quarta-feira, julho 07, 2010

 

O Condicionamento Destrutivo


O único dever que você tem é o de ser feliz. Faça disso uma religião. Se você não é feliz, não importa o que faça, algo deve estar errado e alguma mudança drástica se faz necessária. Deixe que a felicidade decida.

Eu sou um hedonista. E a felicidade é o único critério que o ser humano possui.

Portanto, sempre observe o que acontece quando você faz alguma coisa: se você ficou em paz, tranquilo, à vontade, relaxado, aquela era realmente a coisa certa a fazer. Esse é o critério, nada mais. É importante lembrar-se, contudo, de que aquilo que é certo para você pode não ser para uma outra pessoa. Aquilo que é fácil para você pode não ser para outra pessoa, mas alguma outra coisa será fácil para ela. Não pode haver uma lei universal para isso. Cada um tem de descobrir por si mesmo. O que é fácil para você?

Por que escolhemos ser infelizes?

Esse é um dos mais complexos problemas humanos. Ele precisa ser examinado a fundo e não é algo apenas teórico, mas algo que lhe diz respeito. É assim que todos têm agido - sempre escolhendo o caminho errado, escolhendo ficar tristes, deprimidos, infelizes. Devem existir razões profundas para isso, e de fato existem.

A primeira razão diz respeito ao modo como os seres humanos são criados. Se você for infeliz, irá ganhar alguma coisa com isso. Se for feliz, você perderá.

Desde o início, uma criança atenta percebe essa diferença. Sempre que está infeliz, todos são compreensivos com ela e ela ganha essa compreensão. Todos tentam demonstrar afeto e a criança recebe amor. Mais do que isso, sempre que ela fica infeliz, todo mundo é simpático e ela recebe atenção. A atenção funciona como um alimento para o ego, como um estimulante alcoólico. A atenção lhe dá energia, você sente que é alguém. Por isso tanta necessidade, tanto desejo de obter atenção.

Se todos estão te olhando, você se torna importante. Se ninguém o olhar, é como se você não estivesse ali: deixa de existir, vira um não-ser. O fato de as pessoas estarem olhando, estarem preocupadas, lhe dá energia.

O ego só existe no relacionamento. Quanto mais as pessoas prestam atenção em você, maior fica o seu ego. Se ninguém o olhar, seu ego se dissolve. Se todo mundo esquecer completamente de você, como o ego pode existir? Daí a necessidade de sociedades, associações, clubes: eles existem para dar atenção às pessoas que não a conseguem de outras formas.

Desde a mais tenra infância, a criança aprende a fazer política. A política é: pareça infeliz e irá atrair simpatia, todos serão atenciosos com você. Pareça doente e ficará importante. A criança doente fica prepotente: toda família deve lhe obedecer, o que quer que diga se torna a lei.

Quando ela está feliz, ninguém a ouve. Quando está saudável, ninguém liga para ela. Quando está perfeita, ninguém lhe dá atenção. Desde o começo, optamos pela infelicidade, pela tristeza, pelo pessimismo, pelo lado sombrio da vida. E essa é uma das razões.

A segunda razão está relacionada ao seguinte: sempre que você está feliz, exultante, extasiado e inebriado, todo mundo sente inveja. Isso significa que todos ficam hostis: num segundo, todos viram inimigos. Então você aprendeu a não parecer tão extasiado para evitar que todos virem inimigos: aprendeu a não mostrar a felicidade, a não rir. Olhe para as pessoas quando elas riem: é um gesto calculado, não é uma risada que sacode a barriga, não vem das profundezas do ser. Primeiro olham para você, avaliam e, então, riem. E riem de uma forma que seja tolerada, que não seja considerada imprópria, que não desperte inveja.

Até nossos sorrisos são políticos. A risada desapareceu, a felicidade passou a ser um coisa absolutamente desconhecida e é quase impossível chegar ao êxtase, porque não é mais permitido. Se você está infeliz, ninguém vai achar que você é louco. Se está exultante, dançando por aí, todo mundo vai achar que você está louco. Dançar e cantar não são coisas aceitas. Quando alguém vê uma pessoa feliz, logo acha que há algo errado.

Que tipo de sociedade é essa em que é permitido se sentir infeliz mas que acusa aqueles que estão em êxtase de loucos e sem juízo? Por causa da inveja, tentamos, de todas as maneiras possíveis, impedir o êxtase dos outros. Chamamos a tristeza de normalidade. Os psiquiatras poderão ajudar a trazer uma pessoa de volta para a sua infelicidade normal.

A sociedade não pode permitir o êxtase. O êxtase é a maior das revoluções. Se as pessoas ficarem extasiadas, toda a sociedade vai mudar, porque a sociedade está baseada na infelicidade (dos escravos).

Se as pessoas são felizes, elas não podem ser conduzidas à guerra. Alguém feliz vai rir e dizer: "Isso não faz sentido!" Se as pessoas são felizes, não se pode fazer com que fiquem obcecadas por dinheiro. Acharão que é loucura passar a vida toda acumulando algo sem vida como o dinheiro.

Se as pessoas estiverem em êxtase, todo o padrão dessa sociedade terá que mudar. A sociedade existe por causa da infelicidade. A infelicidade é um grande investimento para ela. É para isso que criamos nossos filhos: desde a mais tenra infância, fomentamos uma tendência para a infelicidade. É por isso que todos sempre escolhem esse sentimento.

Em todo o instante existe a opção de ser infeliz ou feliz. Você sempre opta por ser infeliz porque há um investimento; isso se tornou um hábito, um padrão. A infelicidade parece uma descida, o êxtase parece uma subida. O êxtase parece muito difícil de alcançar - mas isso não é verdade. O que acontece é justamente o oposto: o êxtase é a descida e a infelicidade é a subida. A infelicidade é uma coisa muito difícil de alcançar porque é antinatural, mas você a alcançou, fez o impossível. Ninguém quer ser infeliz, mas todo mundo é.

A educação, a cultura, os pais, os professores - eles têm feito um grande trabalho. Têm transformado criadores extasiados em criaturas infelizes. Toda criança nasce extasiada. Toda criança nasce um deus. E todo homem morre louco. Como recuperar a infância, como reivindicá-la? Se você conseguir ser criança outra vez, não haverá mais tristeza.

Não estou dizendo que as crianças nunca sofram - elas sofrem, mas ainda assim não são infelizes. Uma criança pode ficar extremamente infeliz num momento, mas mergulha tão completamente nessa infelicidade, entra em tal comunhão com ela que não há divisão. Não há uma criança separada da infelicidade. Ela não está contemplando o sentimento como algo à parte dela. A criança é a infelicidade - está completamente envolvidda nela. E, quando você e a infelicidade se tornam uma coisa só, a infelicidade não é infelicidade. Se você comunga tão profundamente com ela, até mesmo a infelicidade adquire uma beleza só dela. Quando uma criança que não foi estragada está com raiva, toda a sua energia se torna a raiva: nada é deixado para trás, nada é contido. A criança se moveu e se tornou a raiva: ninguém está manipulando ou controlando essa raiva. Não há uma mente presente. E daí surge a beleza, o fluir da raiva. Uma criança nunca parece feia - até nos momentos de raiva ela é bela. Parece mais intensa, mais viva - um vulcão pronto pra entrar em erupção, um ser atômico, com todo o universo pronto para explodir.

Depois de toda essa raiva, a criança fica silenciosa, totalmente em paz. Ela se descontrai. Podemos achar que estava muito infeliz no momento da raiva, mas a criança não estava infeliz - ela usufruiu da raiva. Sempre que você entrar em comunhão com algo, se sentirá em êxtase. Sempre que se separar de algo, mesmo que seja da felicidade, você ficará infeliz.

Essa é a chave. Ficar separado como um ego é a base de toda a infelicidade; se você ficar em comunhão, fluindo com aquilo que a vida colocar em seu caminho - entranhado nisso tão intensa e completamente que você deixe de existir e se perca nisso - , todas as coisas passam a ser felizes.

A escolha exite, mas até mesmo a consciência disso foi perdida. Fique atento. Cada vez que estiver escolhendo ser infeliz, lembre-se de que é uma opção sua. Imediatamente sentirá a diferença. Seu estado mental terá mudado. Ficará mais fácil se voltar para a felicidade.

Depois que souber que se trata de uma escolha, passará a ser um jogo. Se você gosta de ser infeliz, seja infeliz, mas lembre-se de que é uma escolha sua - por siso não reclame. Ninguém é responsável por isso. Não saia por aí perguntando às pessoas como se faz para não ser infeliz. Não saia por aí questionando mestres e gurus sobre como se faz para ser feliz. Os pretensos gurus só existem porque você é um tolo. Primeiro cria a infelicidade e depois sai perguntando aos outros como se faz para não criá-la. Você continuará a criá-la porque não se dá conta do que está fazendo. A partir de agora, experimente ser feliz e bem-aventurado.

Duas maneiras de viver

Existem duas maneiras de viver, de ser, de saber: uma é a partir do esforço, da vontade, do ego; a outra é a partir da ausência de esforço, de luta, deixando-se levar pela existência.

Todas as religiões do mundo têm ensinado o primeiro jeito - brigar contra a natureza, contra o mundo, contra o seu próprio corpo, contra a mente. Só assim você poderia atingir a verdade, o supremo, o eterno. Mas existem provas suficientes de que essa vontade de dominar, esse caminho do ego, essa briga e essa guerra são um retumbante fracasso. Em milhões de anos, poucas pessoas atingiram a experiência suprema da vida, tão poucas que só provam a exceção, não a regra. Eu ensino o segundo jeito: não nade contra a corrente da existência, flua com ela. Lutar contra a existência é como tentar nadar rio acima, contra a corrente: a pessoa logo se cansa e não consegue chegar a lugar algum.

Nesta vasta existência, você é menor do que um átomo. Como você pode brigar contra o todo? Você foi criado pelo todo - como pode ser seu inimigo? A natureza é a sua mãe, não pode estar contra você. Seu corpo é sua própria vida, não pode ser contrário a você.

Eu ensino uma amizade com a existência. Não quero que você renuncie ao mundo, porque ele é nosso. Nada na existência é contra você. Basta aprender a arte de viver - não a arte de renunciar, mas a arte de se deleitar. É só uma questão de aprender uma arte para conseguir transformar o veneno em néctar.

Se você acha que, em algum lugar e de alguma forma, o seu corpo, a natureza ou o mundo estão contra você, pense que deve ser ignorância sua, deve haver alguma atitude errada de sua parte. Você não conhece a arte de viver, não se deu conta de que a existência não pode ser sua adversária. Você nasceu graças a ela, vive nela. A existência lhe concedeu tudo e você nem mesmo agradece. Pelo contrário, todas as religiões o ensinam a condená-la desde o princípio.

Qualquer religião que ensine a condenar a vida é venenosa. É contrária a vida, está a serviço da morte. Todas essas religiões são contra a natureza. Por que criam uma lógica segundo a qual, a menos que você se coloque contra este mundo, nunca será capaz de atingir o outro mundo, superior a este? Por que a divisão entre este mundo e o outro mundo? Não há razão para isso.

Se não fosse preciso renunciar a este mundo, mas vivê-lo em sua totalidade, o sacerdote não seria mais necessário. Se é preciso brigar com este mundo, renunciar a ele, então é preciso reprimir seus instintos naturais. Evidentemente, dessa forma você ficará doente. Colocando-se contra a natureza, você nunca estará saudável ou inteiro. Estará sempre dividido e esquizofrênico. Naturalmente, você necessitará de alguém para guiá-lo e ajudá-lo - precisará de um sacerdote.

Quando você se sente culpado, você vai à igreja, à mesquita, à sinagoga e pede ao padre, ao ministro, ao rabino para ajudá-lo porque, na escuridão profunda em que você está - que eles foram responsáveis por criar -, você se sente tão desamparado que precisa de alguém para protegê-lo, alguém que lhe mostre a luz. Você está tão desesperadamente carente que jamais sequer se perguntou se o sacerdote sabe mais do que você ou se ele não passa de um funcionário remunerado.

Seu problema se resume em olhar para dentro de si mesmo, onde está agora. Se você está infeliz, sofrendo, preocupado, angustiado, se falta algo na sua vida, se está descontente, não vê sentido em lugar algum e só está se deixando arrastar em direção à morte...

A escuridão continua ficando mais profunda, a cada dia que passa a morte se aproxima mais - será a hora de pensar em grandes problemas teológicos? É hora de mudar o seu ser. Você não tem muito tempo.

Além disso, os métodos que todas as religiões têm ensinado são beliciosos. Não levam a lugar algum, apenas retiram os prazeres de sua vida. Envenenam qualquer coisa que seja prazerosa. As religiões criaram uma humanidade triste. Eu gostaria que a humanidade estivesse cheia de amor, de música e de dança.

Quero que fique bem entendido que, no meu método, você não tem de brigar contra a corrente, nadando rio acima. Isso é estupidez, você não pode lutar, pois a corrente da natureza é grande demais e forte demais. A melhor maneira é aprender com os cadáveres: eles sabem alguns segredos que as pessoas vivas desconhecem (sempre seguem a corrente...).

Uma pessoa viva que não saiba nadar se afoga. Quando já estão mortas, voltam à superfície. Então há algo que os mortos sabem mas que as pessoas vivas desconhecem. Acontece que o morto está absolutamente entregue. Sequer tenta nadar. Os melhores nadadores flutuam, seguem a corrente como um cadáver, indo para onde que que o rio os leve, sempre correndo para o mar. Não é preciso saber se você está num rio sagrado ou não: sagrado ou profano, todo o rio está destinado a chegar ao mar, mais cedo ou mais tarde. Chamo isso de confiança: confiar que, onde quer que a existência o leve, ela o conduzirá ao caminho certo, ao objetivo certo. Ela não é sua inimiga, então confie que ela o levará sempre para a sua casa, seja ela onde for.

Se toda a humanidade aprender a relaxar, em vez de lutar, aprender a se deixar levar em vez de se esforçar ao máximo, haverá uma grande mudança na qualidade da consciência. Haverá pessoas descontraídas, movendo-se silenciosamente com o fluxo do rio, sem qualquer objetivo em mente, sem ego.

Flutuando de modo tão descontraído, você não pode ter ego. O ego exige esforço: é preciso fazer alguma coisa. O ego é um fazedor e, flutuando, você se torna um não-fazedor. Nessa inação, você ficará surpreso ao ver que as preocupações e infortúnios começam a se dissipar e você passa a se contentar com qualquer coisa que a existência lhe conceda.

Um místico sufi estava viajando. Toda noite, ele agradecia à existência: "Você fez tanto por mim e eu não fui capaz de retribuir, nunca sou capaz de retribuir". Seus discípulos ficavam um pouco revoltados, porque algumas vezes a vida era extremamente dura.

O místico sufi era um rebelde. Aconteceu de ficarem três dias sem comida porque, em toda aldeia por onde passavam, eram rechaçados por não serem muçulmanos ortodoxos. Tinham se juntado a um grupo rebelde de sufis. As pessoas não lhe davam abrigo para passarem a noite e, por isso, tinham de dormir no deserto. Tinham fome e sede há três dias. Ainda assim, na oração vespertina, o místico dizia à existência:
- Estou tão grato. Você nos tem concedido tanto e nós sequer retribuímos.
Um dos discípulos disse:
- Ela não nos dá tanto assim. Diga-nos, por favor, o que a existência nos concedeu nesses últimos três dias. Você está agradecendo à existência pelo quê?
O ancião deu uma risada e disse:
- Você ainda não se deu conta do que a existência nos concedeu. Esses três dias têm sido muito significativos para mim. Estou com fome, sede e não tenho abrigo; fomos rejeitados, condenados. Atiraram pedras em nós e tenho me observado - nenhuma raiva surgiu. Estou agradecendo à existência. Suas dádivas são inestimáveis.Nunca poderei retribuí-las. Três dias de fome, de sede, de falta de sono, com pessoas atirando pedras em nós... e, mesmo assim, não senti animosidade, raiva, ira, falta ou decepção. Só pode ser pela misericórdia e amparo da existência. Esses três dias me revelaram tantas coisas que não teriam sido mostradas se eu tivesse recebido comida, boas-vindas, abrigo e não tivessem atirado pedras em mim - e você me pergunta por que eu agradeço à existência? Agradecerei à existência até quando estiver morrendo, porque mesmo na morte sei que a existência está me revelando mistérios que não mostra em vida, pois a morte não é o fim, mas o clímax da vida.

Aprenda a fluir com a existência e não haverá culpa nem feridas. Não brigue com o seu corpo, ou com a natureza, e você estará em paz, em casa, calmo e sereno.

Essa situação o ajudará a ficar mais alerta, mais perceptivo, mais consciente, levando-o finalmente ao oceano do despertar definitivo - a libertação.

O corpo é seu amigo

Todas as religiões o têm ensinado a brigar com o corpo. Qualquer coisa natural é condenada. As religiões pregam que você tem de dar um jeito de fazer alguma coisa não-natural, pois só assim você pode sair da prisão da biologia, da fisiologia, da psicologia, de todos os muros que o cercam. Mas, se você vive em harmonia com o seu corpo, com a sua mente, com o seu coração, então as religiões dizem que você nunca conseguirá ir além de si mesmo. É por isso que eu sou contra todas essas religiões: elas colocaram uma semente envenenada no seu ser para que você viva no corpo mas não goste dele.

O corpo lhe serve durante 70, 80, 90 anos, até mesmo por 100 anos. Não existe outro mecanismo que a ciência tenha sido capaz de inventar que se compare a ele. Com toda a sua complexidade, ele faz milagres em seu benefício o tempo todo, mas jamais recebe um agradecimento seu. Seu corpo é tratado como um inimigo, embora seja seu amigo.

Ele cuida de você de todas as maneiras possíveis, acordado ou dormindo. Mesmo durante o sono, ele não deixa de cuidar de você. Se, enquanto dorme, uma aranha começa a andar na sua perna, a sua perna a joga longe sem incomodá-lo. Mesmo enquanto você dorme, o seu corpo permenece fazendo coisas das quais dificilmente tomamos conhecimento. Você come as coisas mais estranhas sem se preocupar em saber o que acontece depois que você as engole. Não pergunta ao corpo se seu metabolismo será capaz de digerir o que está comendo. Mas, de um modo ou de outro, seu metabolismo continua trabalhando a contento durante quase um século. Ele tem um sistema automático de reposição de peças com defeito. Não é preciso fazer nada, ele funciona por conta própria. O corpo tem uma sabedoria toda dele.

Entretanto, essas religiões continuam dizendo: "É preciso lutar o tempo todo, é preciso nadar contra a correnteza. Não ouça o corpo! Seja lá o que ele disser, faça o oposto". O jainismo prega: "Se o corpo tiver fome, deixe-o com fome, deixe-o faminto, ele precisa ser tratado assim". Isso certamente dá um grande poder a seu ego. Se o corpo quer alimento, diga "não". O "não" tem um grande poder - você é o mestre e reduz o corpo à escravidão: "Seja o que for que eu decida, isso será feito sem a sua interferência".

Não brigue com o corpo. Ele não é um adversário seu, mas seu amigo. É uma dádiva que a natureza lhe concedeu, é parte dela. Você não está ligado apenas à respiração, mas também aos raios do sol, à fragrância das flores, ao luar. Você está ligado a todos os lugares, ninguém é uma ilha. Esqueça essa idéia. Você faz parte de todo esse continente e mesmo assim foi dotado de uma individualidade. É o que chamo de milagre.

Portanto, se estiver em harmonia com o seu corpo, também estará em harmonia com a natureza, com a existência. Em vez de nadar contra a corrente, siga com ela. Entregue-se. Deixe a vida acontecer. Não force nada, em nome de nada. Não perturbe sua harmonia em nome de um livro sagrado, de um ideal sagrado.

Nada vale mais do que estar em harmonia e comunhão com o todo.

Respeite a vida, reverencie a vida. Não existe nada mais sagrado ou divino do que a vida. E ela não consiste em grandes coisas. Esses idiotas religiosos ficam dizendo "Faça coisas grandiosas"; no entanto, a vida consiste em pequenas coisas. A estratégia é clara. Dizem: "Faça coisas grandiosas, algo de grandioso, que faça com que seu nome seja lembrado pela posteridade". É claro que isso agrada ao ego, que é um agente do sacerdote. Todas as igrejas, todas as sinagogas e todos os templos têm um único agente: o ego. Entretanto, a vida consiste em coisas muito pequenas e, se você passou a se interessar por coisas supostamente "grandiosas", isso indica que você está deixando a sua vida passar em branco.

A vida consiste em sorver uma xícara de chá; bater papo com um amigo; fazer uma caminhada pela manhã, sem destino certo, sem objetivo, sem finalidade, sabendo que, a qualquer momento, você pode dar meia-volta ou pode cozinhar para alguém que ama ou para si mesmo, já que você ama o seu corpo. A vida consiste em lavar a roupa; limpar o chão; regar o jardim... Essas coisinhas pequenas.

Você pode fazer algo desnecessário e dizer olá para um estranho - não há por que se dirigir a um estranho. Contudo, aquele que é capaz de dizer olá a um estranho também pode dizer olá para as flores, para as árvores, pode cantar uma canção para os passarinhos. São só coisas pequenas, muito pequenas...

Respeite sua vida. Dessa forma, você estará respeitando também a vida das outras pessoas.

O fantasma do "tenho que"

Toda nossa educação - na família, na sociedade, na escola, na universidade - cria uma tensão em nós. E a tensão básica é a de que você não está fazendo aquilo que "tem" que fazer.

Isso continua pela vida toda, perseguindo-o como um pesadelo, sem nunca deixar de assombrá-lo. Se você relaxar, uma voz dirá: "O que está fazendo? Não pode relaxar, tem que fazer alguma coisa". Se estiver fazendo algo, a voz dirá: "O que está fazendo? Você precisa descansar um pouco, senão ficará louco - você já está no seu limite".

Se fizer algo de bom, ela dirá: "Você é um idiota. Não vale a pena fazer nada de bom, pois as pessoas o enganarão". Se fizer algo de ruim, a voz irá dizer: "O que está fazendo? Você está construindo o seu caminho para o inferno e sofrerá por isso". Ela nunca o deixará descansar: faça o que você fizer, ela o condenará.

Esse acusador foi implantado em você. Enquanto não conseguimos nos livrar desse acusador que vive dentro de nós, não poderemos ser verdadeiramente humanos, não poderemos ser realmente felizes nem poderemos participar da celebração que é a existência.

Ninguém pode eliminar esse acusador interno, só você. E esse não é um problema só seu, é um problema de quase todo ser humano. Seja qual for o país em que você nasceu, seja qual for a religião a que pertença, não importa - você pode ser católico, ateu, hindu, muçulmano, jainista, budista, não importa a que tipo de ideologia pertença, a essência é sempre a mesma. A essência é criar uma cisão dentro de si para que uma parte condene a outra. Se você obedecer a uma parte, a outra começará a condená-lo e a vida passa a ser um conflito interior, uma guerra civil.

Essa guerra civil tem de acabar, do contrário não será possível aproveitar toda a beleza, todas as bênçãos da vida. Jamais você conseguirá rir com toda a alegria que está em seu coração, nunca será capaz de amar nem estará totalmente presente em coisa alguma. É só essa presença total que faz com que a pessoa desabroche, com que a primavera chegue e sua vida comece a ter cor, música, poesia.

Somente a partir da totalidade torna-se possível perceber a presença de Deus em tudo o que o cerca. Mas a ironia é que seus pretensos santos, sacerdotes e igrejas criaram uma cisão. Na verdade, a figura do sacerdote tem sido o maior inimigo de Deus na Terra.

Temos de nos livrar de todos os sacerdotes - eles são a causa básica da patologia humana. Deixaram todo mundo nervoso, causaram uma epidemia de neurose. E a neurose passou a reinar de tal modo que nós a achamos natural. Achamos que a vida se resume a isso, que é assim mesmo: um longo e demorado sofrimento, uma existência dolorosa e angustiante. Em outras palavras, a autobiografia de uma tempestade num copo d'água.

Se olharmos para o que chamamos de vida, parecerá que é isso mesmo, porque nunca há sequer uma flor, uma canção no coração, um raio de alegria divina.

Não surpreende o fato de que pessoas inteligentes do mundo todo estejam se perguntando qual o sentido da vida. "Por que deveríamos continuar vivendo? Por que somos tão covardes a ponto de continuar vivos? Por que não temos coragem suficiente para pôr fim a toda essa bobagem? Por que não podemos cometer o suicídio?"

Em nenhuma outra época existiram tantas pessoas convictas de que a vida não tem significado algum. Durante séculos, pelo menos nos últimos 5.000 anos, os sacerdotes têm causado esse mal. Agora, a situação chegou a um clímax. Não é uma situação que provocamos - nós somos as vítimas da História. Se o homem se tornasse um pouco mais consciente, a primeira coisa que faria seria queimar todos os livros de História. Devemos esquecer o passado, foi um pesadelo completo. Vamos começar novamente do zero, como se Adão tivesse nascido outra vez. Comecemos como se estivéssemos mais uma vez no Jardim do Éden, inocentes, não contaminados...

Faça o que a sua natureza quer fazer, o que suas qualidades intrínsecas anseiam por fazer. Não dê ouvidos às escrituras. Ouça seu próprio coração; essa é a única escritura que prescrevo. Ouça com muita atenção, com muita consciência, e nunca estará errado. Ouvindo o seu coração, começará a tomar a direção correta, sem jamais pensar no que está certo ou errado.

Siga-o de qualquer maneira e vá aonde quer que o leve. Ele às vezes o colocará diante de perigos - mas lembre-se de que nesses casos alguns perigos são necessários para seu amadurecimento. Outras vezes o coração o levará a se extraviar - lembre-se, mais uma vez, que esses extravios fazem parte do crescimento. Muitas vezes, você cairá. Coloque-se de pé novamente, pois é assim que se fortalece - caindo e levantando-se outra vez. É assim que você se torna uma pessoa integrada.

Nunca siga regras impostas. Nenhuma regra imposta jamais pode estar certa, porque são inventadas por pessoas que querem dominá-lo. De fato, às vezes surgem pessoas muito iluminadas neste mundo - um Buda, um Jesus, um Krishna, um Maomé. Eles não impuseram regras ao mundo: ofereceram o amor que tinham. Contudo, cedo ou tarde os discípulos se reuniram e começaram a criar códigos de conduta. Depois que o Mestre se foi, depois que a luz se extinguiu e eles ficaram na mais completa escuridão, eles começaram a buscar novas regras para seguir, porque a luz que poderia guiá-los já não estava mais presente. Haviam passado a depender de regras.

O que Jesus fez foi seguir os sussurros do seu coração, mas os cristãos não seguem os sussurros do próprio coração. São imitadores - e, no momento em que você imita, insulta a sua própria humanidade, insulta o seu Deus.

Não seja um imitador, seja sempre original. Não se torne uma cópia. A vida é uma dança se você for original - é esse o seu destino. Não existem dois seres humanos iguais.

Inebrie-se do espírito, do silêncio do Mestre, aprenda a sua graça. Absorva o máximo possível do seu ser, mas não o imite. Inebriando-se de seu espírito, bebendo de seu amor, recebendo sua compaixao, você conseguirá ouvir os sussurros do seu coração. Não passam de murmúrios, pois o coração tem uma voz muito sutil e silenciosa.

Esqueça tudo o que tem ouvido por aí: "Isto está certo e aquilo está errado". A vida não é tão rígida. O que é certo hoje pode ser errado amanhã. A vida não pode ser dividida em compartimentos, não é fácil rotulá-la. Ela não é um laboratório de química onde cada frasco tem um rótulo e o conteúdo de todos eles é conhecido. A vida é um mistério; num dado momento, algo é certo. Numa outra ocasião, tanta água passou pelo Ganges que aquilo não se encaixa mais e passa a ser errado.

Qual é a minha definição de certo? Aquilo que está em harmonia com a existência é o certo; o que está em desarmonia com a existência é errado. Você terá de ficar sempre muito alerta, decidindo a cada momento o que é certo ou errado. Não pode depender de respostas prontas.

A vida passa depressa demais - é dinâmica, não estática. Não é uma poça estagnada: é como o rio Ganges, nunca pára de fluir. Nunca é a mesma em dois momentos consecutivos. A única saída, então, é fazer com que as pessoas fiquem tão alertas que elas próprias possam decidir de que modo responder a uma vida em constante mudança.

Uma antiga história zen:

Havia dois templos rivais. Os dois mestres tinham uma rixa tão grande que diziam a seus seguidores para nunca olharem para o outro templo.

Cada um dos sacerdotes tinha um menino para servi-lo, ir buscar coisas para ele, cumprir pequenas tarefas. O sacerdote de um dos templos disse ao garoto que o servia:

- Nunca fale com o moleque do outro templo. Essas pessoas são perigosas.

Mas garotos são garotos. Um dia, eles se encontraram na estrada e um deles perguntou:

- Para onde você vai?

O outro disse:

- Para onde quer que o vento me leve.

Ele devia ouvir os grandes conceitos zen que se discutiam no templo. "Para onde quer que o vento me leve". Uma grande afirmação, puro Tao.

Mas o outro garoto ficou extremamente embaraçado, ofendido e não soube o que responder. "Bem que o mestre me disse para não falar com essas pessoas, são realmente perigosas. Que tipo de resposta foi essa? Ele me humilhou". O menino voltou ao mestre e contou o que havia acontecido.

- Lamento ter falado com ele. O senhor estava certo, aquelas pessoas são estranhas. Perguntei: "Para onde você vai?" - uma pergunta simples e formal -, e sabia que ele estava indo ao mercado, como eu. Mas ele respondeu: "Para onde quer que o vento me leve".

O mestre disse:

- Eu o avisei, mas você não me ouviu. Amanhã, quando ele passar, pergunte: "Para onde você vai?" E ele responderá: "Para onde quer que o vento me leve". Então, seja também um pouquinho mais filosófico. Diga: "E se você não tivesse pernas? Porque a alma não tem corpo e o vento não pode levar a alma a lugar algum!" O que me diz?

O menino passou a noite toda repetindo a frase, preparando-se para o encontro. E, na manhã seguinte, saiu muito cedo, foi até o ponto de encontro e exatamente no mesmo horário o outro menino apareceu. Estava muito feliz, pois agora iria mostrar o que era filosofia de verdade. Então perguntou para onde o outro ia e ficou só esperando...

Mas o menino disse:

- Vou buscar verduras no mercado.

Ora, o que fazer com a filosofia qeu aprendera?

A vida é assim. Não há como se preparar, como estar pronto para ela. Sua beleza e seu encanto é o fato de estar sempre nos pegando desprevenidos.

Eu lhe ensino uma lei intrínseca da vida: obedeça a seu próprio eu, seja uma luz par si mesmo. Se seguir a luz, esse problema nunca surgirá. Desse modo, qualquer coisa que fizer será a coisa certa a fazer e qualquer coisa que deixar de fazer será a coisa certa para não fazer...

O único jeito de ficar em contato com a vida, de não ficar para trás é ter um coração destituído de culpa, um coração inocente. Esqueça tudo o que já te disseram sobre o que tem que ser feito e o que não deve ser feito. Ninguém pode decidir por você.

Evite esses farsantes que decidem por você, tome as rédeas em suas próprias mãos: você decide. Na verdade, é nesse ato de decisão que sua alma nasce. Quando os outros decidem em seu lugar, sua alma continua adormecida e obtusa. Quando você começa a decidir por si mesmo, também começa a ficar mais esperto. Decidir significa assumir riscos, significa que pode estar errado - esse é o risco. Quem sabe o que vai acontecer em seguida?

O que é velho tem garantias. Milhões e milhões de pessoas já fizeram o mesmo: como tantas pessoas poderiam estar erradas? Essa é a garantia. Se muitas pessoas dizem que algo está certo, então deve estar certo mesmo. Assuma todos os riscos necessários para ser um indivíduo e aceite os desafios para que você possa se aperfeiçoar, ficar mais hábil e inteligente.

A verdade não é uma crença - é inteligência absoluta. É o despertar das fontes ocultas da sua vida, é uma experiência iluminadora da sua consciência. Mas você terá de providenciar o espaço certo para que isso aconteça. E o espaço certo é a aceitação de quem você é. Não negue coisa alguma, não fique dividido nem se sinta culpado.

Desapegue-se da infelicidade

Deveria ser fácil deixar o sofrimento, a angústia e a infelicidade de lado. Você não quer ser infeliz, então não deveria ser difícil. Deve haver alguma complicação oculta. A complicação consiste no fato de que, desde a infância, não deixam que você fique feliz, extasiado, alegre.

Você tem sido obrigado a ser sério, e a seriedade pressupõe tristeza. Você foi obrigado a fazer coisas que nunca quis. Está impotente, fraco, é dependente das outras pessoas - é natural que tenha que fazer o que elas mandam. Contra a própria vontade, foi forçado a fazer tantas coisas que, pouco a pouco, uma questão ficou bem clara: tudo que estiver contra você estará certo e tudo que não estiver contra você estará errado. Ao longo dos anos, você cresceu dessa forma e se encheu de tristeza, o que não é natural.

Ser feliz é ser natural, assim como ser saudável é ser natural. Quando você está saudável, não vai ao médico perguntar: "Doutor, por que estou saudável?" Não há necessidade de fazer perguntas sobre sua saúde. Quando doente, contudo, imediatamente pergunta: "Por que não me sinto bem? Qual a razão, a causa da minha doença?"

É perfeitamente aceitável querer saber por que está infeliz. Errado é querer saber por que está feliz. Na sociedade em que você foi criado, a alegria e a felicidade que não possuem uma razão específica são tachadas de loucura. Se alguém sorri sem um motivo específico, as pessoas acham que você está de miolo mole - por que está sorrindo? Por que essa cara tão feliz? E se a pessoa responder "Não sei, só estou contente", essa resposta só confirmará a idéia de que há algo errado.

Porém, quando alguém está infeliz, ninguém pergunta o motivo. Ser infeliz é considerado natural, todo mundo é. Isso causa todo o sofrimento da humanidade, porque todo mundo está onde nao devia estar, sendo algo que não deveria ser. Como as pessoas não podem estar onde precisam - onde, por direito nato, deveriam estar -, são infelizes. Você tem vivido nesse estado, cada vez mais distanciado de si mesmo. Já esqueceu o caminho de volta para casa. Seja lá onde estiver, acha que está em casa - a infelicidade tornou-se seu lar e a angústia é uma segunda natureza. O sofrimento é aceito como se indicasse saúde, não doença.

Quando alguém lhe diz "Saia dessa vida infeliz, deixe de lado esse sofrimento que está carregando desnecessariamente", uma questão vem à tona: "Isso é tudo que temos! Se deixarmos isso de lado, não seremos ninguém, perderemos a nossa identidade. Pelo menos agora eu sou alguém - sou infeliz, triste, sofrido. Se abandonar tudo isso, terei de descobrir minha identidade. Quem sou eu?" Ninguém quer ficar pelado no meio da rua.

É melhor ser infeliz - pelo menos você tem algo que vestir, embora seja a tristeza... mas não faz mal, todo mundo está vestindo o mesmo tipo de roupa.

Essas são as duas possibilidades.

A terceira possibilidade foi completamente esquecida. A terceira é a sua realidade, e nela não há nem um pingo de infelicidade. A natureza intrínseca do ser humano é o êxtase.

O êxtase não é algo que precise ser alcançado. Já está presente, você nasceu com ele. Nunca o perdemos, apenas nos afastamos demais dele, voltando as costas para nós mesmos. Ele está bem atrás de nós; basta uma pequena virada para que ocorra uma grande revolução.

Existem, porém, falsas religiões ao redor do mundo que dizem que você é infeliz porque, no passado, cometeu más ações. Tudo bobagem. Afinal, por que a existência precisaria esperar uma vida inteira para castigá-lo? Na natureza, as coisas acontecem de imediato. Por acaso você põe a mão no fogo e, na vida seguinte, ela será queimada? Que estranho! Não, você será queimado no mesmo instante, no ato. Causa e efeito estão ligados, não pode haver distância entre eles.

Mas as falsas religiões continuam consolando as pessoas: "Não se preocupem. Pratiquem bons atos, mostrem mais devoção. Vão ao templo ou à igreja e a sua próxima vida não será tão miserável". Parece que ninguém paga à vista, tudo fica para a vida seguinte. E ninguém volta da vida seguinte para dizer: "Essas pessoas só estão falando mentiras".

Religião é dinheiro na mao; não é sequer um cheque.

Cada religião encontrou uma estratégia diferente, mas a razão é sempre a mesma. Cristãos, judeus, muçulmanos dizem às pessoas: "Vocês estão sofrendo porque Adão e Eva cometeram um pecado". O primeiro casal que existiu, milhares de anos atrás... e nem mesmo foi um grande pecado - e você o comete todos os dias. Eles simplesmente comeram maçãs e Deus os tinha proibido de fazer isso. A questão não é a maçã, a questão é que, milhares de anos atrás, alguém desobedeceu a Deus. Essas pessoas foram castigadas, expulsas do Jardim do Éden, do paraíso de Deus. Por que nós estamos sofendo? Porque eles eram nossos antepassados.

A realidade é bem diferente. Não é uma questão de cometer maus atos; a questão é que você foi afastado de si mesmo, de seu êxtase natural. E nenhuma religião quer que você fique em êxtase - do contrário, o que aconteceria às suas disciplinas? O que aconteceria às suas grandes práticas ascetas? Ao dinheiro que você dá para essas entidades?

Se deixar a infelicidade de lado for tão fácil quanto eu digo, todas as falsas religiões perderão seus grandes negócios. Tudo é um negócio para elas. O êxtase tem de ser algo tão difícil, quase impossível de alcançar, de forma que as pessoas só possam ter esperança de atingi-lo numa vida futura, depois de longas e penosas jornadas.

Mas digo por experiência própria: para mim, tudo aconteceu com muita facilidade. Também vivi muitas vidas passadas e certamente devo ter cometido maus atos num número muito maior do que qualquer pessoa - porque não os considero maus atos. Apreciar a beleza, apreciar o sabor, apreciar tudo o que deixa a vida mais fácil de ser vivida, mais cheia de amor, nada disso é ruim para mim.

Quero que você fique mais sensível, mais esteticamente sensível a essas coisas. Elas o tornarão mais humano, o deixarão mais terno, mais grato pela vida.

Não se trata de uma questão teórica para mim. Simplesmente aceitei o nada como uma porta - que chamo de meditação, apenas um outro nome para o nada. E, no momento em que o nada surge repentinamente, em que você fica cara a cara consigo mesmo, toda a infelicidade desaparece.

A primeira coisa que você faz é rir de si mesmo, do idiota que é. Essa infelicidade nunca existiu, você a criou com uma mão e tentou destruí-la com a outra - e, naturalmente, você ficou dividido, num estado de esquizofrenia.

A coisa mais simples da vida é ser você mesmo. Não exige nenhum esforço; você já é você mesmo.

Basta lembrar-se... basta jogar fora todas as idéias estúpidas que a sociedade te impôs. E isso é tão simples quanto uma cobra que troca de pele sem nunca olhar para trás. Trata-se apenas de uma pele velha.

Se você entender, isso pode acontecer neste mesmo instante. Pois, neste exato momento, você consegue ver que não existe infelicidade, não existe angústia (são apenas criações suas). Está em silêncio, parado na porta do nada - dê um passo à frente e encontrará o maior dos tesouros esperando por você há milhares de vidas.

Tome consciência do êxtase

A mente em geral está consciente da dor, mas nunca do êxtase. Se você tem dor de cabeça, você está consciente dela. Se você não tem dor de cabeça, você não se dá conta do bem-estar. Quando o corpo doi, você fica consciente dele, mas quando o corpo está perfeitamente saudável, você não tem consciência da sua saúde.

Essa é a causa básica que faz com que você se sinta tão infeliz: toda a nossa consciência está concentrada na dor. Nós só contamos os espinhos - nunca olhamos para as flores. De algum modo, escolhemos os espinhos e ignoramos as flores. Por uma razão biológica, a natureza fez com que você tivesse consciência da dor para poder evitá-la. De outro modo, sua mão podia ser queimada sem que você notasse, seria difícil sobreviver. A natureza, no entanto, não tem qualquer sistema para deixá-lo consciente do prazer, da alegria, da bem-aventurança. Isso tem que ser aprendido, tem que ser praticado. Trata-se de uma arte.

Deste momento em diante, procure ficar consciente das coisas que são naturais. Por exemplo, seu corpo está saudável: sente-se silenciosamente e tome consciência dele. Sinta o bem-estar. Não há nada de errado com você - aproveite! Faça um esforço deliberado para ter a percepção disso. Você se alimentou bem e o seu corpo está satisfeito, saciado: tome consciência disso.

Quando você está com fome, a natureza o deixa consciente disso, mas não existe um sistema para deixá-lo consciente quando você está saciado, é algo que tem de ser desenvolvido. A natureza precisa aprimorar essa capacidade porque a sobrevivência é tudo o que ela tem em vista - qualquer coisa além disso é luxo. A felicidade é um luxo, o maior luxo que existe.

Observo que é isso que faz com que as pessoas sejam tão infelizes - na verdade, elas não são tão infelizes quanto parecem. Elas têm muitos momentos de grande alegria, mas esses momentos passam em branco, pois elas nunca tomam consciência deles. A memória das pessoas está sempre cheia de dor e de feridas. A mente, sempre cheia de pesadelos. Num período de 24 horas acontecem milhares de coisas pelas quais você daria graças a Deus, mas você sequer se dá conta delas!

Você precisa começar a fazer isso a partir de agora. Ficará surpreso ao ver que a alegria aumentará dia após dia, enquanto a dor e a tristeza diminuirão proporcionalmente, até chegar o dia em que a vida será quase só uma celebração. A dor só surgirá de vez em quando e fará parte do jogo. Você não ficará abalado nem perturbado, apenas aceitará.

Se você aprecia a sensação de saciedade que surge depois que você come, sabe que a fome provoca uma leve dor... e isso é bom. Se você teve uma boa noite de sono e pela manhã se sentiu vivo e revigorado, sabe que, se passar uma noite sem dormir, sentirá um leve mal-estar, mas isso também faz parte do jogo.

Sei por experiência própria que a vida consiste de 99% de alegria e 1% de dor. Contudo, a vida das pessoas normais consiste em 99% de dor e 1% de alegria - está tudo invertido.

Fique cada vez mais consciente do prazer, da felicidade, do lado positivo, das flores, dos pequenos raios de sol em meio às nuvens negras. Seja otimista.

Fonte: Osho, Corpo e mente em equilíbrio, Editora Sextante, 2008.

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