terça-feira, junho 18, 2024

 

O Caminho do Meio

 Fonte consultada:  Osho, O Livro da sua Vida - Crie o seu próprio caminho para a liberdade, Editora Pensamento-Cultrix, 2019. ISBN: 978-85-316-0975-6

 Como equilibrar-se para manter o caminho do meio...

A vida consiste em extremos. A vida é uma tensão entre os opostos. Se você fica exatamente no meio o tempo todo, isso significa que você está morto. O meio é só uma possibilidade teórica; só de vez em quando você consegue ficar no meio, pois é uma fase transitória. É como andar na corda bamba; não dá para ficar o tempo todo no meio; se tentar, você cai.

Ficar no meio não é um estado estático, é um fenômeno dinâmico. Equilíbrio não é um substantivo, é um verbo; é equilibrar-se. O equilibrista que anda na corda bamba vai endireitando o corpo mais para a esquerda ou mais para a direita. Quando acha que pendeu demais para um lado e corre o risco de cair, ele imediatamente recupera o equilíbrio pendendo para o lado oposto. Na transição da esquerda paraa direita, aí sim, existe um momento em que o equilibrista está no meio. E, quando vai muito para a direita e fica com medo de cair, ele perde o equilíbrio e joga o seu peso para a esquerda, passando, por um instante, mais uma vez pelo meio.

O equilíbrio não é um substantivo, mas um verbo - é equilibrar-se. um processo dinâmico. Você não pode simplesmente ficar no meio. Você fica o tempo todo pendendo para a esquerda e para a direita; esse é o único jeito de ficar no meio.

Não evite os extremos e também não escolha nenhum deles. Continue aberto para as duas polaridades - essa é a arte, o segredo do equilíbrio. Sim, às vezes ficar extremamente feliz e outras vezes ficar extremamente triste - os dois sentimentos têm a sua beleza.

A mente faz escolhas; é aí que surge o problema. Não escolha. Seja o que for que aconteça e onde quer que você esteja - na direita ou na esquerda, no meio ou longe do meio - aproveite o momento em sua totalidade. Enquanto você está feliz, dance, cante, toque uma música - seja feliz! E, quando a tristeza chegar - porque ela sempre chega, tem de chegar, é inevitável, não dá para evitar... Se tentar evitá-la você destruirá todas as suas possibilidades de felicidade. O dia não pode existir sem a noite, o verão não pode existir sem o inverno. A vida não pode existir sem a morte. Deixe que essa polaridade cale fundo dentro de você - não há como evitá-la. Só uma pessoa morta pode permanecer num meio estático. A pessoa viva está em constante movimento - passa da raiva para a compaixão e da compaixão para a raiva novamente - e aceita ambos, sem se identificar com nenhum dos dois, mas se mantendo alheia e ao mesmo tempo envolvida; distante, mas comprometida.

O seu próprio esforço para ficar no meio, e ficar no meio para sempre, está criando uma ansiedade desnecessária em você. Na verdade, o desejo de ficar no meio para sempre é um outro extremo - a pior espécie de extremo, pois é algo impossível. Não pode ser alcançado. Pense num relogio antigo de pêndulo: se você segurar o pêndulo exatamente no meio, ele pára. O relógio só funciona enquanto o pêndulo está se movendo para lá e para cá, entre os dois extremos. Sim, ele sempre passa pelo meio, e existe um momento em que ele fica exatamente alí, mas não passa de um momento.

A vida tem de ser vivida em todas as suas dimensões, só assim ele é rica. O que está sempre à esquerda é pobre, o que está sempre à direita também é pobre e o que fica sempre no meio está morto! Se você está vivo, você não pode ficar sempre à esquerda, sempre à direita ou sempre no meio - você deve ficar em um constante movimento, num fluxo.

A vida contém duas coisas; traz uma grande dor e também um grande prazer. Dor e prazer são os dois lados de mesma moeda. Se você exclui um, você também tem de excluir o outro. Este tem sido um dos maiores mal-entendidos ao longo das eras, a idéia de que você tem de se livrar da dor e ter apenas prazer, que você tem de evitar o inferno e ficar com o céu, que você tem de evitar o negativo e ficar só com o positivo. Essa é uma grande ilusão. Isso não é possível pela própria natureza das coisas. O positivo e o negativo estão juntos, inevitavelmente juntos, inextricavelmente juntos. Eles são dois aspectos da mesma energia. Portanto, temos de aceitar os dois.

Inclua tudo, seja tudo. Quando você estiver na esquerda, não perca nada - aproveite! Estar na esquerda é algo que tem a sua própria beleza, uma beleza que você não encontrará quando estiver na direita. Será um cenário diferente. E, é verdade, ficar no meio traz um silêncio, uma paz, que você não encontrará nos extremos. Então, aproveite o máximo. Continue enriquecendo a sua vida.

E não se apegue a nada. Há pessoas que se apegam à tristeza também - os psicólogos as conhecem bem, elas são as masoquistas. Não param de criar situações em que possam viver infelizes para sempre. O sofrimento é a única coisa de que gostam, elas têm medo da felicidade. O sofrimento as faz se sentir em casa. Muitos masoquistas tornam-se religiosos, porque a religião dá uma grande proteção à mente masoquista. A religião proporciona uma bela racionalização para o masoquismo.

Se você for masoquista sem ser religioso, você se sentirá condenado e se sentirá doente, nervoso, e saberá que você não é normal. Você se sentirá culpado pelo que está fazendo da sua vida e tentará esconder o seu masoquismo. Mas, se o masoquista se tornar religioso, ele passa a exibir esse traço da sua personalidade com muito orgulho, pois ele deixa de ser masoquismo - passa a ser ascetismo, austeridade. É "autodisciplina", não tortura. Só os rótulos mudaram - mas agora ninguém pode chamar essa pessoa de anormal, ela é agora uma santa! Ninguém pode dizer que ela tem uma patologia; ela é devota, piedosa. Os masoquistas sempre se voltaram para a religião, ela exerce uma grande atração sobre eles. Na verdade,tantos masoquistas se voltaram para a religião ao longo das eras - e foi natural, esse movimento - que a religião acabou sendo dominada por eles. É por isso que a religião insiste tanto para que todas as pessoas sejam contra a vida, que a enxerguem como algo negativo. Ela é contra a vida (é melhor morrer, para ir para o céu...), contra o amor, contra a alegria - ela continua insistindo em afirmar que a vida é um sofrimento. Ao afirmar que a vida é um constante sofrimento, ela racionaliza o seu próprio apego ao sofrimento.

Eis uma bela estória:

No paraíso, numa tarde, nos seu mais famoso café, Lao-Tsé, Confúcio e Buda batiam um bom papo em volta de uma mesa. O garçom se aproximou segurando uma bandeja, onde havia três copos cheios de um suco chamado "Vida", e ofereceu a eles a bebida. Buda imediatamente fechou os olhos e recusou, dizendo "A vida é sofrimento".

Confúcio semicerrou os olhos - ele é adepto do caminho do meio, costumava pregar o meio-termo ideal - e pediu um copo ao garçom. Ele queria tomar um gole - mas só um gole, porque, se não provasse, como poderia saber se a vida é sofrimento ou não? Confúcio tem uma mente científica; ele não era propriamente um místico, ele tinha uma mente muito pragmática, muito materialista. Ele foi o primeiro behaviorista que o mundo conheceu, extremamente lógico. E parecia perfeitamente correto - ele disse, "Primeiro tenho de tomar um gole, para depois dizer o que eu acho". Ele tomou um gole e disse "Buda está certo, a vida é sofrimento".

Lao-Tsé pegou todos os três copos e disse, "A menos que a pessoa tome até o último gole, como ela poderá opinar a respeito?" Esvaziou os três copos e começou a dançar!

Buda e Confúcio lhe perguntaram, "Não vai dizer nada?" E ele respondeu, "Mas já estou respondendo - a minha dança e a minha música falam por mim!" A menos que você prove tudo, não pode dizer nada. E, depois que provar tudo, mesmo assim você não poderá dizer nada, porque não há palavras para descrever o que você sabe (tente explicar como é exatamente o gosto de uma banana para alguém que nunca comeu uma banana...).

Buda está num extremo. Confúcio está no meio. Lao-Tsé bebeu os três copos - o copo trazido para Buda, o copo trazido para Confúcio e o copo trazido para ele. Ele bebeu os três; viveu a vida em sua tridimensionalidade.

Eu penso como Lao-Tsé. Viva a vida de todas as maneiras possíveis; não escolha uma coisa em detrimento da outra, e não tente ficar no meio. Não tente se equilibrar - o equilíbrio não é algo que possa ser cultivado. O equilíbrio é algo que acontece quando você experimenta todas as dimensões da vida. O equilíbrio é algo que acontece; não é algo que você possa conseguir por meio do seu esforço. Se você conseguir se equilibrar por meio do esforço, esse equilíbrio será falso, forçado. E você continuará tenso, não conseguirá relaxar, pois como uma pessoa que está tentando se equilibrar no meio pode relaxar?  Você viverá com medo de que, se relaxar, poderá pender para a direita ou para a esquerda. Você vai viver empertigado, e se isso acontecer, você deixará de aproveitar a oportunidade, toda a bênção da vida.

Não viva empertigado. Não viva a vida de acordo com princípios. Viva a vida em sua totalidade, sorva-a até a última gota! Sim, às vezes ela tem um gosto amargo - e daí? Esse gosto amargo é o que torna você capaz de apreciar a sua doçura.Você só será capaz de apreciar a doçura se tiver provado a amargura. Quem não sabe chorar, também não sabe rir. Quem não sabe apreciar uma boa risada, uma gargalhada, só consegue chorar lágrimas de crocodilo. Elas não podem ser verdadeiras, não podem ser autênticas.

Eu não ensino o caminho do meio, eu ensino o caminho total. A partir daí o equilíbrio vem naturalmente, e esse equilíbrio será extremamente belo e gracioso. Você não precisa forçá-lo, ele simplesmente vem. Indo graciosamente para a esquerda, para a direita, para o meio, aos poucos você atinge o equilíbrio, pois não se identifica com nenhum deles. Quando a tristeza vem, você sabe que ela passará; e quando a felicidade vem, você sabe que ela também passará. Nada permanece para sempre; tudo passa. A única coisa que subsiste é o seu testemunho. Esse testemunho traz o equilíbrio. Esse testemunho é o equilíbrio.

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