sábado, fevereiro 05, 2011

 

Troque sua Infelicidade pela Felicidade


"O pior cego é aquele que não quer ver", ditado popular


Fizeram a seguinte pergunta para Osho: Por que não abandonamos nossas aflições, nossa ignorância e nossa infelicidade? Como os seres humanos podem ser felizes e plenos?

Resposta: A infelicidade tem muitas coisas a lhe dar, as quais a felicidade não pode dar. Na verdade, a felicidade tira muitas coisas de você, ela tira tudo o que você já teve, tudo o que você já foi; a felicidade o destrói. A infelicidade alimenta o seu ego, e a felicidade é basicamente um estado de ausência de ego. Esse é o problema, o ponto crucial do problema. É por isso que as pessoas acham difícil ser felizes, é por isso que milhões de pessoas no mundo precisam viver infelizes... decidiram viver infelizes. Isso lhe dá um ego muito cristalizado, fortalecido. Quando infeliz, você existe, feliz, você não existe. Na infelicidade há cristalização; na felicidade você fica difuso.

Se isso for entendido, então as coisas ficam muito claras. A felicidade o torna alguém especial; a felicidade é um fenômeno universal, não há nada de especial nela. As árvores são felizes, os animais são felizes, os pássaros são felizes, toda a existência é feliz, exceto o ser humano. Ao ser infeliz, o ser humano se torna algo muito especial, extraordinário.

A infelicidade o torna capaz de atrair a atenção das outras pessoas. Sempre que você está infeliz, você recebe atenção, simpatia, amor. Todos começam a cuidar de você. Quem deseja magoar uma pessoa infeliz? Quem tem inveja de uma pessoa infeliz? Quem deseja se opor a uma pessoa infeliz? Isso seria muito maldoso.

A pessoa infeliz é protegida, amada, amparada. Há um grande investimento na infelicidade. Se a esposa não for infeliz, o marido tende a simplesmente ignorá-la. Se ela é infeliz, o marido não pode se dar ao luxo de negligenciá-la. Se o marido é infeliz, toda a família, a esposa, os filhos, todos ficam à sua volta, preocupados com ele; isso dá um grande conforto. A pessoa infeliz sente que não está só, que tem família, amigos.

Quando você está doente, deprimido, infeliz, os amigos vêm visitá-lo, confortá-lo, consolá-lo. Quando você está feliz, os mesmos amigos ficam com inveja de você. Quando você está realmente feliz, você percebe que o mundo inteiro se voltou contra você.

Ninguém gosta de uma pessoa feliz, pois ela machuca o ego dos outros. Os outros começam a sentir: "Você ficou feliz e nós ainda estamos nos arrastando na escuridão, na infelicidade, no inferno. Como você ousa ser feliz quando todos estão em tamanha aflição?!".

O mundo inteiro é constituído de pessoas infelizes, e ninguém é corajoso o suficiente para deixar o mundo inteiro contra si; isso é muito perigoso, muito arriscado. É melhor se apegar à infelicidade, pois ela o mantém como parte não destoante da multidão. Feliz, você é um indivíduo; infeliz, você é parte da multidão, seja ela hindu, muçulmana, cristã, indiana, árabe, japonesa...

Feliz? Você sabe o que é felicidade? Ela é hindu, cristã, muçulmana? Felicidade é simplesmente felicidade. A pessoa é transportada para um outro mundo, não é mais parte deste mundo que a mente humana criou, não é mais parte do passado, da feia história, deixa de ser parte do tempo. Quando você está realmente feliz e pleno, o tempo e o espaço desaparecem.

Albert Einstein disse que no passado os cientistas costumavam achar que havia duas realidades: espaço e tempo. Mas ele afirmou que essas duas realidades não são duas, e sim as duas faces da mesma realidade. Daí ele ter cunhado a palavra espaço-tempo; uma única palavra. O tempo nãda mais é do que a quarta dimensão do espaço. Einstein não era um místico; do contrário ele teria introduzido também a terceira realidade: o transcendental, nem espaço nem tempo. Essa também existe, e eu a chamo de testemunho. E uma vez que essas três estejam presentes, você tem toda a trindade, tem o conceito de trimurti, as três faces de Deus. Então você tem todas as quatro dimensões; a realidade tem quatro dimensões: três dimensões do espaço e a quarta dimensão do tempo.

Mas há uma coisa a mais, a qual não pode ser chamada de quinta dimensão, pois não é a quinta realidade; ela é o todo, o transcendental. Quando você está extasiado, você começa a penatrar no transcendental. Ele não é social, não é tradicional e nada tem a ver com a mente humana.

Sua pergunta é significativa: "O que é esse apego à infelicidade?"

Existem razões. Investigue a sua infelicidade, observe e você será capaz de descobrir quais são as razões. E investigue esses momentos em que, de vez em quando, você se permite a satisfação de estar alegre; então perceba quais são as diferenças.

Você notará algumas coisas: quando você está infeliz, é um conformista. A sociedade adora isso, as pessoas o reverenciam, você tem grande respeitabilidade, pode até mesmo se tornar um santo; daí seus santos serem todos infelizes, a aflição está claramente escrita em sua face, em seus olhos. Por eles serem infelizes, eles são contra toda a alegria, condenam toda a alegria como hedonismo, condenam cada possibilidade de alegria como um pecado. Eles são infelizes e gostariam de ver todo mundo infeliz. Na verdade, apenas em um mundo infeliz eles podem ser considerados santos! Em um mundo feliz eles teriam de ser hospitalizados, de ser tratados mentalmente. Eles são patológicos.

Vi muitos santos e investiguei a vida dos santos do passado. Noventa e nove por cento deles são simplesmente anormais: neuróticos ou mesmo psicóticos. Mas eles são respeitados, e são respeitados por sua infelicidade, lembre-se. Quanto mais infelicidades eles passam, mais são respeitados. Houve santos que espancavam seus corpos com um chicote todos os dias, e pessoas se juntavam para ver essa grande austeridade, esse ascetismo, essa penitência. O maior deles era aquele que tinha feridas por todo o corpo, e essas pessoas eram consideradas santas! Houve santos que destruíram seus olhos, pois é por meio dos olhos que a pessoa fica ciente da beleza, e surge a sexualidade. E eles eram respeitados por terem destruído seus olhos. Foi-lhes dado olhos para ver a beleza da existência, mas eles decidiram ficar cegos. Houve santos que cortaram seus órgãos genitais e foram muito respeitados, imensamente respeitados, pela simples razão de terem sido autodestrutivos, violentos consigo mesmos. Essas pessoas eram psicologicamente doentes.

Investigue a sua infelicidade e descobrirá certos elementos fundamentais. Ela lhe dá respeito, as pessoas se sentem mais amigáveis em relação a você, mais solidárias, você terá mais amigos se for infeliz. Este é um mundo muito estranho, algo está fundamentalmente errado com ele. Isso não deveria ser assim; a pessoa feliz deveria ter mais amigos, mas seja você feliz e as pessoas ficam com inveja de você, deixam de ser amigáveis. Elas se sentem trapaceadas, você tem algo que não está disponível a elas. Por que você é feliz? Assim, através dos tempos aprendemos um mecanismo sutil de reprimir a felicidade e de expressar a infelicidade. Isso se tornou nossa segunda natureza.

Você precisa abandonar todo esse mecanismo. Aprenda a ser feliz, aprenda a respeitar as pessoas felizes e a lhes prestar mais atenção. Esse será um grande serviço à humanidade. Não seja muito solidário com as pessoas infelizes. Se alguém for infeliz, ajude, mas não se compadeça, não lhe dê a idéia de que a infelicidade é algo de valor. Deixe que ele saiba perfeitamente bem que você o está ajudando, mas "Faço isso não porque o respeito, mas simplesmente porque você está infeliz". E você não está fazendo nada, exceto tentando trazer a pessoa para fora de seu infelicidade, pois a infelicidade é feia. Deixe que a pessoa sinta que a infelicidade é feia, que ser infeliz não é algo virtuoso, que ela não está fazendo um grande serviço à humanidade dessa forma.

Seja feliz, respeite a felicidade e ajude as pessoas a entender que a felicidade é o objetivo da vida. Sempre que você perceber uma pessoa bem-aventurada, respeita-a; ela é sagrada. E sempre que você sentir uma reunião feliz e festiva de pessoas, considere aquele lugar sagrado.

Temos de aprender uma linguagem totalmente nova, e somente então esta velha e enferrujada humanidade poderá mudar. Precisamos aprender a linguagem da saúde, da inteireza, da felicidade. Isso será difícil, pois nossos investimentos no oposto são grandes.

Essa é uma das questões mais fundamentais que uma pessoa pode formular. Ela também é estranha, pois deveria ser fácil abandonar o sofrimento, a angústia, a infelicidade. Não deveria ser difícil: você não quer ser infeliz, então deve haver alguma profunda complicação por trás disso. A complicação é que desde a sua infância não lhe permitiram ser feliz, ser bem-aventurado, ser alegre.

Você foi forçado a ser sério, e a seriedade implica em tristeza. Você foi forçado a fazer coisas que nunca quis fazer, mas era impotente, fraco, dependente das pessoas; naturalmente você precisou fazer o que elas diziam. Você fez aquelas coisas contra a sua vontade, de uma maneira infeliz e com profunda resistência. Contra si mesmo, você foi forçado a fazer tantas coisas que, aos poucos, algo ficou claro a você: tudo o que for contra você está certo, e tudo o que não for contra você fatalmente está errado. E toda essa educação constantemente o preencheu com tristeza, o que não é algo natural.

Ser alegre é natural, assim como ser saudável é natural. Quando você está saudável, você não vai ao médico perguntar: "Por que estou saudável?" Não há necessidade de fazer nunhuma pergunta sobre a sua saúde. Mas, quando você está doente, imediatamente pergunta: "por que estou doente? Qual é a razão, a causa da minha enfermidade?", já que isso não é natural.

Está perfeitamente certo perguntar pelo motivo de você estar infeliz, mas não está certo perguntar por que você está profundamente feliz. Você cresceu em uma sociedade insana, onde ser profundamente feliz sem razão é algo considerado loucura. Se você estiver simplesmente sorrindo sem nenhuma razão, as pessoas acharão que há um parafuso solto em sua cabeça: "Por que você está sorrindo, por que está parecendo tão feliz?" E, se você disser a verdade: "Não sei, estou simplesmente feliz", essa sua resposta irá apenas reforçar a idéia delas de que algo está muito errado com você.

Mas, se você estiver infeliz, ninguém lhe perguntará por que você está infeliz. Estar infeliz é natural na nossa sociedade, todos estão; não é nada especial de sua parte, você não está fazendo algo singular.

Inconscietemente essa idéia vai se assentando em você, que a infelicidade é natural e que a sensação de plenitude não é natural. A plenitude precisa ser provada; a infelicidade não precisa de prova. Lentamente essa idéia penetra mais fundo em você, em seu sangue, em seus ossos, em sua medula, embora naturalmente ela seja contra você. Assim, você foi forçado a ser esquizofrênico, algo contra a sua natureza foi forçado sobre você. Você foi desviado de si mesmo para algo que você não é.

Isso cria toda a infelicidade da humanidade: todos estão onde não deveriam estar, todos são o que não deveriam ser. E por não poder estar onde você precisa estar, onde é seu direito inato de estar, a pessoa fica infeliz. E ao estar nesse estado de se afastar cada vez mais de si mesmo, você se esquece do caminho de volta para casa. Assim, onde você está agora você considera como sendo o seu lar; a infelicidade se tornou o seu lar, a angústia se tornou a sua natureza. O sofrimento foi aceito como saúde, e não como doença.

E quando alguém diz: "Abandone essa vida miserável, abandone esse sofrimento que você está carregando desnecessariamente", surge uma questão muito significativa: "Isso é tudo o que temos! Se abandonarmos essa vida atual, perderemos nossa identidade. Pelo menos agora eu sou alguém, alguém infeliz, alguém triste, alguém em sofrimento. Se eu abandonar tudo isso, ficarei sem saber qual é a minha identidade. Quem sou eu? Não sei o caminho de volta para casa, e você tirou a hipocrisia, o falso lar criado pela sociedade".

Ninguém quer ficar despido no meio da rua; é melhor ser infeliz, pelo menos você tem algo para usar, embora seja o tormento... mas não tem problema, todos os outros estão usando o mesmo tipo de roupa. Para os que podem custear, sua infelicidade é cara; e aqueles que não podem custeá-la são duplamente infelizes: eles precisam viver em um tipo pobre de infelicidade, sem muito do que se gabar.

Dessa maneira, há os infelizes ricos e os infelizes pobres. E os infelizes pobres estão dando tudo de si para de alguma maneira chegar ao status de infelizes ricos. Esses são os únicos tipos disponíveis na nossa sociedade.

O terceiro tipo foi completamente esquecido. O terceiro é a sua realidade verdadeira, e ela não tem infelicidade em si.

Você me pergunta por que o ser humano não pode abandonar sua infelicidade. Isso acontece pela simples razão de que ela é tudo o que ele tem. Você quer torná-lo ainda mais pobre? Ele já é pobre. Há o rico infeliz; ele tem um infelicidade pequena e minúscula da qual não pode se gabar, e você está lhe pedindo para abandonar até mesmo isso. Então ele será um ninguém, será vazio, um nada.

E todas as culturas, todas as sociedades, todas as religiões cometeram um crime contra a humanidade: elas criaram em todos um medo do nada, do vazio.

A verdade é que o nada é a porta da riqueza verdadeira, é a porta da plenitude, e a porta precisa ser um nada. A parede existe, mas não se pode entrar nela; você simplesmente bateria a cabeça e poderia ter algumas costelas fraturadas. Por que você não pode entrar na parede? Porque ela não tem o vazio, é sólida; ela objeta. É por isso que chamamos as coisas de "objetos": eles objetam, não permitem que você passe através deles, impedem-no.

Uma porta precisa ser não-objetiva, precisa ser vazia. Uma porta significa que não há nada para impedi-lo, você pode entrar.

E por termos sido condicionados de que o vazio é algo ruim, que o nada é algo ruim, pelo condicionamento fomos impedidos de abandonar a infelicidade, de abandonar a angústia, de abandonar todo o sofrimento e apenas ser um nada.

No momento em que você for um nada, você se tornará a porta, uma porta para o divino, para si mesmo, que leva a seu lar, que o conecta novamente com a sua natureza intrínseca. A natureza intrínseca do ser humano é o estado de plenitude.

O estado de plenitude não é algo a ser alcançado. Ele já está presente, nós nascemos nele e não o perdemos, apenas nos distanciamos dele, mantendo nossas costas para nós mesmos.

Ele está exatamente atrás de nós; uma pequena virada sua e uma grande revolução...

E, no que se refere a mim, essa não é uma questão teórica. Eu aceitei o nada como uma porta, à qual eu chamo de meditação, que nada mais é do que um outro nome para o nada. E, no momento em que o nada acontece, subitamente você fica de cara consigo mesmo e toda a infelicidade desaparece.

A primeira coisa que você faz é simplesmente rir de si mesmo, que idiota você tem sido... Essa infelicidade nunca existiu; você a estava criando com uma mão e estava tentando destruí-la com a outra e, naturalmente, você estava dividido, em uma condição esquizofrênica.

Isso é absolutamente fácil e simples: a coisa mais simples na existência é ser você mesmo. Não há necessidade de esforço; o esforço atrapalha; você já o é.

Apenas uma lembrança... apenas se livre de todas as idéias estúpidas que a sociedade lhe impôs. E isso é tão simples quanto uma cobra escorregar para fora de sua velha pele e nem mesmo olhar para trás. Trata-se apenas de uma pele velha.

Se você entender isso, isso pode acontecer neste exato momento, pois neste exato momento você pode perceber que não existe nenhuma infelicidade, nenhuma angústia.

Você está em silêncio diante da porta do nada; apenas mais um passo para dentro e você encontra o maior tesouro, o qual está esperando por você há milhares de vidas.

Fonte: Osho, Alegria: A Felicidade que Vem de Dentro, Editora Cultrix, 2006. ISBN 978-85-316-0887-2.

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