terça-feira, setembro 28, 2010

 

O Celibato e a Barriga

"Amor só de mãe", frase popular.

Os celibatários começam a mudar seu interesse das mulheres para a comida. Você pode olhar para os saniássins indianos (e as estátuas de budas), os assim chamados mahatmas, e você sempre os achará muito gordos, com barrigas enormes. E a razão é que toda a sexualidade deles perverteu-se. Eles começaram a focar a libido no alimento.

Comida e sexo estão profundamente relacionados, muito intimamente relacionados, desde o comecinho da vida encarnada. A comida é necessária para a sobrevivência do indivíduo e o sexo é necessário para a sobrevivência das espécies. O sexo é exatamente como a comida para as espécies e a comida é como sexo para o indivíduo. Sem comida o indivíduo morrerá, sem o sexo as espécies morrerão.

Se você começa a reprimir sua sexualidade, então, o escape natural é do amor para o almoço! Isso não é coincidência. Olhe para uma fotografia de Swami Shivananda Maharaj. Toda a sua vida ele falou sobre iôga e meditação, mas vendo seu retrato, parece que ele esteve apenas comendo e comendo o tempo todo. Ele não podia andar - ficou gordo demais. Não podia erguer suas próprias mãos - elas ficaram tão pesadas que duas pessoas tinham que carregar suas mãos!

Portanto, não se torne muito interessado em almoço, isso pode ser perigoso. A menos que o celibato aconteça por conta própria, naturalmente, como uma consequência de profunda consciência-alerta, ele vai ficar focado numa coisa, ou noutra - vai descobrir um escape. E a comida está muito próxima.

A criança, desde a mais tenra idade, torna-se associada à idéia de comida e amor. Eles se tornam quase que dois aspectos da mesma moeda, porque ele recebe amor da mãe e também o alimento da mãe. O seu objeto de amor e o seu objeto de alimento é o mesmo, a mãe. Não somente a mãe, mas principalmente o seu seio: ela recebe o alimento do seio e, também, o calor e o sentimento de amor.

Há uma diferença: quando a mãe ama o filho, o seio tem uma sensação diferente e uma vibração diferente. A mãe tem um grande prazer com a criança alimentando-se no seu seio - é um estímulo à sexualidade da mãe. Se a mãe está realmente apaixonada pelo filho, ela chega quase a uma alegria orgástica. Seus seios são muito sensíveis - eles são a zona mais erótica do corpo dela. Ela começa a se excitar e a criança começa a sentir isso. A criança começa a tomar ciência do fenômeno de que a mãe está tendo prazer. Ela não está simplesmente alimentando-a, ela está tendo prazer naquilo.

Mas quando a mãe dá o seio apenas por necessidade, então, o seio é frio - não há o calor nele. A mãe está sem vontade, está com pressa. Ela quer acabar logo com a mamada, tão rapidamente quanto possível, e a criança sente isso. Fica muito aparente que a mãe está fria, não está amando, não tem calor. Ela não é realmente uma mãe. O filho parece indesejado, ele sente-se indesejado. A criança se sente desejada somente quando a mãe tem prazer com a criança alimentando-se no seu seio, quando aquilo se torna quase um relacionamento amoroso, quase um relacionamento orgástico. Somente então a criança sente o amor da mãe, sente-se necessária à mãe. E ser necessário à mãe é ser necessário à existência através da mãe. Seja qual for a sua idéia sobre a mãe, essa vai ser a sua idéia sobre o mundo.

Uma criança que não foi amada pela mãe, vai sentir-se alienada na existência - ela se sentirá um forasteiro, um estranho. Ela não pode crer em Deus, não pode confiar na existência. Se ela não pôde nem ao menos confiar na mãe, como pode confiar em mais alguém? A confiança torna-se impossível. Ela duvida, ela suspeita - ela fica continuamente em guarda, com medo, apavorada. Ela encontra inimigos, competidores, em toda parte. Ela tem medo de ser esmagada e destruída o tempo todo. O mundo não parece ser um lar para ela, absolutamente. Ela não pode ser religiosa.

A religião nasce, o primeiro vislumbre religioso acontece à criança, no seu relacionamento com a mãe. Se este relacionamento está envenenado, então, algo bem na fonte está envenenado. Então, torna-se muito difícil levar religião à criança. Então, ela precisa de grande psicoterapia, então, ela precisa de um longo, longo, e árduo processo doloroso de retorno, de modo que ela possa desenredar todas as suas memórias horrorosas, de modo que ela possa se livrar de todas as suas velhas associações. A menos que isso aconteça, ela não se sintonizará com nenhuma abordagem religiosa em direção à existência.

O ateísmo nasce do relacionamento - do primeiro relacionamento, da primeira familiaridade -, e este é com a mãe, principalmente com o seio da mãe. Se a mãe está feliz, se tem prazer na amamentação, então, o filho jamais comerá demais, porque ele confia - ele sabe que a mãe está sempre presente. Sempre que ele estiver com fome, suas necessidades serão satisfeitas. Ele jamais come demasiadamente.

A criança bem-amada permanece saudável. Ela não é nem magra, nem gorda - mantém o equilíbrio. Mas, se a mãe é fria, se a mãe está ali sem querer estar, então, a criança começa a engordar demasiadamente, porque ela sente medo - quem sabe se depois a mãe estará ali, ou não? Ela se enche em sua capacidade máxima; a barriga começa a crescer.

Todas as crianças pobres têm barrigas grandes pela simples razão de que sua mãe tem de sair para o trabalho o dia todo - elas sentem falta da mãe. Ela pode voltar à noite - cansada, exausta, sem disposição para o amor ou para o calor do afeto. O filho parecerá uma carga. E uma vez que a associação da criança tiver passado do amor para a comida, então toda a sua vida será uma complexidade desnecessária.

Não é por acaso que, na Índia, onde o celibato foi proposto durante séculos, exaltado por séculos, as pessoas se tornaram viciadas em comida. Tantos molhos que você não encontrará em nenhum outro lugar do mundo, e tantas espécies de comida! A razão é que a vida amorosa das pessoas está faminta e elas têm de preenchê-las de algum modo, estufando-se de algum modo com comida.

Fonte:
Osho, Zen - A Transmissão Especial, Madras Editora, 1999. ISBN 85-7374-182-1.

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bj
M.
 
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