quarta-feira, dezembro 27, 2023
Produção de açucar
O AÇÚCAR ESTÁ EM ALTA NO MUNDO!
“O açúcar está em alta no mundo e essa é uma ótima notícia para o Brasil, que é o maior produtor e exportador mundial do produto. Com o aumento da demanda, o País pode aproveitar para colher os frutos dessa recuperação e se posicionar como um líder na transição energética. Para isso, é importante que o Brasil aproveite as oportunidades que se apresentam, especialmente na forma de investimentos estrangeiros. O País tem um setor sucroenergético forte e com um perfil alinhado às alternativas para a produção de energia renovável”.
Nos últimos anos, produtores de açúcar enfrentaram quedas recorrentes nos preços, provocadas por aumentos na oferta. A geração de excedentes derrubou as cotações do contrato de açúcar número 11 na Bolsa de Nova York (ICE Futures), que operou abaixo de 11 centavos de dólar por libra-peso (ou US$ 242,508/tonelada) nos anos de 2015, 2016, 2018 e 2020. Esse cenário causou turbulência no mercado do açúcar.
No entanto, há sinais de esperança no horizonte. A safra atual evolui em novo cenário. Está animadora para o setor sucroenergético, com o preço do açúcar em alta nos mercados internacionais, apresentando tendência para se manter acima de 27 centavos/libra-peso (US$ 595,247/t), possivelmente também no próximo ano. Com essa reviravolta importante, vamos analisar os fatores impulsionando essa mudança e seus possíveis impactos.
O açúcar é um produto essencial, cujo alcance se estende muito além dos limites dos armários de nossas cozinhas. Desempenha um papel crucial na indústria alimentar, presente em aproximadamente 80% dos alimentos processados e numa impressionante variedade de mais de 100 mil diferentes produtos, segundo estimativas apresentadas pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). No entanto, não se trata apenas de satisfazer nossa vontade de comer doces. O açúcar também deixa sua marca em produtos de higiene pessoal, medicamentos, produtos para animais de estimação, cosméticos, produtos químicos e corantes industriais. Sua versatilidade não tem limites.
Ao contrário de outros produtos, como a soja, a procura de açúcar está espalhada por vários países. Enquanto a soja é usada principalmente como fonte de proteína e óleo, o açúcar tem um apelo mais universal como fonte barata de energia. É uma necessidade básica que gera uma infinidade de empregos, especialmente nos países em desenvolvimento, onde é produzido a partir da cana. Com cerca de 110 países envolvidos na produção de açúcar, os desafios de coordenação da produção e dos preços são grandes. Felizmente, a existência de mercados de futuros robustos, como a venerada Bolsa de Nova York, proporciona consolo. O seu poder de internalizar os choques globais de preços capacita os países produtores de açúcar a enfrentarem as tempestades que ameaçam as suas doces ambições. Esta interligação global também significa que os países fortemente dependentes das exportações de açúcar são vulneráveis aos choques internacionais nos preços. O Brasil, por exemplo, funciona como um importante player no mercado mundial de açúcar. Apesar do seu tamanho e influência, o País está sujeito aos caprichos dos preços internacionais. Sem um fato novo definir uma mudança estrutural nesse mercado, nada impede que, de dois a três anos, os preços voltem aos baixos níveis de 2020.
A diferença entre oferta e demanda no mercado mundial na presente temporada parece baixa para um aumento tão expressivo nos preços, sugerindo que, ao contrário do que se diz, o mercado internacional de açúcar não é “tão bem consolidado e relativamente estável”. A ISO (Organização Internacional do Açúcar) estima um consumo em 2023/24 da ordem de 176,9 milhões de toneladas, contra uma produção de 174,84 milhões de toneladas. A reviravolta veio, portanto, de uma queda na produção em relação ao consumo nas últimas temporadas mundiais, que deve resultar em um déficit de 2,118 milhões de toneladas. Além do déficit entre produção e consumo global, acredita-se que a demanda por importação, de 64,373 milhões de toneladas, supera a disponibilidade para exportações, estimada em 61,559 milhões de toneladas.
Faz todo sentido considerar que, no caso brasileiro, a demanda internacional é tão importante ou até mais que a do mercado interno na definição do patamar de preços no nosso mercado. O País exporta de 35 a 38% do comércio global de açúcar, um volume bem acima do consumo doméstico. Este último não é baixo, vem se mantendo próximo a 10 milhões de toneladas, o que o posiciona como o segundo maior país consumidor de açúcar, depois da Índia. Na presente safra, o Brasil deve produzir 40 milhões de toneladas de açúcar, de forma que a sua exportação atenderia quase metade da demanda mundial por importação de açúcar. Como o mercado interno absorve um volume menor que o do externo, mudanças nos preços do açúcar no mercado internacional afetam a indústria açucareira brasileira de maneira mais expressiva.