quarta-feira, junho 26, 2013

 

Pesticida em Alimentos


Teste rápido detecta pesticida em alimentos [1]
Biossensor criado pela Universidade Federal de Mato Grosso usa nanotecnologia para encontrar contaminação
Aparelho foi desenvolvido para achar agrotóxico que, apesar de banido, continua a ser usado

Pensando na proteção dos trabalhadores agrícolas e nos consumidores de alimentos, um esforço conjunto da USP (Universidade de São Paulo) e da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) criou um teste rápido e portátil para detectar a presença de um pesticida (metamidofós) cujo uso foi banido no Brasil, mas que ainda é encontrado em lavouras brasileiras, sobretudo na região Centro-Oeste.

Hoje, a identificação do metamidofós depende de exames laboratoriais. Estados que não dispõem dessas estruturas precisam enviar suas amostras a outros lugares - principalmente São Paulo e Rio de Janeiro - para detectar a substância, processo que leva até dez dias.

Com o novo método, o agrotóxico é identificado em aproximadamente 30 minutos.

"A detecção clássica de pesticida requer treinamento de pessoal e uso de equipamentos complexos, além da resposta demorada. Com a utilização deste biossensor, daria para treinar o próprio produtor e os trabalhadores. É fácil de usar e ainda dá para levar no bolso", afirma Izabela Gutierrez de Arruda, autora do trabalho. 

Natural de Cáceres, no Estado de Mato Grosso, a pesquisadora diz que a realidade da agricultura em seu Estado, no qual trabalhadores rurais sofrem com a intoxicação pelo metamidofós, inspirou sua pesquisa.

As propriedades desse pesticida fazem com que ele seja prejudicial para as funções neurológicas. Além disso, também causa danos aos sistemas imune, reprodutor e endócrino.

O TRABALHO

O conjunto funciona nos moldes de um leitor de glicose usado por diabéticos.

Uma fita, que serve como reagente, é inserida no material a ser testado e, depois, colocada em um aparelho portátil.

O biossensor é uma película finíssima contendo a enzima acetilcolinesterase que, quando entra em contato com as moléculas do metamidofós, tem sua ação inibida. Isso diminui a produção de prótons, mudança que é "lida" pelo aparelho, levando à indicação dos índices de contaminação na amostra.

O dispositivo detecta o agrotóxico na água e também nos alimentos - que precisam ser liquidificados antes de passar pelo exame.

OUTROS USOS

"Com esse mesmo princípio, seria possível identificar também outros agrotóxicos das classes dos organofosforados ou carbamatos [que incluem outros produtos em uso no Brasil]", completa a pesquisadora.

Responsável por "abraçar" o projeto do IFSC (Instituto de Física de São Carlos) da USP, o professor Francisco Eduardo Gontijo Guimarães destaca o uso da tecnologia avançada, mas que cabe na palma da mão.

"O uso de nanomateriais potencializou os efeitos da enzima e acelerou o processo", explica o pesquisador.

Orientador do trabalho, Romildo Jerônimo Ramos, da Universidade Federal de Mato Grosso, diz que a pesquisa tem também um aspecto social muito importante, facilitando a identificação da contaminação dos lençóis freáticos e evitando que trabalhadores e moradores de regiões rurais sejam atingidos por seus graves efeitos.

O biossensor já foi registrado. A descoberta foi a primeira patente da Universidade Federal de Mato Grosso.

O grupo de estudo, que contou ainda com a participação do pesquisador Nirton Cristi Silva Vieira, aguarda agora investimentos para dar prosseguimento ao projeto, sobretudo vindo de empresas e indústrias. Os custos do aparelho devem ficar entre R$ 100,00 e R$ 200,00, mas podem ser reduzidos a depender da escala de produção.

Referência:
[1] Giuliana Miranda, Jornal Folha de São Paulo, Caderno Ciência+Saúde, pg. C7. 12 de junho de 2013.
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