sexta-feira, julho 27, 2018

 

A Patologia da Ambição


Todas as culturas e religiões o condicionam a ter sentimentos negativos sobre si. Ninguém é amado ou valorizado por ser o que é. Querem que você prove que tem valor: ganhe medalhas de ouro nos esportes; alcance o sucesso; tenha dinheiro, poder, prestígio, que seja respeitado. Prove-se! Seu valor não é intrínseco, isso é o que lhe ensinam. Seu valor deve ser provado.

Daí, surge na pessoa um profundo antagonismo, um sentimento de: "Não tenho o menor valor, a menos que possa provar o contrário." Pouquíssimas pessoas se dão bem neste mundo competitivo. Milhões e milhões de indivíduos competem. Quantos são bem-sucedidos? Quantas pessoas podem se tornar presidentes e primeiros-ministros? Em um país de milhões, só uma pessoa se tornará presidente, mas, no fundo, todos anseiam por esse cargo. Milhões não conseguem ver seu próprio valor. Quantos indivíduos se tornam grandes pintores? Entretanto, todos têm algo para criar. 

A ideia do sucesso é torturante. A ideia do sucesso, de que você precisa ser bem-sucedido, é a maior calamidade que já se abateu sobre o mundo. E o sucesso significa que você deve competir, deve lutar - por meios limpos ou não, isso não importa. Se obtiver sucesso, tudo bem.O ponto-chave é o sucesso; mesmo que o consiga por meios ilícitos, uma vez alcançado o sucesso, tudo o que se tiver feito no caminho é aceitável.

O sucesso muda a qualidade de todos os seus atos. O sucesso transforma o mal em bem. A única pergunta válida é: como obter o  sucesso, como chegar ao topo? Naturalmente, pouquíssimas pessoas chegam ao topo. Se todos tentarem chegar ao cume do Everest, quantos poderão permanecer lá? Não há espaço suficiente no pico; só uma pessoa pode se sustentar com facilidade. Os outros milhões de indivíduos que tentarem se sentem fracassados e suas almas são dominadas por um grande desespero. Começarão a se sentir negativos.

Essa é uma forma errada de educação. Essa educação que você recebeu é extremamente venenosa. Suas escolas e faculdades, suas universidades o estão envenenando. Criam amargura; são locais onde se fabricam infernos, mas de uma maneira tão bela que você nunca se dá conta do que realmente acontece. O mundo inteiro se tornou um inferno, por causa da educação errada. Qualquer educação que se baseie na ideia de ambição cria um inferno na Terra, e se dá bem com isso.

Todo mundo está sofrendo e se sentindo inferior. É uma situação realmente estranha. Ninguém é inferior e ninguém é superior, porque cada indivíduo é único; nenhuma comparação é possível. Você é você, e você é simplesmente você, não pode ser outro. Nem há necessidade disso. Você não precisa ser famoso, não precisa ser um sucesso aos olhos do mundo. Essas são ideias tolas. Você só precisa ser criativo, amável, consciente, meditativo. A pessoa ambiciosa é uma pessoa patológica.

Apenas ser é intrinsecamente valioso. O fato de você ser já é uma dádiva da existência, que mais se pode querer? Simplesmente respirar nesta linda existência é prova suficiente de que a existência o ama, de que precisa de você; do contrário, você não estaria aqui. Você é! A existência lhe deu a luz. Devia haver uma falta enorme, e você a supriu. Sem você, a existência seria menor. E quando digo isso, não me refiro só a você, eu me refiro às árvores, aos pássaros, aos animais, aos pedregulhos na costa. Um único pedregulho a menos na imensa orla marítima e ela não seria a mesma. Uma única flor a menos e o universo sentiria falta dela. 

Você precisa aprender que é valioso como você é. E não estou lhe ensinando a ser egoísta, pelo contrário. Se você se sentir valioso como é, sentirá que os outros também o são.

Aceite as pessoas como elas são; abandone os "deveria ser" - eles são inimigos. As pessoas carregam muitos "deveria ser": "Faça isso e não aquilo!" Você carrega consigo tantos "faça isso" e "não aquilo" que não consegue dançar; o fardo é pesado demais. Deram-lhe tantos ideais e metas, ideais de perfeição, que você sente que está deixando a desejar. E os ideais são totalmente impossíveis de atingir. Você não consegue realizá-los; não há a menor possibilidade. Por isso, sente-se sempre inadequado.

Ser perfeccionista é preparar-se para o divã do psiquiatra; ser perfeccionista é ser um neurótico. E sempre nos disseram que devemos ser perfeitos.

A vida é bela em todas as suas imperfeições. Nada é perfeito: nem Deus é perfeito - porque, se Deus é perfeito, então Friedrich Nietzsche está certo ao afirmar que Deus está morto. Perfeição é morte! Perfeição é a não possibilidade de crescimento. Perfeição é o fim de tudo. Imperfeição é a possibilidade de crescer. Imperfeição é a excitação de novos campos, o êxtase, a aventura. Imperfeição é estar vivo, é a continuidade da vida.

A vida é eterna, por isso, afirmo que ela é eternamente imperfeita. Não há nada de errado em ser imperfeito. Aceite sua imperfeição e o sentimento negativo acerca de si próprio desaparecerá. Aceite seu estado atual e não o compare com alguma perfeição futura, um futuro ideal. Não pense em termos de como você deveria ser. Essa é a raiz de toda a patologia, fuja disso. Você é como é hoje; e amanhã pode ser diferente. Mas não pode prever isso hoje; e também não há necessidade de planejar isso.

Viva este dia em toda a sua beleza, em toda a sua alegria, e toda a sua dor, agonia, êxtase. Viva o dia em sua totalidade, em sua escuridão, em sua luz. Viva o ódio e viva o amor. Viva a raiva e viva a compaixão. Viva tudo o que existir neste momento.

Minha abordagem não é a de perfeição, mas da totalidade. Viva totalmente o momento que lhe está disponível; e o momento seguinte nascerá dele. Esqueça tudo sobre o futuro, o presente basta.

Jesus diz: "Não pense no amanhã e observe os lírios do campo! Como são belos. Nem Salomão, com todo o seu esplendor, se comparava em beleza." E qual é o segredo dos lindos lírios? O segredo é simples: eles não pensam no amanhã, nada sabem do futuro. O amanhã não existe. Este dia é suficiente para eles; este momento basta, em si. E o seu sentimento de negatividade quanto a si próprio desaparecerá.

Lembre-se: sentir-se negativo em relação a si próprio fará com que você sinta o mesmo a respeito das outras pessoas. Esse é um corolário necessário, que deve ser compreendido. A pessoa negativa a respeito de si mesma não pode ser positiva com mais ninguém, porque os defeitos que vê em si própria também serão vistos nos outros, aliás, parecerão defeitos ainda maiores nos outros. É uma vingança. Seus pais o fizeram se sentir negativo e agora você se vinga em seus filhos; fará com que se sintam ainda mais negativos.

Assim, a negatividade cresce a cada geração. Cada geração se torna cada vez mais patológica. Se as pessoas modernas sofrem tanto, psicologicamente falando, isso nada tem a ver com elas próprias; simplesmente mostra que todo o passado delas foi errado. É o acúmulo de todo o passado. Se não conseguirmos abandonar esse passado patológico e recomeçar do zero, vivendo no presente, sem ideia de perfeição, sem ideais, sem "deveria ser", sem mandamentos, a humanidade estará condenada.

Todo mundo se sente negativo. Alguns reconhecem isso, outros, não. E quando uma pessoa se sente negativa a respeito de si própria, também se sente assim a respeito de tudo mais. Sua atitude se torna negativa, a atitude do "não". E se uma pessoa negativa é levada até uma roseira, ela contará os espinhos, em vez de olhar as rosas.

Se você se sente negativo, tudo na vida se torna uma noite escura. Não existem mais madrugadas, as manhãs nunca chegam. O sol apenas se põe, e nunca nasce. Suas noites escuras nem ao menos têm estrelas.

A pessoa negativa vive nas trevas, vive uma espécie de morte. Morre lentamente. Autoboicota-se de várias maneiras; é autodestrutiva. E, claro, quem entrar em contato com essa pessoa é, também, destruído por ela. Uma mãe negativa destruirá seu filho. O marido negativo destruirá sua mulher; a mulher negativa destruirá o marido. Pais negativos destroem os filhos; o professor negativo destrói seus alunos.

É preciso uma nova humanidade que afirme a vida, que ame a vida, que ame o amor, que ame esta existência como ela é, que não exija perfeição, que celebre a vida com todas as suas limitações. Se amar sua vida, a vida começará a lhe abrir as portas. Se você amar, os mistérios serão revelados, os segredos serão expostos. Se você amar seu corpo, mais cedo ou mais tarde se tornará consciente da alma que nele vive. Se amar as árvores, as montanhas e os rios, cedo ou tarde verá as mãos invisíveis da existência por trás de tudo. Você só precisa de olhos para ver, e só os olhos positivos conseguem ver; olhos negativos nada veem.

Aceite-se; caso contrário, vai se tornar um hipócrita. E o que é um hipócrita? Um indivíduo que afirma crer em determinada coisa e vive o contrário. Não reprima nada, nada é negativo em você. A existência é inteiramente positiva. Expresse sua essência mais oculta. Cante sua música e não se preocupe com qual música é. Não espere aplausos, não há necessidade. O cantar, em si, deve ser a própria recompensa.

Se você quiser realmente viver, precisará de um profundo sim no coração. Só o sim lhe permite viver. Ele o alimenta, lhe dá espaço para se mexer. Observe. Ao simplesmente repetir a palavra sim, algo começa a se abrir em você. Diga não, repita não, e começará a se matar. Diga sim e estará pronto para amar, viver e ser.

Para mim, cada indivíduo é incrível, único. Não comparo as pessoas; a comparação não é o meu caminho, porque ela é sempre feia e violenta. Não direi que você é superior aos outros, nem que é inferior a este ou aquele. É apenas você mesmo; e é necessário, do jeito que você é. E você é incomparável, como todas as pessoas.

Referência:
[1] Osho, Meditação para ocupados - Estratégias de combate ao estresse para pessoas sem tempo para meditar, Editora Best Seller, Rio de Janeiro, 2016. ISBN: 978-85-7684-957-5.

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