terça-feira, março 01, 2011

 

A Ambição


O Real ou o Simbólico?


Esta neurose que você chama de sociedade, de civilização, de cultura, de educação, tem uma estrutura sutil. A estrutura é esta: ela lhe dá certas idéias simbólicas para que, aos poucos, a realidade seja anuviada, torne-se enevoada e você não possa ver o real e você comece a se apegar ao irreal.

Por exemplo: a sociedade lhe diz para você ser ambicioso, ajuda-o a se tornar ambicioso. Ambição significa viver na esperança, viver no amanhã, significa que o hoje precisa ser sacrificado pelo amanhã.

Porém, o hoje é tudo o que sempre existe, o agora é o único tempo em que você sempre está, o único tempo em que você sempre estará. Se você deseja viver, é agora ou nunca!

Mas a nossa sociedade o torna ambicioso. Desde a infância, quando você vai à escola e a ambição é colocada em você, você fica para sempre envenenado: enriqueça, seja poderoso, seja alguém. Ninguém lhe diz que você já tem a capacidade total para ser feliz; todos dizem que você pode ter a capacidade de ser feliz somente se satisfizer certas condições, como ter muito dinheiro, uma casa grande, um carrão, isso e aquilo, e somente então você poderá ser feliz.

A felicidade nada tem a ver com essas coisas; ela não é uma conquista, mas a sua própria natureza. Os animais estão felizes sem nenhum dinheiro, e não são Rockefellers. E nenhum Rockefeller é tão feliz como um veado ou um cachorro. Os animais não têm poder político, não são primeiros-ministros e presidentes, mas são felizes. As árvores são felizes; se não fosse assim, elas teriam deixado de florescer. Elas ainda florescem, a primavera ainda vem, e elas ainda dançam, ainda cantam, ainda despejam seu ser aos pés do divino. A prece delas é contínua, a veneração delas está sempre acontecendo, mas elas não vão a nenhuma igreja, pois não há necessidade disso. Deus vem a elas. No vento, na chuva, no sol, Deus vem a elas.

Somente o ser humano não é feliz, pois ele vive na ambição, e não na realidade. A ambição é um truque, um truque para distrair a nossa mente. Com isso, a vida simbólica substitui a vida real.

Observe isso na vida. A mãe não pode amar o filho tanto quanto ele deseja que ela o ame, pois a mãe vive na cabeça. Sua vida não foi gratificante, sua vida amorosa foi um desastre, ela não foi capaz de florescer; viveu na ambição e tentou controlar o seu homem, possuí-lo; tem sido ciumenta e não uma mulher amorosa. Se ela não tem sido uma mulher amorosa, como repentinamente ela poderá ser amorosa com o filho?

Eu estava lendo um livro de R.D. Laing, The facts of life (Os fatos da vida), que ele me enviou. No livro ele se refere a um experimento no qual um psicanalista perguntou a muitas mães: "Quando seu filho estava para nascer, você estava realmente em um espírito de boas-vindas, estava pronta para aceitar a criança?" Ele fez um questionário: "A gravidez foi acidental ou você a desejou?" Noventa e nove por cento das mulheres responderam: "Foi acidental, não a desejávamos". Depois: "Quando a gravidez aconteceu, você estava hesitante? Você queria a criança ou queria abortar? Você tinha clareza a esse respeito?" Muitas delas disseram que hesitaram por semanas, avaliando se faziam um aborto ou se tinham a criança. Então a criança nasceu... elas não puderam decidir. Talvez houvesse outras considerações, como uma consideração religiosa, pois o aborto poderia ser um pecado, poderia levá-las ao inferno. Elas podiam ser católicas, e a idéia de que o aborto é assassinato as impediu de fazê-lo. Ou poderia haver considerações sociais, ou o marido queria a criança, ou quiseram a criança como uma continuidade de seus egos, mas a criança não era desejada. Raramente houve uma mãe que dissesse: "Sim, a criança foi muito bem-vinda. Eu estava esperando por ela e estava feliz".

Ora, uma criança nasce sem ser bem-vinda, e desde o começo a mãe estava em dúvida se a teria ou não... Isso deve trazer consequências, a criança deve sentir essas tensões. Quando a mãe pensava no aborto, a criança deve ter ficado magoada, pois ela já é parte do corpo da mãe, e toda vibração atingirá a criança. Ou, quando a mãe pensa e hesita e está para decidir o que fazer e o que não fazer, a criança também sentirá um tremor, um chacoalho, pois está entre a vida e a morte. Então de algum jeito a criança nasce, e a mãe pensa que foi apenas acidental; eles tentaram o controle da natalidade, tentaram isso e aquilo, mas tudo fracassou e a criança está ali, e eles têm de tolerar.

Essa tolerância não é amor. A criança sente falta do amor desde o início, e a mãe também se sente culpada, pois não está dando tanto amor como seria o natural. Então ela começa a substituir, forçando a criança a comer demais; ela não pode preencher a alma da criança com amor e tenta empanturrar o corpo dela com comida. Trata-se de um substituto, e você pode observar: as mães são muito obsessivas. A criança diz: "Não estou com fome", e a mãe insiste em forçar. Ela não dá ouvidos à criança, não a escuta e substitui: não pode dar amor, então dá comida. A criança cresce, e a mãe não pode amar, então lhe dá dinheiro. O dinheiro se torna um substituto do amor.

E a criança também acaba aprendendo que o dinheiro é mais importante do que o amor. Se ela não tiver amor, não há com o que se preocupar, mas precisa ter dinheiro. Na vida, ela será gananciosa, correrá atrás de dinheiro como uma maníaca. Ela não se importará com o amor e dirá: "O mais importante primeiro. Primeiro eu preciso ter uma boa conta bancária, preciso ter esse tanto de dinheiro, e somente então eu posso me dar ao luxo de amar".

Ora, o amor não precisa de dinheiro; você pode amar como você é. E, se você acha que o amor precisa de dinheiro e você corre atrás dele, um dia poderá ter dinheiro e, de repente, se sentirá vazio, porque todos os seus anos foram desperdiçados acumulando dinheiro. E eles não foram apenas desperdiçados; todos esses anos foram anos de desamor; portanto, você praticou o desamor. Agora você tem dinheiro, mas não sabe mais amar, esqueceu-se da própria linguagem do sentimento, da linguagem do amor, da linguagem do êxtase.

Sim, o homem pode comprar uma bela mulher, a mulher pode comprar um belo homem, mas isso não é amor. Você pode comprar a mulher mais bela do mundo, mas isso não é amor. E ela se aproximará de você não porque o ama, mas por causa de sua conta bancária.

O dinheiro é um símbolo; o poder, o poder político, é um símbolo; a respeitabilidade é um símbolo. Essas não são realidades, mas projeções humanas; não são coisas objetivas, não têm nenhuma objetividade. Essas coisas não existem e são apenas sonhos projetados por uma mente infeliz.

Se você deseja ficar extasiado, você terá de abandonar o simbólico. Livrar-se do simbólico é livrar-se da sociedade, livrar-se do simbólico é tornar-se um indivíduo. Ao livrar-se do simbólico você tomou coragem de entrar no real, e somente o real é real; o simbólico não é real.

Fonte: Osho, Alegria: A Felicidade que Vem de Dentro, Editora Cultrix, 2006. ISBN 978-85-316-0887-2.

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Comments:
Oi Papi!
Gostei bastante deste artigo!
Beijo!
Tânia
 
Fia, o Osho é um revolucionário... ele põe o dedo na ferida e explica o porquê disso...

Beijo, Papi
 
Que nojo! Dedo na ferida: ELE É DIRETO AO ASSUNTO, fica melhor. Mas que ele é bom, isso é!
 
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