segunda-feira, dezembro 27, 2010
O Sangue na Cabeça
A meditação nada mais é do que o retorno ao lar, só para descansar um pouco, lá dentro. Não é o cantarolar de um mantra, não é sequer uma oração. É apenas a volta ao lar e a tomada de um pequeno repouso. Não ir a parte alguma é meditação, só o estar onde você está é meditação. Não há outro "onde" - só o estar onde você está, apenas ocupando o espaço onde você está. O desejo leva-o a longas viagens, no tempo e no espaço - o desejo nunca o leva ao lar que é seu: ele está sempre a levá-lo para algum outro lugar.
A mente, quando tomada por algum desejo, procura encontrar um objetivo, e com isso oculta a Luz.
Por isso você está perdendo - por estar fora, está perdendo, procurando você está perdendo, investigando está perdendo, tentando alcançar está perdendo. Nada é necessário da sua parte - o Divino já lhe deu tudo quanto se pode ser dado. Não somos mandados ao mundo como mendigos, mas como imperadores. Olhe um pouco para dentro. Por alguns momentos não vá a parte alguma, nada deseje, não pense no futuro, não pense no passado, fique apenas aqui e agora e, de repente, lá está - sempre esteve - e você começa a sorrir.
Na meditação procura-se silenciar a mente, no mar de pensamentos sempre presente. Porém, existe dois tipos de silêncio totalmente diferentes: o silêncio dos tolos e o silêncio dos sábios.
A consciência integral é como o oceano. E sua mente não é apenas sua: sua mente é parte da mente coletiva. Em torno de você há um oceano de consciência. Tal como os peixes no oceano, nós somos peixes na consciência - dentro e fora, deste lado e daquele, acima e abaixo, ali está o oceanos nos rodeando, ali estão as ondas (pensamentos) do oceano. Quem você é para perturbar isso? Quem você é para fazer com que isso se torne quieto e silencioso? Como você pode fazê-lo?
Assim, sempre que uma pessoa se torna interessada demais e ansiosa por acalmar a mente, acaba criando muitas perturbações para si própria. Pois isso não é possível! E quando você tenta realizar algo impossíve, você acaba ficando frustrado. Pensa, então ingenuamente, em mil e uma causas que impedem de acontecer o que você deseja. O simples fato é que não pode acontecer! O Tantra diz: Observe! Não é da sua conta que os pensamentos subam ou desçam, apareçam ou desapareçam. Eles vêm por sua própria iniciativa e vão por sua própria iniciativa. Por que se envolver demasiadamente com eles? Quem é você para acalmá-los? Eles não lhe pertencem, pertencem ao vasto oceano que o rodeia. Você não está ali, eles é que estão. Um dia você não mais existirá, mas eles permanecerão.
Agora a Ciência concorda com isso: cada pensamento é uma onda. É por isso que um rádio emite pensamentos. Eles passam através das paredes, das colinas, dos nossos corpos, nada os impede de passar. Algo que é emitido em Nova York você ouve aqui. Atualmente, os cientistas investigam a possibilidade de podermos captar pensamentos do passado, já que os pensamentos nunca morrem. As ondas de pensamento de Jesus devem estar algures, chegando a alguma estrela do firmamento. Se pudermos captá-las, poderemos novamente ouví-lo.
Os pensamentos formam um oceano em torno de nós; existem independentes de nós - portanto, sejamos apenas testemunhas deles. Assim, o verdadeiro problema não está nos pensamentos, mas em ser perturbados por eles. Não lute contra os pensamentos, torne-se simplesmente uma testemunha e, então, você não será afetado. Esse será um silêncio mais rico; lembre-se que o Tantra prefere sempre as experiências mais ricas. É possível criar o silêncio pobre que você encontra num cemitério. Pode forçar tanto a sua mente que todo o seu sistema nervoso se torna paralisado. Então não haverá pensamentos, porque um sistema nervoso muito delicado é necessário para recebê-los. O oceano ali estará, mas você não será receptivo, pois sua receptividade perdeu-se.
Isso é o que está acontecendo com muitos iogues - os chamados iogues. Eles insistem em embotar seu sistema nervoso. Comem menos, de forma que pouca energia vai ter ao cérebro. No jejum, a energia disponibilizada não vai para o cérebro, pois o corpo necessita dela em primeiro lugar (para processar a limpeza orgânica). Vivem eles de tal maneira que, aos poucos, todo o seu sistema cerebral se torna paralisado, obtuso. Sentam-se numa só postura, monótona, repetem um mantra, monótono. Se durante alguns anos alguém repetir continuamente um mantra, é natural que o seu sistema nervoso se torne inerte, pois na ausência de novas sensações a vitalidade orgânica se perde.
Na verdade, tal homem não se tornou silencioso - tal homem tornou-se mais estúpido, mais idiota. E ele terá um olhar estúpido, que é o que existe nos rostos de muitos e muitos iogues. Você não verá neles inteligência, verá algo inerte, morto, petrificado. Esses iogues não chegam ao silêncio - apenas perderam seus cérebros, anularam-se completamente, morreram. Nada acontece no seu interior, porque nada pode acontecer sem o funcionamento de um delicado sistema nervoso - muito delicado, muito receptivo, muito sensível.
Assim, este deveria ser o nosso critério: se vir no rosto de um iogue algo radiante, inteligência, percepção, sensibilidade - como se alguma coisa houvesse florescido dentro dele - esse iogue realmente realizou-se. Só então aconteceu o silêncio correto. Do contrário, alguém pode estar silencioso - as pessoas estúpidas são silenciosas, os idiotas são perfeitamente silenciosos, porque não podem pensar - mas que tipo de silêncio é esse?
Um idiota não é um iogue. Um idiota simplesmente nasceu de tal forma que o seu sistema cerebral não está funcionando corretamente. Você pode fazer o mesmo com o seu próprio cérebro, jejuando e praticando posturas iogues, ficando de cabeça para baixo durante horas. Quando você fica de cabeça para baixo durante horas, você mata o seu sistema nervoso, porque seu cérebro existe apenas se, a cada minuto, ele recebe a quantidade certa de energia e de sangue, uma vez que os nervos são muito delicados, pequenos e frágeis. Eles nem sequer podem ser vistos a olho nu. Seu cabelo, por exemplo, parece mukito fino, mas não é. Se você colocar dez mil nervos um sobre o outro, só então eles atingirão a grossura de um fio de cabelo. Assim, se o sangue corre muito depressa e com muito volume, o sangue destrói os nervos; é como uma inundação.
O ser humano desenvolveu o seu cérebro, algo que nenhum animal o fez, porque o homem ergue-se constantemente sobre os pés. Devido a isso é que menos sangue consegue subir à cabeça, pois isso vai contra a força da gravidade, a gravitação. A gravitação puxa o sangue para baixo e é por isso que só uma pequena parcela do sangue atinge a cabeça a cada momento. De outra forma, aquele sistema sutil não poderia existir. Os animais não o podem ter porque eles andam sobre quatro patas e, como consequência, seus cérebros ficam no mesmo nível do resto do seu corpo. Se você ficar de cabeça para baixo por um só minuto, isso pode ser bom, ou mesmo por um só segundo, isso pode ser bom, já que apenas age como um bom banho. O sangue apenas alcança um ponto profundo e já desce, porque você volta logo à sua posição normal: nesse caso ele limpa a região que ele atinge. Mas se você faz a sirsharana durante vários minutos seguidos, ou durante horas seguidas, isso matará todo o seu sistema cerebral. O fluxo será grande demais, o cérebro não pode resistir.
Os iogues encontraram muitas formas de destruir o cérebro. Quando ele está destruído você não pode ver o oceano - mas o oceano existe e os pensamentos existem. É como se o seu rádio-receptor estivesse quebrado. Não pense que as transmissões não estão passando pela sala onde você está, porque elas estão. É o seu mecanismo receptor que não está mais funcionando. Conserte o rádio, ligue-o - e imediatamente ele começará a captá-las.
O cérebro é exatamente igual a um centro receptor. Se você o destrói, ele fica silencioso, mas esse não é o silêncio do Tantra. E eu não ensino esse silêncio - ele é como a morte. Você não vai a parte alguma por meio dele - você está é desperdiçando a sua vida. E um instrumento muito sutil, que pode fazê-lo perfeitamente inteligente, um instrumento que pode ser tão perceptivo a ponto de permiti-lo festejar toda a celebração da existência, você o destruiu.
Portanto, cuidado com as posições invertidas (de cabeça para baixo) do ioga...
Fonte: Osho, Tantra: A Suprema Compreensão, Editora Cultrix, 1992.
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