domingo, janeiro 24, 2010

 

Depressão e Alimentação

"Mente sã em corpo são", ditado popular

Nossa alimentação rotineira afeta o corpo e a mente. Portanto, distúrbios mentais (e do cérebro), como depressão e demência, podem ser causados pela alimentação inadequada, para determinadas pessoas. A pesquisa abaixo [1] comprova isso.

Alimentação ruim pode dobrar risco de depressão
Estudo aponta ação da chamada "junk food" no desenvolvimento do distúrbio
Conclusões são de pesquisa que acompanhou cerca de 3.500 pessoas; atividade inflamatória de alimentos pode explicar os resultados

Um padrão alimentar baseado em carnes processadas, gorduras trans e saturadas, cereais refinados, açúcar e aditivos alimentares (corantes, conservantes, etc) dobra o risco de depressão na meia idade. A afirmação é de um estudo, publicado no "British Journal of Psychiatry", que acompanhou quase 3.500 homens por cinco anos, no Reino Unido.

Pesquisadores do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública do University College, em Londres, e do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica de Montpellier (França) utilizaram a base de dados do estudo de coorte Whitehall 2, que envolve vários países e inclui no total 10.308 pessoas.

Com os dados do estudo de coorte, os pesquisadores puderam controlar uma ampla gama de variáveis, como condições sociodemográficas, hábitos de vida e parâmetros médicos.

O padrão alimentar foi definido em dois grupos: alimentação integral (alto consumo de vegetais, frutas e peixe) e industrializada (alto consumo de doces, frituras, carne processada, gorduras trans e saturadas e cereais refinados). O mais alto grau diz respeito à ingestão dos alimentos de cada grupo seis ou mais vezes por dia; o grau mais baixo significa que os alimentos não são consumidos nunca ou menos de uma vez por mês.

Após cinco anos, os participantes responderam a um questionário padronizado para medir os sintomas da depressão. Os pesquisadores fizeram, então, os ajustes para eliminar fatores como atividade física, doenças crônicas, tabagismo e depressão preexistente. Mesmo excluindo esses potenciais influenciadores, o grupo com o padrão alimentar baseado em alimentos industrializados apresentou o dobro de chances de desenvolver depressão.

"O efeito deletério dos alimentos industrializados na depressão é uma descoberta nova. Precisamos de mais estudos para explicar essa associação, mas a hipótese é que ela se deve ao maior risco de inflamação e doenças do coração, que estão envolvidas na depressão", disse à Folha Tasmine Akbaraly, coordenadora do estudo.

Para Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), estudos mostram que substâncias produzidas por certos alimentos levam à produção de proteínas com ação pró-inflamatória e que, entre essas, muitas são gatilhos da depressão.

"A alta ingestão de produtos industrializados cria uma sinalização inflamatória. As substâncias secretadas pelo intestino comunicam para os sistemas hipotalâmico [relacionado à secreção de neuro-hormônios] e límbico [relacionado às emoções] essa agressão", diz a endocrinologista e nutróloga Vânia Assaly, membro da International Hormone Society.

Akbaraly diz que essas hipóteses precisam ser testadas. "Queremos verificar o quanto uma dieta saudável pode diminuir o risco de depressão. E ainda não temos evidência de que mudar o padrão alimentar pode reverter o distúrbio".

Para Ricardo Moreno, coordenador do programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria da USP, mesmo sendo preciso mais evidências, o estudo traz um importante recado. "Ele mostra como as medidas de bom senso, entre elas um dieta saudável, funcionam de fato como fatores de proteção ao desenvolvimento da depressão", diz.

GORDURA TRANS
Aumenta a produção de substâncias oxidantes pro até 3 horas após a refeição; estas substâncias ativam genes que levam a produções de substâncias pró-inflamatórias, como a IL 6 (interleucina 6). O aumento de IL 6 é observado em quadros depressivos.

CEREAL REFINADO
Cria desequilíbrios na flora intestinal, reduzindo a quantidade de bactérias "boas", que combatem infecções; o aumento das bactérias meléficas sinaliza inflamação, estimulando a produção de substâncias que alteram o equilíbrio hormonal e neurológico.

GORDURA SATURADA
Pode causar obstrução das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo para o cérebro e afetando o seu funcionamento; também ativa a produção de substâncias pró-inflamatórias.

CORANTES, CONSERVANTES, EDULCORANTES
Aumentam a produção de substâncias oxidantes por pelo menos 3 horas após a refeição; o cérebro "entende" essas substâncias como tóxicas e aciona o seu sistema de defesa, aumentando a produção de substâncias relacionadas aos processos inflamatórios.

AÇÚCAR
A oferta, por curto período, de energia em alta concentração causa oscilações bruscas na bioquímica cerebral e no humor; aumenta a produção de substâncias oxidantes por cerca de 2 horas após a refeição.

Referência:
[1] Iara Biderman, Jornal Folha de S. Paulo, Seção Saúde, pg. C9, 22 de janeiro de 2010.

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