terça-feira, outubro 31, 2023

 

Confiança no caminho


Se você puder confiar, uma coisa ou outra sempre irá acontecer e ajudará no seu crescimento. Suas necessidades serão supridas. Tudo aquilo que for necessário numa determinada época, ser-lhe-á dado, nunca antes. Você somente o recebe quando precisa, e não há sequer um único momento de atraso. Quando você o necessita, você o recebe, imediatamente, instantaneamente! Essa é a beleza da confiança. Pouco a pouco você vai aprendendo como a existência dá a você, como a existência cuida de você. Você não está vivendo em uma existência indiferente. Ela não o ignora. Você está preocupado desnecessariamente; tudo é provido. Uma vez que você descubra a chave de perceber isso, toda preocupação desaparece.

Abaixo vão algumas observações de Osho sobre o conto sufi chamado Mojud: O Homem com a Vida Inexplicável.

Acreditando no impossível, o impossível torna-se possível

Na realidade, as coisas são impossíveis somente porque você não tem a coragem de acreditar. Cada pensamento pode tornar-s uma coisa, e tudo que acontece dentro da consciência pode criar sua realidade externa. Tudo que acontece exteriormente precisa primeiro acontecer interiormente. A semente está absorta no interior e a árvore manifesta-se no exterior.

Se você tem um coração que confia, nada é impossível. Mas você precisa ter um coração confiante. Uma mente confiante não adiantará, porque estruturalmente a mente não pode confiar. Ela é incapaz de confiar. A mente só pode duvidar, desconfiar; a dúvida é algo natural para a mente, é intrínsica à mente. A cabeça nada pode fazer a não ser duvidar. Para a mente, crer não é possível, a mente pode apenas duvidar. A dúvida cresce da mente como as folhas crescem das árvores.

A crença surge no coração. O coração não pode duvidar, só pode confiar. Assim, quando digo que crer pode tornar coisas impossíveis em possíveis, refiro-me a crer pelo coração - um coração inocente, o coração de uma criança que não sabe como dizer "não", que conhece apenas o "sim" - mas não o "sim" contra o "não".

Não que a criança diga "não" por dentro e "sim" por fora, pois isso é da cabeça. Essa é a maneira da cabeça, sim por fora, não por dentro, não por fora, sim por dentro. A cabeça é esquizofrênica. Nunca é total e una.

Quando o coração diz "sim" ele simplesmente diz "sim". Não existe conflito, não existe divisão. O coração está integrado com seu sim; essa é a verdadeira crença, confiança. É um fenômeno do coração. Não é um pensamento, mas um sentimento, e essencialmente, nem mesmo um sentimento, mas um estado de ser. No início, a confiança é um sentimento; em seu florescimento final é um estado de ser.

As chamadas "crenças" permanecem na cabeça, nunca se tornam seus sentimentos, e não podem se tornar seu ser. E a menos que algo se torne seu ser, ele é apenas um sonho inútil. É um desperdício de energia.

Mas, para crer, é necessário arriscar. Você ficará surpreso ao saber disso: a dúvida é muito covarde. Comumente se ouve que as pessoas corajosas duvidam e que as covardes crêem. Isso também é verdade, num certo sentido. A crença mental é covarde, e você conhece apenas os que crêem mentalmente, assim isso corresponde à realidade. Se você entrar nas mesquitas, nas igrejas, nos templos, os encontrará cheios de covardes. Mas a crença real não é covarde, e sim uma grande coragem; ela é heróica.

A dúvida vem do medo; então como pode ser valente? A dúvida está enraizada no medo. Ela cresce porque existe um desejo ardente de defender a si mesmo,de proteger a si mesmo, de estar seguro. Você pode confiar somente se estiver pronto para penetrar na insegurança, no inexplorado, para navegar no desconhecido sem mapa algum. Confiança significa imensa coragem, e somente uma pessoa corajosa pode ser religiosa, porque somente uma pessoa corajosa pode dizer "sim".

Dúvida é defesa. E mesmo que você seja defendido por ela, você permanece estagnado, não pode se mover - porque cada movimento traz medo, porque cada movimento é um movimento para o desconhecido, para o não-familiar. A dúvida é um subproduto do medo, lembre-se disso.

Então o que é crer? Crer é um subproduto do amor. Somente aqueles que sabem amar sabem crer. O amor vem do coração, e a crença também. A dúvida vem da cabeça, e o medo também. A pessoa que vive na cabeça permanece covarde. Na verdade, por ser covarde, ele mora na cabeça. Ela tem medo de mover-se para o coração porque nunca sabe onde ele a levará.

O coração é um aventureiro, o explorador dos mistérios, o descobridor de tudo que está oculto. O coração está sempre em peregrinação. Ele nunca se satisfaz... tem um descontentamento interno, um descontentamento espiritual. O coração nunca se acomoda em lugar algum. Está profundamente apaixonado pelo movimento, pelo dinamismo.

O coração somente se satisfaz quando chega ao supremo, além do qual não há objetivo. O mundano não pode satisfazê-lo. O coração nunca é convencional, está sempre em revolução. Está sempre saltando de um estado a outro. Está sempre tateando, sempre arriscando. Está sempre disposto a arriscar tudo que tem pelo desconhecido. Seu desejo é conhecer aquilo que verdadeiramente é; e Deus nada mais é do que isto.

O coração anseia pela aventura, pelo perigo, pelo inexplorado, pelo desconhecido, pelo inseguro. Ele almeja a experiência oceânica; quer se dissolver, desaparecer na totalidade. A cabeça é receosa, receia morrer, desaparecer.

Quando você confia, seu inconsciente começa a revelar muitas coisas para você. Ele revela a si mesmo apenas para a mente confiante, para o ser confiante, para a consciência confiante. Religião é a fragrância desta confiança... impecável, absoluta.

O ateísmo é um ato de fraqueza, de impotência. Ele é decadente. Uma sociedade torna-se ateísta somente quando está morrendo, quando perdeu o vigor e a juventude. Quando uma sociedade é jovem, viva e vigorosa, ela almeja o desconhecido, anseia pelo perigo. Ela tenta viver perigosamente, porque essa é a única maneira de verdadeiramente viver.

O ateísmo é sempre covarde. A pessoa realmente corajosa com certeza se tornará religiosa, e a pessoa religiosa certamente é corajosa. Assim, se você encontrar uma pessoa religiosa covarde, então saiba que algo está errado. Uma pessoa covarde não pode ser religiosa. Sua religião nada mais é que uma defesa, uma armadura. Seu sim não está vindo do amor e da coragem, seu sim está vindo do medo. Se fosse possível dizer  não, ela diria não. Seu sim está vindo porque a morte está presente, a doença está presente, o perigo está presente. Assim, ela pensa: "O que tenho a perder? Por que não crer? Por que não orar?" Sua oração é falsa, sua oração nada mais é que uma expressão do medo. O medo a leva ao templo, à igreja e ao sacerdote.

Dizer "não" é dizer não às próprias raízes. Se a árvore diz não à terra, qual será seu destino? Ela estará cometendo suicídio. Se a árvore diz não ao sol, qual será seu destino? Ela estará cometendo suicídio. A árvore não pode dizer não ao sol, não pode dizer não à terra. Ela tem que dizer sim ao sol, à terra, aos ventos, às nuvens. Tem que permanecer continuamente numa atitude de sim. Só então pode florescer, permanecer verde e viva, crescer.

O homem está enraizado na existência. Dizer "não" é envenenar seu próprio sistema. Para  quem você está dizendo não? - para sua própria terra, para seu próprio céu, para seu próprio sol. Você começará a ficar paralizado.  A pessoa realmente corajosa olha ao redor, sente, vê que "Sou parte desta totalidade." Percebendo isso, relaxa no sim, permanece no fluxo. E, pelo seu sim, está pronta a arriscar qualquer coisa, tudo que for necessário.

Procurando, buscando Deus, a verdade, a felicidade suprema, surge várias vezes este momento - arriscar. Toda astúcia estará contra isso. A mente inteira estará contra isso. É melhor arriscar tudo. Se houver apenas uma possibilidade muito, muito pequena de obter amor, mesmo assim deve-se arriscar tudo. E deve-se arriscar tudo repetidamente, muitas vezes, antes que se alcance o amor supremo, Deus.

Comumente procuramos e buscamos Deus apenas dentro de limites: aquilo que é permitido pelas nossas atuais condições, sem nada arriscar. Você está ganhando dinheiro, está tendo sucesso na vida, pode dispensar uma hora para o templo ou para a meditação. De vez em quando pode orar também. Ou pelo menos durante a noite, antes de ir para a cama, pode repetir a mesma oração por dois minutos ecair no sono, e sentir-se muito bem porque está "praticando religião".

Religião não é praticar, é ser. Ou está presente por vinte e quatro horas em seu ser, espalhada por todo ele, ou não está, de forma alguma. Apenas uma oração noturna, antes de ir para a cama, é uma espécie de tapeação que você está fazendo consigo mesmo.

Esse tipo de religião parcial não ajuda. A pessoa tem que estar nela totalmente, e os covardes não podem fazer isso. Assim, deixe-me lembrá-lo: religião é apenas para os valentes, para os vigorosos, para aqueles que têm a alma forte. Não é para os fracos, não é para aqueles que estão sempre negociando. Não é para a mente negociante, é para os jogadores que podem arriscar.

Todo homem é um homem de brilhantes perspectivas, porque todo homem tem Deus como seu florescimento supremo

[continua]

Referência: Osho,  Mojud : O Homem com a Vida Inexplicável, Editora Madras.

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