quarta-feira, julho 28, 2010
Verdade e Hipnose
"O pior cego é aquele que não quer enxergar", ditado popular.
"Temos dois tipos de sonhos: os da noite e os de dia. Nunca estamos completamente acordados, pois estamos hipnotizados", G. Gurdjieff.
George Gurdjieff é um dos mestres mais importantes de nossa era.
Ele é único sob muitos aspectos: ninguém no mundo contemporâneo se expressa como ele. Ele é quase como um outro Bodhidharma ou Chuang Tzu, aparentemente absurdo, mas na realidade dando excelentes indicações para a libertação da consciência humana. Ele costumava dizer: "Você está numa prisão". Às vezes mergulhava ainda mais fundo na realidade e, em vez de dizer "Você está numa prisão", dizia "Você é a prisão". O que é mais verdadeiro.
Se você quiser sair da prisão - ou, melhor dizendo, se não quiser ser uma prisão -, a primeira coisa a fazer é dar-se conta de que está numa prisão... ou de que é uma prisão. É algo que deve ser sempre lembrado como um dos primeiros princípios de todo aquele que estiver em busca da verdade.
A tendência da mente humana é negar as coisas feias, esconder o que não quer que os outros saibam - e esconder de tal maneira, em camadas tão profundas do inconsciente, que a própria pessoa deixa de ter consciência dessas coisas! Desse modo, mantém sua personalidade superficial.
Gurdjieff tem uma história a esse respeito...
Havia um mágico que vivia numa floresta densa e tinha muitas ovelhas, que eram seu único alimento. No meio da floresta, ele mantinha todas aquelas ovelhas somente para matá-las diariamente, uma a uma. Naturalmente, as ovelhas tinham muito medo dele e costumavam correr pela floresta, temendo que qualquer dia fosse o seu dia de morrer. As companheiras que eu tinha já se foram, não se pode confiar... Por puro medo, elas costumavam fugir para muito longe, entrando profundamente pela floresta. E todo dia era uma canseira tentar encontrá-las.
Finalmente, o mágico recorreu a um truque. Ele hipnotizava as ovelhas, dizendo-lhes: "Você é uma exceção; todo mundo pode ser morto, mas não você. Você não é uma ovelha comum; você tem um privilégio divino". Para as outras dizia: "Vocês não são ovelhas; são leões, tigres, lobos. Só as ovelhas são mortas. Não precisam esconder-se na floresta; seria muito embaraçoso um leão se escondendo na floresta com medo de ser morto - só as ovelhas são mortas". Dessa forma, ele conseguia hipnotizar todas as ovelhas.
Chegava inclusive a dizer para algumas delas: "Vocês são homens, seres humanos, e os seres humanos não se matam uns aos outros. Vocês são exatamente como eu (ser humano). Nunca tenham medo nem tentem fugir por medo". Desde esse dia, nenhuma ovelha voltou a fugir para se esconder na floresta, embora todas elas vissem diariamente que uma delas era abatida e morta (como vemos todos os dias, não é mesmo?). Mas é claro que todas pensavam: ela deve ser uma ovelha; eu sou um tigre, um leão, um ser humano. Eu sou especial e excepcional, tenho um privilégio divino... Eram essas as histórias que o mágico botava em suas cabeças.
Gurdjieff afirma que, se não nos conscientizarmos da primeira coisa - de que estamos numa prisão, que somos a prisão -, não existe esperança de liberdade. Se você já acredita que é livre, é por ser uma ovelha hipnotizada que pensa ser um leão - excepcional, não é preciso ter medo -, que acredita inclusive que é um ser humano (divino). Você continua vendo outras ovelhas serem mortas, mas ainda está sob efeito da hipnose, sem tomar consciência de sua condição concreta. Ser livre, quando já sabemos que somos livres, não constitui problema.
Todas as religiões juntas, talvez involuntariamente, geraram um tremendo estado hipnótico. As pessoas acreditam ter almas imortais. Não estou dizendo que você não tem, mas apenas que não sabem em que acreditam. E, como acreditam que têm uma alma imortal, nunca descobrem que já a têm. Disseram-lhes: "Vocês são o reino de Deus"... e é tão cômodo e consolador acreditar nisso. Mas não existe uma maneira de buscar e tentar descobrir se essa crença hipotética tem algum fundo de verdade, ou é apenas um truque hipnótico usado pela sociedade (pelos manipuladores da sociedade) para mantê-lo livre do medo da morte, da doença, da velhice, da solidão (e manter você disponível para ser sacrificado, quando for conveniente).
O seu Deus pode ser apenas uma hipnose psicológica. Não é uma descoberta sua. Isso é verdade: até aqui, é a absoluta verdade. Ele (Deus) foi implantado em sua mente e, como você continua acreditando nele, a sua crença impede qualquer aventura de busca da verdade.
Geralmente, estão sempre lhe dizendo que, se não acreditar, você não encontrará. Mas a verdade é exatamente o contrário. A crença é uma barreira para se encontrar a verdade, não é uma ponte. Os que acreditam nunca encontram, pois sequer se dão ao trabalho de buscar; não há necessidade, "já sabem"...
Você está numa prisão e se julga livre.
Você está preso a grilhões, mas acha que são apenas adornos. É um escravo (numa sociedade escravagista), mas lhe disseram que você é apenas humilde, simples, que é assim que deve ser uma pessoa religiosa como você. Você está cercado de muitas estratégias hipnóticas desenvolvidas pela sociedade ao longo das eras. E essas estratégias hipnóticas são a causa essencial da sua ignorância, do seu sofrimento, da sua falta de esclarecimento (de suas doenças físicas e mentais).
De modo que a primeira coisa a ter em mente é que você está numa prisão. A partir do momento em que você reconhece que está numa prisão, você já não pode mais tolerá-la. Ninguém a tolera; ela vai contra a sua dignidade humana. Você começará a encontrar maneiras de sair dela. Começará a conhecer pessoas que já se libertaram. Pode começar a buscar ajuda além das muralhas, pois lá fora existem pessoas capazes de oferecer todo tipo de ajuda. Mas elas não serão de ajuda alguma se você acreditar que já está vivendo em absoluta liberdade.
Se você acredita que essa prisão é a sua casa, seria naturalmente absurdo pensar em se livrar dela. Você acredita que o muro que o mantém prisioneiro é uma proteção para você. Estaria portanto fora de questão fazer um buraco na parede para escapar, ou encontrar uma escada, ou ainda buscar ajuda lá fora. Pode até ser lançada uma corda lá de fora, ou providenciada uma escada, mas isso só teria valia se for reconhecido o principal: que você está numa prisão. George Gurdjieff estava constantemente insistindo: "É a principal coisa a entender. Sem isso, não pode haver avanço para o esclarecimento. Se você acha que é livre, você não pode escapar".
Fonte: Osho, Encontros com pessoas notáveis, Editora Academia, São Paulo, 2009.
Ele é único sob muitos aspectos: ninguém no mundo contemporâneo se expressa como ele. Ele é quase como um outro Bodhidharma ou Chuang Tzu, aparentemente absurdo, mas na realidade dando excelentes indicações para a libertação da consciência humana. Ele costumava dizer: "Você está numa prisão". Às vezes mergulhava ainda mais fundo na realidade e, em vez de dizer "Você está numa prisão", dizia "Você é a prisão". O que é mais verdadeiro.
Se você quiser sair da prisão - ou, melhor dizendo, se não quiser ser uma prisão -, a primeira coisa a fazer é dar-se conta de que está numa prisão... ou de que é uma prisão. É algo que deve ser sempre lembrado como um dos primeiros princípios de todo aquele que estiver em busca da verdade.
A tendência da mente humana é negar as coisas feias, esconder o que não quer que os outros saibam - e esconder de tal maneira, em camadas tão profundas do inconsciente, que a própria pessoa deixa de ter consciência dessas coisas! Desse modo, mantém sua personalidade superficial.
Gurdjieff tem uma história a esse respeito...
Havia um mágico que vivia numa floresta densa e tinha muitas ovelhas, que eram seu único alimento. No meio da floresta, ele mantinha todas aquelas ovelhas somente para matá-las diariamente, uma a uma. Naturalmente, as ovelhas tinham muito medo dele e costumavam correr pela floresta, temendo que qualquer dia fosse o seu dia de morrer. As companheiras que eu tinha já se foram, não se pode confiar... Por puro medo, elas costumavam fugir para muito longe, entrando profundamente pela floresta. E todo dia era uma canseira tentar encontrá-las.
Finalmente, o mágico recorreu a um truque. Ele hipnotizava as ovelhas, dizendo-lhes: "Você é uma exceção; todo mundo pode ser morto, mas não você. Você não é uma ovelha comum; você tem um privilégio divino". Para as outras dizia: "Vocês não são ovelhas; são leões, tigres, lobos. Só as ovelhas são mortas. Não precisam esconder-se na floresta; seria muito embaraçoso um leão se escondendo na floresta com medo de ser morto - só as ovelhas são mortas". Dessa forma, ele conseguia hipnotizar todas as ovelhas.
Chegava inclusive a dizer para algumas delas: "Vocês são homens, seres humanos, e os seres humanos não se matam uns aos outros. Vocês são exatamente como eu (ser humano). Nunca tenham medo nem tentem fugir por medo". Desde esse dia, nenhuma ovelha voltou a fugir para se esconder na floresta, embora todas elas vissem diariamente que uma delas era abatida e morta (como vemos todos os dias, não é mesmo?). Mas é claro que todas pensavam: ela deve ser uma ovelha; eu sou um tigre, um leão, um ser humano. Eu sou especial e excepcional, tenho um privilégio divino... Eram essas as histórias que o mágico botava em suas cabeças.
Gurdjieff afirma que, se não nos conscientizarmos da primeira coisa - de que estamos numa prisão, que somos a prisão -, não existe esperança de liberdade. Se você já acredita que é livre, é por ser uma ovelha hipnotizada que pensa ser um leão - excepcional, não é preciso ter medo -, que acredita inclusive que é um ser humano (divino). Você continua vendo outras ovelhas serem mortas, mas ainda está sob efeito da hipnose, sem tomar consciência de sua condição concreta. Ser livre, quando já sabemos que somos livres, não constitui problema.
Todas as religiões juntas, talvez involuntariamente, geraram um tremendo estado hipnótico. As pessoas acreditam ter almas imortais. Não estou dizendo que você não tem, mas apenas que não sabem em que acreditam. E, como acreditam que têm uma alma imortal, nunca descobrem que já a têm. Disseram-lhes: "Vocês são o reino de Deus"... e é tão cômodo e consolador acreditar nisso. Mas não existe uma maneira de buscar e tentar descobrir se essa crença hipotética tem algum fundo de verdade, ou é apenas um truque hipnótico usado pela sociedade (pelos manipuladores da sociedade) para mantê-lo livre do medo da morte, da doença, da velhice, da solidão (e manter você disponível para ser sacrificado, quando for conveniente).
O seu Deus pode ser apenas uma hipnose psicológica. Não é uma descoberta sua. Isso é verdade: até aqui, é a absoluta verdade. Ele (Deus) foi implantado em sua mente e, como você continua acreditando nele, a sua crença impede qualquer aventura de busca da verdade.
Geralmente, estão sempre lhe dizendo que, se não acreditar, você não encontrará. Mas a verdade é exatamente o contrário. A crença é uma barreira para se encontrar a verdade, não é uma ponte. Os que acreditam nunca encontram, pois sequer se dão ao trabalho de buscar; não há necessidade, "já sabem"...
Você está numa prisão e se julga livre.
Você está preso a grilhões, mas acha que são apenas adornos. É um escravo (numa sociedade escravagista), mas lhe disseram que você é apenas humilde, simples, que é assim que deve ser uma pessoa religiosa como você. Você está cercado de muitas estratégias hipnóticas desenvolvidas pela sociedade ao longo das eras. E essas estratégias hipnóticas são a causa essencial da sua ignorância, do seu sofrimento, da sua falta de esclarecimento (de suas doenças físicas e mentais).
De modo que a primeira coisa a ter em mente é que você está numa prisão. A partir do momento em que você reconhece que está numa prisão, você já não pode mais tolerá-la. Ninguém a tolera; ela vai contra a sua dignidade humana. Você começará a encontrar maneiras de sair dela. Começará a conhecer pessoas que já se libertaram. Pode começar a buscar ajuda além das muralhas, pois lá fora existem pessoas capazes de oferecer todo tipo de ajuda. Mas elas não serão de ajuda alguma se você acreditar que já está vivendo em absoluta liberdade.
Se você acredita que essa prisão é a sua casa, seria naturalmente absurdo pensar em se livrar dela. Você acredita que o muro que o mantém prisioneiro é uma proteção para você. Estaria portanto fora de questão fazer um buraco na parede para escapar, ou encontrar uma escada, ou ainda buscar ajuda lá fora. Pode até ser lançada uma corda lá de fora, ou providenciada uma escada, mas isso só teria valia se for reconhecido o principal: que você está numa prisão. George Gurdjieff estava constantemente insistindo: "É a principal coisa a entender. Sem isso, não pode haver avanço para o esclarecimento. Se você acha que é livre, você não pode escapar".
Fonte: Osho, Encontros com pessoas notáveis, Editora Academia, São Paulo, 2009.
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