quinta-feira, janeiro 27, 2011
Os Loucos
"Se não vos tornardes de novo como as criancinhas, não podereis entrar no Reino dos céus", Jesus (Mateus 18: 3)
Existe um método do Tantra que consiste em olhar para o espaço, para o céu, sem nada ver. Olhar com os olhos vazios. Olhando e, ainda assim, não procurando algo para ver: apenas um olhar vazio.
Às vezes você vê um olhar vazio nos olhos de um louco - os loucos e os sábios parecem-se, em certos aspectos. Um louco olha para o seu rosto, mas você percebe que ele não está olhando para você. Ele apenas olha através de você, como se você fosse feito de vidro transparente. Você apenas está no caminho dele, mas ele não está olhando com interesse para você. Para ele, você é transparente. ele olha para além de você, através de você. Olha sem olhar para você; o para não está presente, o louco simplesmente olha.
Olhe para o céu sem procurar algo, porque se você procurar algo será possível que surja uma nuvem: "algo" significa uma nuvem, "nada" significa a vasta extensão do azul-celeste. Não procure nenhum objeto. Se você procurar um objeto, o próprio ato de olhar criará o objeto; uma nuvem aparecerá e, então, você olhará para ela. Não olhe para as nuvens. Mesmo que haja nuvens, não olhe para elas - olhe, simplesmente. Deixe que elas flutuem, pois elas estão ali. Até que chega um momento em que você se sincroniza com esse olhar tipo não-olhar: as nuvens desaparecem para você, só o vasto céu permanece. Isso é difícil, porque seus olhos estão focalizados e sincronizados para olhar as coisas.
Olhe para uma criança pequena, no dia em que ela nasce. Ela tem os mesmos olhos de um sábio - ou de um louco: soltos e flutuantes, sem se focarem em nada em especial. Ela pode trazer ambos os olhos para o centro, deixar que eles flutuem para os cantos opostos, seus olhos ainda não estão fixos. Seu sistema é líquido, seu sistema nervoso ainda não é uma estrutura, tudo é flutuante. Assim, uma criança olha as coisas sem olhar, é o olhar de um louco. Observe a criança: o mesmo olhar é necessário a você porque você deve conseguir, de novo, uma infância.
Observe um louco, porque o louco é alguém que saiu fora da sociedade. A sociedade significa o mundo fixo dos papéis, dos jogos estabelecidos. Um louco é louco porque agora ele não tem papel fixo, saiu de seu papel (esperado), é um perfeito desaparecido. Um sábio também é um perfeito desaparecido, em uma dimensão diferente. Ele não é louco; na realidade, é a única possibilidade de sanidade pura. Mas o mundo inteiro é louco, fixo - por isso o sábio também parece louco. Observe um louco: esse é o olhar necessário.
Nos reinos da antiguidade, sempre era colocado um louco na corte do rei: ele era chamado de "Bobo da corte" (ou Coringa) e tinha liberdade para falar e fazer o que quizesse, algo que ninguém mais da corte tinha (essa liberdade de se exprimir). Isso era algo sábio, pois a opinião do Bobo era independente da corte e poderia apontar direções de ações não cogitadas pela realeza.
Nas antigas escolas de sabedoria do Tibete havia sempre um louco, só para que os inquiridores pudessem observar seus olhos. O louco era muito importante. Procuravam-no porque um mosteiro de prestígio não podia existir sem um louco. Ele tornava-se objeto a ser observado. Os inquiridores observavam o homem, seus olhos, e, então, tentavam olhar para o mundo como o louco olhava. Eram, aqueles dias, muito belos.
No Oriente, os loucos nunca sofreram como sofrem no Ocidente. No Oriente eles eram valorizados, um louco era algo especial. A sociedade cuidava dele, respeitava-o, porque o louco tem certas características de sábio, certas características de criança. Ele é diferente da chamada sociedade, da cultura, da civilização; saiu para fora de tudo isso. Naturalmente, caiu. Um sábio se evade para cima, um louco, para baixo - essa é a diferença - mas ambos se evadem da sociedade convencional. E tem similaridades. Observe um louco e, então, tente deixar que seus olhos permaneçam fora de foco, como eles.
Fonte: Osho, Tantra: A Suprema Compreensão, Editora Cultrix, 1992. ISBN 85-316-0364-1.
Existe um método do Tantra que consiste em olhar para o espaço, para o céu, sem nada ver. Olhar com os olhos vazios. Olhando e, ainda assim, não procurando algo para ver: apenas um olhar vazio.
Às vezes você vê um olhar vazio nos olhos de um louco - os loucos e os sábios parecem-se, em certos aspectos. Um louco olha para o seu rosto, mas você percebe que ele não está olhando para você. Ele apenas olha através de você, como se você fosse feito de vidro transparente. Você apenas está no caminho dele, mas ele não está olhando com interesse para você. Para ele, você é transparente. ele olha para além de você, através de você. Olha sem olhar para você; o para não está presente, o louco simplesmente olha.
Olhe para o céu sem procurar algo, porque se você procurar algo será possível que surja uma nuvem: "algo" significa uma nuvem, "nada" significa a vasta extensão do azul-celeste. Não procure nenhum objeto. Se você procurar um objeto, o próprio ato de olhar criará o objeto; uma nuvem aparecerá e, então, você olhará para ela. Não olhe para as nuvens. Mesmo que haja nuvens, não olhe para elas - olhe, simplesmente. Deixe que elas flutuem, pois elas estão ali. Até que chega um momento em que você se sincroniza com esse olhar tipo não-olhar: as nuvens desaparecem para você, só o vasto céu permanece. Isso é difícil, porque seus olhos estão focalizados e sincronizados para olhar as coisas.
Olhe para uma criança pequena, no dia em que ela nasce. Ela tem os mesmos olhos de um sábio - ou de um louco: soltos e flutuantes, sem se focarem em nada em especial. Ela pode trazer ambos os olhos para o centro, deixar que eles flutuem para os cantos opostos, seus olhos ainda não estão fixos. Seu sistema é líquido, seu sistema nervoso ainda não é uma estrutura, tudo é flutuante. Assim, uma criança olha as coisas sem olhar, é o olhar de um louco. Observe a criança: o mesmo olhar é necessário a você porque você deve conseguir, de novo, uma infância.
Observe um louco, porque o louco é alguém que saiu fora da sociedade. A sociedade significa o mundo fixo dos papéis, dos jogos estabelecidos. Um louco é louco porque agora ele não tem papel fixo, saiu de seu papel (esperado), é um perfeito desaparecido. Um sábio também é um perfeito desaparecido, em uma dimensão diferente. Ele não é louco; na realidade, é a única possibilidade de sanidade pura. Mas o mundo inteiro é louco, fixo - por isso o sábio também parece louco. Observe um louco: esse é o olhar necessário.
Nos reinos da antiguidade, sempre era colocado um louco na corte do rei: ele era chamado de "Bobo da corte" (ou Coringa) e tinha liberdade para falar e fazer o que quizesse, algo que ninguém mais da corte tinha (essa liberdade de se exprimir). Isso era algo sábio, pois a opinião do Bobo era independente da corte e poderia apontar direções de ações não cogitadas pela realeza.
Nas antigas escolas de sabedoria do Tibete havia sempre um louco, só para que os inquiridores pudessem observar seus olhos. O louco era muito importante. Procuravam-no porque um mosteiro de prestígio não podia existir sem um louco. Ele tornava-se objeto a ser observado. Os inquiridores observavam o homem, seus olhos, e, então, tentavam olhar para o mundo como o louco olhava. Eram, aqueles dias, muito belos.
No Oriente, os loucos nunca sofreram como sofrem no Ocidente. No Oriente eles eram valorizados, um louco era algo especial. A sociedade cuidava dele, respeitava-o, porque o louco tem certas características de sábio, certas características de criança. Ele é diferente da chamada sociedade, da cultura, da civilização; saiu para fora de tudo isso. Naturalmente, caiu. Um sábio se evade para cima, um louco, para baixo - essa é a diferença - mas ambos se evadem da sociedade convencional. E tem similaridades. Observe um louco e, então, tente deixar que seus olhos permaneçam fora de foco, como eles.
Fonte: Osho, Tantra: A Suprema Compreensão, Editora Cultrix, 1992. ISBN 85-316-0364-1.
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