Nasruddin disse o seguinte: "Se acontecer algo de errado hoje, eu não terei tempo, durante pelo menos três meses, de analisar isso. Tantas coisas erradas já aconteceram e que estão à espera! Se acontecer algo de errado hoje, não terei tempo de analisar durante três meses, pelo menos."

Uma fila. É possível ver essa fila dentro de cada um, e ela vai crescendo. E quanto maior a fila, menor é o espaço que se tem; quanto maior a fila, maior é o barulho no interior, porque tudo o que a pessoa tiver acumulado exige a sua atenção.

Isso geralmente começa por volta dos 5 anos de idade, quando o verdadeiro aprendizado praticamente para, e dura até a morte. Antigamente, isso não era problema. Cinco ou sete anos eram suficientes para se aprender tudo o que era necessário na vida, era o que bastava. O aprendizado de sete anos fazia setenta anos de vida. No entanto, agora isso não é possível.

As pessoas não podem parar de aprender porque sempre acontecem coisas novas, e não se pode enfrentar coisas novas com velhas ideias. Não se pode depender dos pais e de seu conhecimento, não se pode nem mesmo depender dos professores na escola ou na universidade, porque o que eles estão falando já está desatualizado. Já aconteceram muito mais coisas.

Agora, os alunos não podem depender dos professores, e as crianças não podem depender de seus pais, e, consequentemente, uma grande rebelião está a caminho em todo o mundo. Os alunos não podem mais respeitar seus professores, a não ser que esses professores aprendam de forma continuada. Eles não podem ser respeitados. Respeitados pelo que? Não há nenhuma razão. E as crianças não podem respeitar seus pais, porque a abordagem dos pais parece muito primitiva. Crianças pequenas estão ficando conscientes de que o que os pais dizem está desatualizado. Os pais vão ter que aprender continuamente, se quiserem ajudar seus filhos a crescer, e os professores também vão ter que aprender constantemente. Agora, ninguém pode parar de aprender. E essa velocidade vai aumentar de forma constante.

Assim, em primeiro lugar, a aprendizagem não deve ser interrompida, pois, do contrário, a pessoa fica neurótica, uma vez que deixar de aprender significa que  se está acumulando informações que não foram assimiladas, digeridas, e que não se tornaram seu sangue, seus ossos, sua essência. Vão ficar em volta da pessoa com grande insistência para serem assimiladas.

Em segundo lugar, a pessoa vai precisar de tempo para relaxar. Essa pressão é grande demais. Será necessário se afastar por algum tempo dela. O sono não pode mais ajudar a pessoa, porque o sono, em si, está ficando sobrecarregado. O dia é tão sobrecarregado que, quando a pessoa vai dormir, apenas o corpo cai mole na cama, mas a mente continua a resolver coisas. Isso é o que se chama de sonhar: não é nada além de um esforço desesperado da mente para resolver coisas, porque a pessoa não vai ter tempo disponível para tal.

É preciso relaxar conscientemente em meditação. Poucos minutos de meditação profunda vão mantê-las distante da neurose.

Na meditação, a mente desatravanca, as experiências são digeridas e a sobrecarga desaparece, e a mente fica revigorada e jovem, clara e limpa.

No passado, o volume de entrada era um décimo do tempo de alguém, e o tempo de meditação era de nove décimos. Agora, é o inverso: o volume de entrada é de nove décimos e o tempo de meditação é de um décimo.

É muito raro o homem realmente relaxar. É muito raro sentar-se em silêncio, sem fazer nada. Mesmo aquele tempo de um décimo de meditação inconsciente está desaparecendo. Quando isso acontecer, o homem vai ficar completamente louco. E isso já está acontecendo.

O que quero dizer com tempo de meditação inconsciente? É simplesmente ir até o jardim, brincar com os filhos, esse é o tempo de meditação inconsciente. Ou nadar na piscina, esse é o tempo de meditação inconsciente. Ou aparar a grama, ouvir os pássaros, esse é o tempo de meditação inconsciente. Isso também está desaparecendo, porque, sempre que as pessoas têm algum tempo, elas estão sentadas em frente à TV (hoje, consultando seus telefones celulares), grudadas em seus assentos.

E informações perigosíssimas são colocadas na mente da pessoa através da TV (hoje, através da internet), informações que ela não vai serr capaz de digerir. Ou a pessoa lê jornais,e absorve todo o tipo de absurdo. Sempre que tem tempo, liga o rádio ou a TV. Ou, um dia sente-se muito bem e quer relaxar, então vai ao cinema. Que tipo de relaxamento é esse? O cinema não permitirá que ela relaxe, porque as informações lhe são lançadas constantemente.

O relaxamento ocorre quando não é lançada nenhuma informação para a pessoa.

Ouvir um cuco vai dar certo, porque nenhuma informação é absorvida pela pessoa. Ouvir música vai dar certo, porque não lhe é lançada nenhuma informação. A música não tem linguagem, é puro som. Não oferece nenhuma mensagem, simplesmente dá prazer à pessoa. Dança vai ser bom, música vai ser bom, trabalhar no jardim vai ser bom, brincar com as crianças vai ser bom. Ou simplesmente sentar-se, sem fazer nada, vai ser bom. Esta é a cura. E, se for feito de modo consciente, o impacto será maior.

É preciso criar um equilíbrio.

A neurose é um estado da mente em desequilíbrio: atividade demais e falta de inatividade, masculino demais e ausência de feminino, yang demais e muito pouco yin. E o indivíduo tem que ser meio a meio. Tem que manter um equilíbrio profundo. É preciso uma simetria dentro de si. Tem que ser metade homem, metade mulher, para nunca ficar neurótico.

A individualidade não é nem masculina, nem feminina, é a simples união. Esforce-se para alcançá-la entre o tempo despendido fazendo algo versus o tempo despendido sem fazer nada. Essa é a totalidade. Isso é o que Buda chamou de seu Caminho do Meio. Basta estar exatamente no meio. E é preciso lembrar que a pessoa pode ficar desequilibrada no outro extremo também, ou seja, pode se tornar inativa demais. Isso também será perigoso. Ela tem suas próprias armadilhas e seus perigos. Se a pessoa se torna inativa demais, sua vida perde a dança, sua vida perde a alegria, e ela começa a morrer.

Portanto, não estou dizendo para a pessoa se tornar inativa, estou dizendo que deixe haver um equilíbrio entre a ação e a inércia. É preciso permitir que elas se equilibrem entre si e que a pessoa fique exatamente no meio. A pessoa deve deixar que elas sejam duas asas de seu ser. Nenhuma asa deve ser maior do que a outra.

No Ocidente, a ação tornou-se grande demais, e a inércia desapareceu. No Oriente, a inércia tornou-se muito grande, e a ação desapareceu. O Ocidente conhece a abundância, a riqueza, do lado de fora, e a pobreza do lado de dentro, enquanto o Oriente conhece a riqueza, a abundância do lado de dentro, e a pobreza do lado de fora. Ambos estão no sofrimento porque ambos escolheram os extremos.

A minha abordagem não é nem oriental, nem ocidental, a minha abordagem não é nem masculina, nem feminina, a minha abordagem não é nem de ação, nem de inércia, a minha abordagem é de total equilíbrio, simetria, no ser. Por isso, eu digo: não deixem o mundo. Estejam no mundo,no entanto, não pertençam a ele. Isso é o que os taoístas chamam de wei-wu-wei, ação através da inação, é o encontro do yin com o yang, da anima com o animus, e que traz a iluminação. O desequilíbrio é a neurose, o equilíbrio é a iluminação.

*Osho faleceu em 1990, aos 59 anos. Relatou essas ideias nos anos 1980. Hoje a situação está muito mais crítica, com o advento da internet.

Fonte: Osho, O livro do ego: Liberte-s da ilusão, Editora BestSeller, Rio de Janeiro, 2022. ISBN: 978-85-7684-710-6.

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