terça-feira, janeiro 18, 2011

 

A Pressa


Quem se identifica com o corpo está sempre com pressa. Por isso existe essa pressa no Ocidente, essa obsessão pela velocidade. Basicamente, trata-se de uma identificação com o corpo, mas você não é o seu corpo. A vida não pára, escapa das suas mãos - faça algo e faça agora; ande rápido, senão vai perdê-la. E encontre maneiras melhores e mais rápidas de fazer algo... e por aí vai... A velocidade virou mania. A única preocupação é saber como chegar num lugar mais rápido. Ninguém se importa em conhecer a razão por que você quer chegar. E, no momento em que você chega lá, começa logo a pensar em outro lugar para ir.

A mente vive num estado constantemente febril. Isso ocorre porque nós nos identificamos com a periferia e nós sabemos que o corpo vai morrer. A morte nos assombra. No Ocidente, a morte ainda é um tabu. Um tabu foi quebrado - o do sexo -, mas o segundo tabu, mais profundo do que o primeiro, ainda persiste. É preciso um outro Freud para quebrá-lo. As pessoas não falam da morte ou, quando falam, usam eufemismos - dizem que a pessoa está com Deus, foi para o céu, descansou. Mas, se a pessoa só viveu no corpo, ela não foi a lugar algum. Está morta, simplesmente morta - é pó sobre pó.

O corpo é pesado, muito proeminente, aparente, visível, palpável, tangível. A consciência não é visível nem está na superfície. É preciso buscá-la, mergulhar fundo. É preciso fazer esforço, é preciso ter uma dedicação constante para explorar o próprio ser. Trata-se de uma jornada, mas, depois que você começa a se sentir como uma consciência, você passa a viver num mundo completamente diferente. Você deixa de ter pressa, porque a consciência é eterna, e você deixa de se preocupar, porque a consciência não conhece doença, morte, derrota. Não há necessidade de buscar qualquer outra coisa. Ao corpo falta tudo, por isso ele inventa desejo após desejo; o corpo é um mendigo. Mas a consciência é um imperador: possui o mundo todo, é o mestre.

Depois de conhecer a face de seu ser interior, você relaxa. A vida deixa de ser desejo e passa a ser celebração. Tudo já está lá: as estrelas, a Lua, o Sol, as montanhas, os rios, as pessoas. Você tem de começar a viver. É disso que trata a vida: a exploração da consciência. Ela é um tesouro enterrado. E, naturalmente, quando tem um tesouro, você o mantém enterrado bem fundo para que ninguém o roube. Deus colocou a consciência bem no fundo do seu ser. O corpo é só o portão, não é a câmara real mais interior. Mas muitas pessoas vivem apenas no portão e acham que isso é a vida; nunca entram na casa do seu ser.

Deixe que a vida seja uma jornada para o interior do seu próprio ser. Use o corpo, ame o corpo: ele é um belo mecanismo, uma dádiva preciosa que contém grandes mistérios, mas não se identifique com ele. O corpo é como um avião e você é o piloto. O avião é belo e muito útil, mas o piloto não é o avião e ele tem de se lembrar de que é algo separado, que está distante, muito longe. Ele é o mestre do veículo.

Use o corpo como um veículo, mas deixe que a consciência reine absoluta.

Fonte: Osho, Corpo e Mente em Equilíbrio, Editora Sextante, 2008. ISBN 978-85-7542-349-3.

Marcadores: , , , , , ,


Comments: Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?