segunda-feira, janeiro 08, 2018

 

Enquanto Dormes


Trechos do livro de Leni W. Saviscki [1]

Jesus disse: "Nenhum fio de cabelo cai de vossas cabeças sem que o Pai o saiba". Tudo o que acontece no plano físico, primeiro se concretiza no Astral. Aquilo que chamamos de "desgraça", na verdade foi um mal necessário. O que realmente tem valor e é imortal é o espírito, onde reside a vida. Quem estava naquele momento dentro da aeronave que caiu? Inocentes? Não, ou então a Lei Divina seria como a dos homens, injusta e falível.  Agruparam-se naquele momento no avião todos os espíritos que precisavam passar por aquela experiência, para seu aprendizado, seja por resquícios cármicos trazidos de vivências passadas ou por freio necessário à vivência atual. Tal fato fica claro quando se descobre que algumas pessoas que viajariam  naquele voo, por algum motivo, o perderam, ou quando se noticia que, milagrosamente, alguém sobreviveu ao desastre. Sendo assim, o responsável pelas nossas desgraças ou pelas nossas conquistas somos nós mesmos, ninguém mais. Da Terra se leva a vida que ali se levou e, consequentemente, cada um terá o desencarne da maneira como é necessário.  Muito sofrimento seria evitado se todos abrissem os ouvidos e compreendessem que a vida é imortal; que a chamada morte é somente uma passagem em que se perde o uniforme usado na Terra e que, do outro lado, continuamos vivos e atuantes.

Algumas vezes a mente física consegue captar e trazer à tona boa parte da sabedoria gravada em seu inconsciente, região onde guardamos toda nossa história de vida, desde que adquirimos consciência na forma hominal, senão antes disso. 

Como não existem penas perpétuas nem castigo divino, pois Deus é Pai e não carrasco, também podemos curar as feridas que trazemos em nós, curando as feridas dos outros, antes que a Lei nos pegue endividados e precisemos ressarcir com a mesma moeda ("olho por olho, dente por dente"). O objetivo da reencarnação não é voltar para pagar contas atrasadas, mas aprender a lição ignorada anteriormente e, dessa forma, desapegar do ego, auxiliando a todos a fazer o mesmo a fim de ajudar a melhorar o mundo. É desse jeito que ressarcimos, total ou parcialmente, o nosso saldo devedor.

O corpo físico é o templo que abriga nosso espírito na Terra; por isso, deve ser respeitado e bem cuidado. Porém, sendo templo, não é divindade. Quando os valores se invertem e esquecemos do que é imortal para endeusar somente o que é perecível, estamos nos condenando a perder os dois, pois no momento em que se devolve à terra o que é da terra (via morte), o espírito, que continua vivo, sente-se à deriva, já que perdeu seu comandante. E quem deve comandar nossa existência é nosso espírito, exercício que deve ser aprendido ainda pela grande maioria. 

O espírito que desencarna não se transforma em santo, muito menos em fantasma. Não desaparece nem evapora. Apenas se despe do uniforme carnal que não lhe serve mais, para seguir em corpo fluídico, invisível aos nossos olhos físicos. Mas esse "seguir" não significa que todos que morrem conseguem imediatamente se desvincular do plano terreno. Para os que têm essa dificuldade, são necessários atenção e tempo especial dos socorristas, que, por sua vez, necessitam do auxílio imprescindível dos encarnados, principalmente dos familiares e amigos, nas primeiras horas pós-morte. 

Qualquer dor que causamos ontem vem bater na nossa porta hoje, em busca de ressarcimento. Por isso, não existem vítimas diante das leis supremas. Existem, sim, devedores com saldo negativo, trazido do Além-túmulo. A melhor fórmula medicamentosa existente em nosso mundo é o perdão, pois por meio dele conseguimos nos libertar de um fardo do passado. 

Nós, espíritos desencarnados, quando autorizados pela Grande Energia, temos a plasticidade de um corpo astral modificável na aparência e na forma, porém mantendo sempre a essência e o objetivo de nossa missão, que é o que realmente interessa. A casa de caridade que trabalha com a espiritualidade, seja ela um terreiro de umbanda ou outro templo qualquer, é um hospital de almas. Para lá se encaminham os necessitados de cura para suas dores emocionais, mentais ou espirituais e, por que não, também físicas. O ser humano atual não sabe mais parar, muito menos introspectar-se, razão pela qual também sofre. O espelho disso são os consultórios médicos e terapêuticos sempre lotados e, da mesma forma, os centros espiritualistas. As pessoas não se conhecem porque não se olham e, se o fazem, não se enxergam. Resta então buscar alguém que lhes diga o que está errado nelas ou que lhes receite um remédio, um alívio. Mas, para certas dores, não há calmante; há, sim, mudanças de atitude a serem feitas, ou seja, uma reeducação. Quando silenciamos nossa mente e conseguimos nos conectar com nosso "eu" superior, já terapeutizamos, com esse gesto, cinquenta por cento de nossas dores. Nessa condição de quietude, nos tornamos aptos e acessíveis aos espíritos que ali estão presentes para o auxílio fraterno.

Todos nós temos um mestre interior muito sábio e, quando aprendemos a ouvi-lo, nos surpreendemos com as mudanças positivas que ocorrerão em nossa existência. As entidades que ali estão são seres dispostos ao auxílio, mas acima de tudo aprenderam a respeitar o livre-arbítrio do outro e por isso só podem ajudar a quem estiver apto a receber essa ajuda. Nem Jesus curou a todos, mas somente aqueles que tinham fé e merecimento. Quando os templos entenderem que não se ajuda "resolvendo" o problema do sofredor, mas que é preciso fazê-lo compreender como se processa a autocura, as filas de sofredores diminuirão, dos dois lados da vida.

Se existe um crime que se possa praticar contra a evolução de um ser, é lhe negar informações, é deixar de ensiná-lo, de lhe apontar o caminho. Por outro lado, cuidado com a imposição. É preciso respeitar o livre-arbítrio e, se um espírito se nega ao aprendizado, nada lhe imponha, mas também não o carregue no colo. É assim que o Grande Pai faz com Seus filhos: dá a todos as mesmas oportunidades e os deixa livres para escolher, isentando-se no entanto de estancar sua dor se esta foi sua escolha. 

O objetivo da luz não é "combater" as trevas, mas sempre foi e sempre será, enquanto essa dualidade habitar nosso mundo, transmutá-la, mesmo porque não podemos prescindir do auxílio paradoxal do Astral inferior que, fustigando muitos seres, os estimula à evolução. Apesar da aparência caótica de nosso mundo físico e astral na atualidade terrena, o time da luz atua com melhor e mais qualificado número de seres, o que está exigindo das trevas tremendo esforço e desgaste de suas falanges, facilitando o socorro dos dissidentes cansados da luta. 

Erros passados são vento que já foi embora e a cada dia o Sol nasce de novo, trazendo vida e esperança. Ninguém tem o poder de mudar o outro, mas pode e deve mudar a si próprio e que essa mudança seja sempre para melhor. E a melhor maneira de ensinar é pelo exemplo. Quanto mais cedo nos aperfeiçoarmos, mais cedo sairemos da roda reencarnatória. Mas enquanto nela estiverem, abençoem o corpo físico que lhes permite adquirir novos aprendizados e ao mesmo tempo drenar os desajustes cármicos do corpo espiritual.

Todas as criaturas humanas reencarnadas no planeta têm os mesmos direitos e deveres em relação ao dinheiro. Ele existe para assegurar aos homens a evolução. Seu objetivo é nobre e salutar, mas para isso precisa que ele se movimente de mão em mão, assegurando o progresso e a evolução. Sendo a moeda a retribuição do esforço, do trabalho, do suor do homem, ela é abençoada. Muitas vezes as pessoas amaldiçoam o dinheiro, acusando-o das desgraças humanas, seja na falta dele ou no excesso, quando isso lhes causa transtornos, como o sequestro, o roubo, o latrocínio etc. Porém, a ele não podemos culpar, mas sim ao mau uso dele pelo homem, ainda muito egoísta. Tanto não sabe mover essa energia, aquele que o despreza, como aquele que o endeusa; aquele que não o valoriza quando o tem, gastando com coisas supérfluas, como aquele que o retém de maneira abusiva. A Lei da Ação e Reação, que equilibra o Universo, nos revela que o miserável de hoje pode ter sido o mau rico de ontem. O rico de hoje o é por merecimento ou por provação, e, dependendo de como agirá com essa energia,criará seu amanhã. Na matemática da vida, existem dois conjuntos de operações carmáticas e perigosas: a subtração e a adição são carmáticas, ou seja, o "tirar dos outros para acumular para si". Duas, no entanto, são evolutivas e benéficas: o dividir e o multiplicar, ou seja, "distribuindo os dons que me são confiados eu, consequentemente, os multiplico", promovendo o progresso. O homem, nos dias de hoje, em seu materialismo desenfreado, na sua ganância de "ter" em detrimento do "ser", esqueceu sua origem divina e nisso reside todo o seu equívoco. O deus-dinheiro tornou-se o único objetivo de todas as lutas e conquistas, a despeito de que "o que veio do pó, ao pó retornará". O que é perene e eterno é seu espírito e não seu corpo. Do outro lado da cortina que divisa a vida material da espiritual, a moeda é outra. Para lá, cada um vai levar "a vida que viveu na Terra". Enganam-se as criaturas que pensam que o dinheiro tudo compra e lhes dá poder acima do bem e do mal. Acima de nós, há um poder maior e absoluto que a tudo comanda, que visa somente ao bem de todos e que está atento e podendo interferir quando o livre-arbítrio dos homens extrapola os limites permitidos. Ismael, um preposto de Jesus, na condição de espírito evoluído,foi conclamado pelo Mestre para ser o anjo tutela do Brasil, a pátria do Cruzeiro do Sul, comandando esse projeto de luz. Esta terra é abençoada, pois apesar de todas as distorções e do egoísmo de alguns homens, nossa gente é pacífica e trabalhadora. As religiões aqui se multiplicam, dando suporte à fé e levando o Evangelho ao coração daqueles que os têm humildes.

Para crer é preciso conhecer. A ignorância e o bitolamento de ideias só recebem incentivo das trevas. Façamos um mundo melhor nos melhorando. A dor não tem só objetivo de resgatar ou drenar erros pretéritos, mas é, principalmente, a oportunidade de um "acordar" os nossos talentos ocultos, a capacidade interior que jaz escondida e que, por meio dela, pode vir à tona. Quando aproveitada como ensinamento, o resultado é  um salto evolutivo; é o crescimento do espírito que passa a compreender a necessidade de se manter no bem. O valor da voz, sendo ela um dos sentidos divinos dados ao homem, deveria ser usada somente para construir, jamais para destruir. 

Além da paz, busque a sabedoria. O homem não erra porque é ruim, mas porque é ignorante. Ignorante das leis, do amor, da vida. Enquanto o espírito não se educa, e isso quase sempre ocorre na dor, ele continua a se encarcerar, seja na carne ou fora dela. O modelo de prisão usado pelos homens, na sua maioria, não educa nem salva ninguém. Ela tem sido uma faculdade do crime, onde quem entra no primário sai de lá diplomado. Além disso, ninguém está lá injustamente. A Lei da Ação e Reação realiza a justiça independentemente das leis humanas. A mesma dor que os animais sentem, quando aprisionados e maltratados, sente o homem. 

O morto não morreu, pois somos todos imortais. A vida palpita ainda mais viva do lado de lá, onde estão os chamados mortos. A interferência existente entre os  dois mundos é muito maior do que a maioria dos homens supõem. Tudo que existe, pré-existe além da matéria. Nada se perde, tudo se renova. O planejamento sideral prevê com séculos de antecedência todos os acontecimentos que se desenrolarão no plano físico, incentivando sempre o progresso. Tudo o que o homem já conhece não significa nada diante daquilo que ele ainda virá a conhecer.

Referência:
[1] Leni W. Saviscki, Enquanto Dormes, Editora do Conhecimento, 2010. ISBN: 978-85-7618-196-5.

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