terça-feira, julho 16, 2024

 

Conhecimento e Religião

A verdadeira religião só pode ser uma só, assim como a ciência. Por exemplo, você não tem uma física muçulmana, uma física hindu, uma física cristã, isso é pura maluquice. Mas é o que as religiões têm feito - e elas fizeram deste mundo um hospício.

Se a ciência é uma só, então por que a ciência espiritual (religião) não é uma só também? A ciência explora o mundo objetivo e a religião explora o mundo subjetivo. O funcionamento delas é o mesmo, o que muda é a direção e a dimensão. Numa era mais iluminada não haverá nada parecido com a religião atual, haverá apenas duas ciências: a ciência objetiva e a ciência subjetiva. A ciência objetiva lida com as coisas e a ciência subjetiva lida com o ser.

O erro mais básico de todas as atuais religiões é que nenhuma delas teve coragem suficiente para aceitar que existem coisas que não sabemos. Elas todas fingem saber tudo, fingem que são oniscientes. Por que isso aconteceu? Porque, se admitirem que não sabem algo, colocarão um ponto de interrogação na mente dos fiéis. Se elas não sabem uma coisa, então quem sabe? Talvez elas não saibam outras coisas também. Quem garante? Para garantir, todas elas fingem que sabem tudo, que são oniscientes.

O que existe de mais belo na ciência é que ela não finge ser onisciente. A ciência aceita as suas limitações humanas. Ela sabe até que ponto sabe e está ciente de que existe muito mais a descobrir.

Esse é o maior erro de todas as religiões: elas têm enganado a humanidade alardeando que sabem tudo.

Mas todos os dias elas são desmascaradas, assim como a sua falta de conhecimento; por isso elas lutam tanto contra qualquer tipo de progresso do conhecimento.

Uma das maiores qualidades de um homem realmente religioso é o seu grande senso de humor. Só os idiotas são sérios; é inevitável que sejam sérios. Para ser capaz de rir você precisa de um pouquinho de inteligência.

Todas as religiões do mundo têm de fingir que sabem tudo. Se algo existe, elas sabem. E sabem com perfeição; não poderia ser de outro modo.

O erro básico cometido por todas as religiões é não ter coragem de aceitar que o conhecimento delas é limitado. Elas não são capazes de admitir a própria ignorância acerca de nenhuma questão. Têm sido tão arrogantes que continuam dizendo que sabem tudo e ficam criando histórias fictícias à guisa de conhecimento.

Nenhuma religião tem coragem de dizer, "Sabemos até certo ponto, mas há muita coisa que ainda não sabemos; talvez no futuro isso mude. E além desse conhecimento há um espaço que permanecerá incognoscível para sempre".

Se as religiões tivessem essa humildade, o mundo seria totalmente diferente. A humanidade não estaria nessa mixórdia; não haveria tanta angústia. No mundo todo as pessoas vivem angustiadas. O que há para dizer a respeito do inferno?  Nós já estamos vivendo no inferno! Quanto mais sofrimento pode haver por lá? E as pessoas responsáveis por isso são consideradas religiosas. Elas continuam fingindo, encenando o mesmo teatro. Depois de séculos de ciência invadindo o território das religiões, destruindo sistematicamente o seu suposto conhecimento, vislumbrando novos fatos, novas realidades, o papa ainda é suposto infalível.

Um segundo ponto, é que todas essas religiões têm sido contra a dúvida. Elas, na verdade, têm medo da dúvida. Só um intelecto impotente pode ter medo da dúvida. pois a dúvida é um desafio, uma oportunidade de questionar.

Todas elas têm dizimado a dúvida e forçado a mente de todo mundo a pensar que, se você tem dúvida, você acabará indo para o inferno e sofrendo lá pela eternidade. "Nunca duvide".  A crença é fundamental, a fé, a fé absoluta - não adianta ter só um pouco de fé, você precisa ter fé absoluta. O que elas estão pedindo aos seres humanos? Algo completamente desumano. Um ser humano inteligente - como ele pode acreditar totalmente? Contra que dúvida ele estaria lutando para poder acreditar totalmente?

Existe a dúvida e ela não é destruída pela crença. A dúvida só é eliminada pela experiência.

As religiões dizem: acredite. Eu digo: investigue. Elas dizem: não duvide. Eu digo: duvide inicialmente de tudo, duvide até o fim, até chegar, conhecer, sentir e vivenciar. Então não haverá mais necessidade de reprimir a dúvida; ela evapora naturalmente. Você não precisa mais acreditar, você sabe.

Mas é isso o que todas as religiões pregam - elimine a dúvida e acredite, não investigue.

No momento em que você elimina a dúvida, você destrói algo de imenso valor, pois é a dúvida que vai ajudá-lo a questionar e descobrir. Ao eliminar a dúvida, você corta a própria raiz do questionamento; ele deixa de existir.

No Japão existe uma técnica curiosa, chamada Bonsai: corta-se periodicamente a raiz de uma árvore que seria muito grande e ela fica sempre pequena (árvore-anã), mas continua envelhecendo. Existem árvores bonsai com centenas de anos!

Esta atividade de bonsai no Japão mostra o que as religiões têm feito com o homem. Elas têm cortado as suas raízes para que o homem não cresça - só envelheça. E a primeira raiz que elas cortam é a da dúvida; quando essa raiz é cortada, deixa de existir questionamento (que leva à evolução).

Aceite-se. Respeite-se. Deixe que a sua natureza siga o seu curso. Não force nada, não reprima nada. Duvide - porque a dúvida não é pecado, é um sinal de inteligência. Duvide e não pare de questionar até chegar a uma resposta.

Uma coisa eu posso dizer: quem questiona, chega a uma resposta. Isso é absolutamente certo; nunca deixou de acontecer. Ninguém terminou de mãos vazias depois de um questionamento autêntico.

Sem uma autêntica religiosidade, você só pode vegetar, não pode viver de verdade. Você continua sendo superficial, não consegue atingir nenhuma profundidade, nenhuma autenticidade. Você não sabe nada sobre as suas próprias profundezas. Você sabe de si mesmo por meio dos outros, do que eles dizem. Assim como você conhece o seu rosto fitando a sua imagem no espelho, você conhece a si mesmo por intermédio da opinião alheia; você não se conhece diretamente. E as opiniões das quais você depende são de pessoas que vivem em situação parecida à sua; elas também não se conhecem.

Essas religiões criaram uma sociedade de pessoas cegas e continuam insistindo em dizer que você não precisa de olhos. Jesus tinha olhos; então por que os cristãos precisam de olhos? Tudo o que você precisa fazer é acreditar em Jesus; ele o conduzirá ao paraíso, você só precisa segui-lo. Não lhe deixam pensar, porque pensando você pode se desviar. Se você pensar, você fatalmente se desviará do caminho que eles querem que você siga, pois isso atiçará a sua dúvida, aguçará o seu intelecto. E isso é muito perigoso para as chamadas religiões. Essas religiões querem você entorpecido, morto, arrastando-se pela vida; elas o querem sem nenhuma inteligência. Mas elas sabem muito bem camuflar tudo isso com uma linda palavra: fé. A fé nada mais é do que o suicídio da inteligência.

A verdadeira religião não pede que você tenha fé; a verdadeira religião pede que você vivencie. A verdadeira religião ajudará você a encontrar a verdade.

E, lembre-se, a minha verdade pode nunca ser a sua verdade, pois não há maneira de transferir a verdade de uma pessoa para outra. A verdade de Maomé é a verdade de Maomé; ela não será sua só porque você se tornou maometano. Para você, a verdade dele não passará de uma crença. Jesus podia ter sido apenas um fanático, um neurótico. Esse é um ponto com que todos os psiquiatras, psicólogos e psicanalistas concordam: que Jesus é um caso a se estudar. Declarar-se o único filho bem-amado de Deus, declarar "Eu sou o messias que veio para redimir este mundo dos seus pecados" - você acha isso normal?

A verdade se revela à inteligência superior. Mas, se desde a mais tenra idade você é ensinado a acreditar, isso o deixa incapacitado, você é destruído. Se, desde cedo, você é condicionado a ter fé, você perde a sua alma. Passa então a vegetar, não vive mais. E é exatemente isso o que milhões de pessoas estão fazendo ao redor do mundo: vegetando.

Que vida você pode ter? Você nem ao menos conhece a si mesmo.  Você não sabe de onde veio, nem para onde vai, nem a finalidade de tudo isso. Quem impediu você de saber? Não foi o demônio, mas sim os papas, os sacerdotes, os padres, os rabinos eles, sim, são os verdadeiros demônios.

Nenhuma religião tem a coragem de dizer: "Existem coisas sobre as quais você pode perguntar; só não espere uma resposta. A vida é um mistério".

Todo o meu empenho aqui é ajudar você a voltar a ser um ignorante (desaprender o que te ensinaram errado).

As religiões fizeram de você uma pessoa instruída, e foi esse o mal. Elas lhe transmitiram com tanta facilidade e simplicidade todo o catecismo cristão que você é capaz de repeti-lo em uma hora, tal qual um papagaio. Mas você não chegará à verdade, a real, aquela que o cerca externa e interiormente. Esse catecismo não vai transmiti-la a você.

Mas deixar de lado todo o conhecimento que você aprendeu é o maior problema, porque ele alimenta o seu ego. O ego quer todo o conhecimento na mão dele. E quando digo que você precisa deixar de lado toda a sua erudição e se tornar novamente uma criança, eu quero dizer que você tem de começar do ponto em que o rabino ou o padre o desorientou.

Você tem de ser outra vez inocente, ignorante, alheio a tudo, para que as perguntas possam começar a aflorar outra vez. O questionamento volta então a ser vibrante e, isso acontecendo, você deixa de vegetar.  A vida passa a ser uma exploração, uma grande aventura.

Fonte consultada:  Osho, O Livro da sua Vida - Crie o seu próprio caminho para a liberdade, Editora Pensamento-Cultrix, 2019. ISBN: 978-85-316-0975-6

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