terça-feira, outubro 19, 2010
Ame a Si Mesmo
"Ame a si mesmo e observe, hoje, amanhã e sempre", Gautama Buda
Começemos com um dos mais profundos ensinamentos de Gautama, o Buda:
Ame a si mesmo.
Exatamente o oposto foi ensinado a você, por todas as tradições do mundo, todas as civilizações, culturas e igrejas. Elas dizem: Ame os outros, não ame a si mesmo. E existe uma certa estratégia ladina por trás desses ensinamentos.
O amor é o que nutre a alma. A comida é para o corpo o que o amor é para a alma. Sem comida, o corpo fica fraco; sem amor, a alma fica fraca. E nenhum país, nenhuma igreja e nenhum capital investido jamais desejou que as pessoas tivessem almas fortes, pois uma pessoa com energia espiritual elevada inevitavelmente será rebelde à sociedade.
O amor o torna rebelde, revolucionário, lhe dá asas para voar alto. O amor lhe dá discernimento sobre as coisas, de tal maneira que ninguém possa enganá-lo, explorá-lo, oprimi-lo. E os sacerdotes e os políticos sobrevivem somente com o seu sangue, somente com a sua exploração, sua escravização.
Todos os sacerdotes e políticos são parasitas. Para torná-lo espiritualmente fraco, eles encontraram um método seguro, cem por cento garantido, que é ensiná-lo a não se amar a si próprio. Porque se uma pessoa não puder amar a si mesma, ela também não poderá amar a mais ninguém. O ensinamento é muito astuto, eles dizem, "Ame os outros", pois sabem que, se você não puder amar a si mesmo, de modo nenhum você poderá amar. Mas eles ficam dizendo: "Ame os outros, a humanidade, a Deus. Ame a natureza, a sua esposa, o seu marido, os seus filhos, os seus pais". Mas não ame a si mesmo, porque, de acordo com eles, amar a si mesmo é egoísmo. O que mais eles condenam é o amor-próprio.
E eles fizeram com que esses ensinamentos parecessem muito lógicos. Eles dizem: "Se amar a si mesmo, você vai se tornar um egoísta, um narcisista". Isso não é verdade.
Uma pessoa que ama a si mesma descobre que não existe nenhum ego nela. O ego surge ao amar os outros sem amar a si mesmo, ao tentar amar os outros. Os missionários, os reformistas sociais, os benfeitores têm os maiores egos do mundo. Isso é natural, pois eles se consideram seres humanos superiores. Eles não são comuns; só pessoas comuns amam a si mesmas. Eles amam os outros, amam grandes ideais, amam Deus.
E todo o amor deles é falso, pois esse amor não tem raízes.
Uma pessoa que ama a si mesma dá o primeiro passo em direção ao amor real e verdadeiro. É como atirar uma pedra num lago tranquilo: primeiro, ondulações circulares surgirão em torno da pedra, muito próxima da pedra. Naturalmente! Onde mais as ondulações poderiam surgir? E depois elas se espalharão, alcançando a margem mais distante. Se você impedir essas ondulações iniciais de surgirem próximas da pedra (de você), de maneira nenhuma haverá outras ondulações se propagando. Então, nessa situação, não se pode esperar criar ondulações que alcancem as praias mais distantes; é impossível.
E os sacerdotes e os políticos perceberam esse fenômeno: ao impedir as pessoas de amarem a si mesmas, aniquilam-se suas capacidades de amar. Agora, tudo o que elas pensam que é amor será falso. Pode ser obrigação, mas não é amor - obrigação é uma palavra suja. Os pais estão cumprindo suas obrigações para com os filhos e, em troca, os filhos cumprirão suas obrigações para com os pais. A esposa cumpre seus deveres para com o marido, e o marido cumpre seus deveres para com a esposa. Onde está o amor em tudo isso?
O amor nada conhece de obrigação. Obrigação é um fardo, uma formalidade. Amor é uma alegria, um compartilhar; ele é informal. A pessoa que ama nunca sente que fez o suficiente; ela sempre sente que era possível fazer algo mais. Ela nunca sente: "Eu fiz um favor à outra pessoa". Pelo contrário, ela sente: "A pessoa me fez um favor recebendo o meu amor. Por receber minha dádiva, por não rejeitá-la, o outro me fez um favor".
A pessoa que cumpre obrigações pensa: "Sou superior, espiritual e extraordinário. Olhe como sirvo as pessoas!" Esses benfeitores são as pessoas mais falsas do mundo e também as mais nocivas. Se pudéssemos nos livrar dos benfeitores públicos, a humanidade tiraria um enorme peso dos ombros, se sentiria muito leve, seria capaz de novamente dançar, de novamente cantar.
Mas, durante séculos, as suas raízes têm sido cortadas, envenenadas. Fizeram com que você tivesse medo de sentir amor por você mesmo - que é o primeiro passo do amor e a primeira experiência. Uma pessoa que ama a si mesma respeita a si mesma. E a pessoa que ama e que respeita a si mesma, respeita os outros também, porque ela sabe: "Assim como eu sou, assim são os outros. Assim como tenho amor, respeito, dignidade, assim têm os outros". Nos detalhes, podemos ser um pouco diferentes uns dos outros - isso traz variedade, isso é belo -, mas na base, somos parte de uma só natureza.
A pessoa que ama a si mesma sente tanto amor e se torna tão bem-aventurada que o seu amor começa a transbordar, começa a alcançar os outros. Ele precisa alcançar! Se você viver o amor real, precisará compartilhá-lo. Você não poderá continuar a amar só a si mesmo para sempre, pois algo ficará absolutamente claro para você: se amar uma pessoa - a você mesmo - é tão imensamente extasiante e belo, mais êxtases estarão esperando você, se você começar a compartilhar seu amor com muitas, muitas pessoas!
Lentamente suas ondulações amorosas começarão a ir mais e mais longe. Você amará outras pessoas, e então começará a amar os animais, os pássaros, as árvores, as rochas. Você pode preencher todo o Universo com o seu amor. Uma única pessoa é suficiente para preencher todo o Universo com amor, exatamente como uma única pedrinha pode preencher todo o lago com andulações - uma única pedrinha.
Somente um buda pode dizer: Ame a si mesmo. Nenhum sacerdote, nenhum político pode concordar com isso, pois isso é destruir todo o edifício, toda a estrutura de exploração montada por eles. Se uma pessoa não tiver permissão para amar a si mesma, seu espírito, sua alma, fica cada dia mais fraca. Seu corpo pode se desenvolver, mas ela não terá crescimento interior, pois não terá nutrição interior. Ela permanece um corpo praticamente sem alma, ou com somente uma potencialidade, uma probabilidade de alma. A alma permanece uma semente e continuará assim, se você não puder encontrar o correto solo do amor para ela. E você não o encontrará, se seguir a idéia idiota usual: "Não ame a si mesmo".
Eu também lhe ensino a primeiro amar a si mesmo. Isso nada tem a ver com o ego. Na verdade, o amor é uma tal luz que a escuridão do ego de maneira nenhuma pode existir nela. Se você amar os outros, se seu amor estiver focado apenas nos outros, você viverá na escuridão. Primeiro, volte a sua luz em direção a si mesmo; primeiro, torne-se uma luz para si mesmo. Deixe a luz dispersar sua escuridão interior, sua fraqueza interior. Deixe que o amor faça de você um poder imenso, uma grande força espiritual.
E, uma vez que sua alma se torne poderosa, você saberá que não morrerá, que você é imortal, eterno. O amor lhe dá o primeiro discernimento com relação à eternidade, à imortalidade. O amor é a única experiência que transcende o tempo. Exatamente por isso, as pessoas que amam não temem a morte. Um único momento de amor é mais do que toda a eternidade.
Mas o amor precisa começar do começo, precisa iniciar com este primeiro passo:
Não se condene. Você já foi condenado demais e aceitou toda essa condenação. Agora, você fica se machucando. Ninguém se considera digno o suficiente, ninguém se considera uma bela criação de Deus, ninguém pensa que é necessário para a existência. Essas são idéias venenosas, mas você foi envenenado, envenenado com o leite de sua mãe, e esse tem sido todo o seu passado. A humanidade tem vivido sob uma escura nuvem de autocondenação. Se você se condena, como você poderá se desenvolver, como você poderá se tornar maduro? E se você se condena, como poderá venerar a existência? Se você não puder venerar a existência dentro de você, você será incapaz de venerar a existência nos outros; será impossível.
Você só pode se tornar parte do todo se tiver um grande respeito pelo Deus que reside dentro de você. Você é um anfitrião, Deus é seu convidado. Ao amar a si mesmo, você saberá: Deus o escolheu para ser um veículo. Ao escolher você para ser um veículo, ele já o respeitou, já o amou. Ao criar você, ele demonstrou seu amor por você. Ele não fez você acidentalmente; ele o fez com um certo destino, com um certo potencial, com uma certa glória que você precisa atingir. Sim, Deus criou o ser humano à sua própria imagem. O ser humano precisa se tornar um deus. A menos que o ser humano se torne um deus, não haverá preenchimento, contentamento.
Mas como você pode se tornar um deus? Seus sacerdotes dizem que você é um pecador, uma perdição, que você inevitavelmente irá para o inferno. E eles o deixam com muito medo de amar a si mesmo. Esse é o truque deles, cortar a própria raiz do amor. Eles são muito espertos. A profissão mais ardilosa no mundo é a dos sacerdotes. Eles dizem: "Ame os outros". Ora, isso será artificial, sintético, um fingimento, uma representação.
Eles dizem: "Ame a humanidade, sua terra natal, sua nação, a vida, a existência, Deus". Grandes palavras, mas completamente sem significado. Você já se deparou com a humanidade? Você sempre se depara com seres humanos - e infelizmente condenou o primeiro ser humano que encontrou, você.
Você não se respeita, não se ama. Agora você desperdiça toda a sua vida condenando os outros. É por isso que as pessoas são tão críticas. Elas se criticam, e como podem evitar de encontrar as mesmas faltas nos outros? Na verdadem, elas as encontrarão e as aumentarão; elas as tornarão tão grandes quanto possível. Essa parece ser a única escapatória para, de alguma maneira, livrar a cara; isso precisa ser feito. Por isso existe tanto criticismo e tanta falta de amor.
Eu digo que esse é um dos sutras mais profundos de Buda, e somente uma pessoa desperta como ele pode dar a você esse discernimento.
Ele diz: Ame a si mesmo... Essa pode se tornar a base para uma transformação radical. Não tenha medo de amar a si mesmo. Ame totalmente e você ficará surpreso: o dia em que você se livrar de toda autocondenação e autodesrespeito, em que você se livrar da idéia do pecado original, em que puder pensar em si mesmo como alguém valioso e amado pela existência, será um dia de grande bênção. Desse dia em diante, você começará a perceber as pessoas assim como elas são de verdade e terá compaixão. E essa não será uma compaixão cultivada; será um fluxo natural e espontâneo.
Uma pessoa que se ama pode facilmente se tornar meditativa, porque meditação significa estar consigo mesmo. Se você se odiar - como você se odeia, como lhe disseram para fazer e você fez religiosamente -, se você se odiar, como poderá ficar com você mesmo? E meditar nada mais é do que apreciar sua bela solitude. Celebrar a si mesmo, é isso o que a meditação é.
A meditação não é um relacionamento; o outro não é necessário, a pessoa é suficiente em si mesma, é banhada em sua própria glória, em sua própria luz. Ela está simplesmente feliz por estar viva, por existir.
O maior milagre do mundo é este: você existe, eu existo. Existir é o maior milagre, e a meditação abre as portas para esse grande milagre. Mas somente uma pessoa que ama a si mesma pode meditar; do contrário, você está sempre fugindo de si mesmo, evitando a si mesmo. Quem quer olhar para uma face feia e quem quer penetrar num ser feio? Quem quer penetrar fundo em sua própria lama, em sua própria escuridão? Quem quer entrar no inferno que você julga ser? Você quer manter tudo isso coberto com belas flores e sempre fugir de si mesmo.
Por isso as pessoas estão continuamente procurando companhia. Elas não conseguem ficar com elas mesmas e querem ficar com outras pessoas. As pessoas estão procurando qualquer tipo de companhia; se elas puderem evitar a companhia delas mesmas, qualquer coisa servirá. Elas sentarão num cinema durante três horas, assistindo algo completamente idiota; lerão um romance policial por horas, desperdiçando seu tempo. Lerão o mesmo jornal repetidamente, apenas para se manterem ocupadas; jogarão cartas e xadrez apenas para matar o tempo, como se tivessem muito tempo!
Nós não temos muito tempo, não temos tempo suficiente para nos desenvolver, para ser, para nos alegrar.
Mas este é um dos problemas básicos criados por uma educação equivocada: evite a si mesmo. As pessoas ficam sentadas em frente à TV, grudadas na poltrona durante quatro, cinco, até seis horas. Na média, o norte-americano assiste à televisão durante cinco horas por dia, e essa doença se espalhará por todo o mundo. E o que você está vendo? E o que você está ganhando com isso? Queimando seus olhos...
Mas isso sempre foi assim; mesmo se a televisão não existisse, haveria outras coisas. O problema é o mesmo: como evitar a si mesmo? Porque a pessoa se sente muito feia. E quem a fez ficar tão feia? Seus pretensos religiosos, seus papas. Eles são responsáveis por distorcerem suas faces, e foram bem-sucedidos, tornaram todos feios.
Toda criança nasce bela e, então, começamos a distorcer sua beleza, mutilando-a e paralisando-a de muitas maneiras, distorcendo sua proporção, tornando-a desequilibrada. Mais cedo ou mais tarde ela fica tão desgostosa consigo mesma que aceita ficar com qualquer um. O sujeito pode procurar uma prostituta apenas para evitar a si mesmo.
Ame a si mesmo, diz Buda. E isso pode transformar todo o mundo, pode destruir todo o feio passado, pode anunciar uma nova era, pode ser o princípio de uma nova humanidade.
Daí a minha insistência no amor - mas o amor começa com você mesmo. Depois ele pode continuar se espalhando, se espalhando por conta própria. Você não precisa fazer nada para espalhá-lo.
Ame a si mesmo, diz Buda e, logo depois, ele acrescenta: e observe. Isto é meditação, é o nome que Buda dá à meditação. Mas o primeiro requisito é se amar e, depois, observar. Se você não se amar e começar a observar, você vai querer se suicidar! Muitos budistas pensam em suicídio, pois não prestam atenção na primeira parte do sutra e, imediatamente, pulam para a segunda parte: "Observe a si mesmo". Na verdadem, nunca me deparei com um único comentário sobre o Dhammapada, sobre esses sutras de Buda, que desse qualquer atenção à sua primeira parte: Ame a si mesmo.
Sócrates diz: "Conheça a si mesmo". Buda diz: "Ame a si mesmo". Buda está muito mais correto, porque a menos que você ame a si mesmo, nunca se conhecerá. O conhecer virá somente mais tarde. O amor prepara o terreno, é a possibilidade de se conhecer, é o caminho correto para se conhecer.
Ninguém acha - nem mesmo os budistas - que amar a si mesmo precisa ser a base para conhecer a si mesmo, para observar a si mesmo, pois, a menos que você se ame, você não conseguirá se encarar. Você evitará. Isso porque o observar pode, ele próprio, ser uma maneira de evitar a si mesmo.
Primeiro: Ame a si mesmo e observe, hoje, amanhã e sempre.
Crie uma energia amorosa à sua volta. Ame o seu corpo, ame a sua mente, ame todo o seu mecanismo, todo o seu organismo. Amar significa aceitar como é. Não tentar reprimir. Reprimimos somente quando odiamos algo, quando somos contra algo. Não reprima, porque se você reprimir, como você irá observar? E não conseguimos olhar nos olhos do inimigo; só conseguimos olhar nos olhos de nosso amado. Se você não se amar, você não será capaz de olhar em seus próprios olhos, em sua própria face, em sua própria realidade.
Observar é meditar, é o nome que Buda dá à meditação. Observar é a senha de Buda. Ele diz: fique atento, fique alerta, não seja inconsciente, não se comporte de maneira sonolenta, não continue funcionando como uma máquina, como um robô. E é assim que as pessoas estão vivendo.
As pessoas estão vivendo inconscientemente, elas não estão conscientes do que estão dizendo, do que estão fazendo; elas não são observadoras. As pessoas ficam supondo e não vêem; elas não têm discernimento, não podem ter. O discernimento só acontece por meio de grande observação; então, pode-se ver até com os olhos fechados. No momento, você não pode ver nem mesmo com os olhos abertos. Você conclui, supõe, impõe, projeta.
Grace está deitada no divã do psiquiatra.
"Feche os olhos e relaxe", diz o médico, "e irei tentar um experimento".
Ele pegou seu chaveiro de bolso e levemente balançou as chaves. "O que este som lembra?", perguntou.
"Sexo", ela sussurrou.
Então, ele encostou levemente o chaveiro na palma da mão da moça, e o corpo dela enrijeceu.
"E isso?", perguntou o psiquiatra.
"Sexo", Grace murmurou nervosa.
"Agora, abra os olhos", instruiu o médico, "e me diga por que o que fiz fez você pensar em sexo".
Hesitantemente, suas pálpebras se abriram. Grace viu o molho de chaves na mão do psiquiatra e enrubesceu.
"Be-bem, para começar", ela gagejou, "pensei que o primeiro som fosse o zíper da sua calça se abrindo..."
Sua mente está constantemente projetando, projetando a si mesma. Ela está constantemente interferindo na realidade, dando-lhe uma cor, uma configuração e uma forma que não lhe é própria. Sua mente nunca permite que você perceba aquilo que é; ela permite que você perceba somente aquilo que ela deseja perceber.
Os cientistas pensavam que nossos olhos, ouvidos, nariz, os outros sentidos e a mente nada mais fossem do que aberturas para a realidade, pontes para a realidade. Mas agora todo o entendimento mudou. Agora eles dizem que nossos sentidos e a mente não são realmente aberturas para a realidade, mas defesas contra a realidade. Somente dois por cento da realidade passa por essas defesas e chega até você; noventa e oito por cento da realidade fica do lado de fora de você. E os dois por cento, que chegam até você e ao seu ser, são alterados. Eles precisam passar por tantas barreiras, precisam amoldar-se a tantas coisas da mente que, quando chegam até você, não são mais os mesmos.
Meditação significa colocar a mente de lado, de tal modo que ela não mais interfira na realidade e você possa perceber as coisas como elas são.
E por que a mente interfere? Ela interfere porque ela é criada pela sociedade, ela é o agente da sociedade em você! A mente não está a seu serviço, lembre-se disso! Ela é a sua mente, mas não está a seu serviço; ela está fazendo uma conspiração da sociedade contra você. A nossa mente foi condicionada pela sociedade, que implantou muitas coisas nela. Ela é a sua mente, mas não funciona como sua serva; ela funciona como serva da sociedade. Se você for cristão, ela funcionará como uma agente da igreja cristã; se você for hindu, ela será hindu; se você for budista, ela será budista. E a realidade não é cristã, hindu ou budista; a realidade é simplesmente como ela é.
Você precisa colocar de lado estas mentes: a mente comunista, a fascista, a católica, a protestante... Existem três mil religiões no mundo, grandes e pequenas, e pequenas seitas e seitas dentro de seitas... três mil no total. Dessa maneira, existem três mil mentes, tipos de mente, e a realidade é uma só, a existência é uma só, a verdade é uma só!!
Meditação significa: coloque a mente de lado e observe. O primeiro passo, ame a si mesmo, o ajudará imensamente. Ao amar a si mesmo, você irá destruir muito do que a sociedade implantou em você. Você se tornará mais livre da sociedade e de seus condicionamentos.
E o segundo passo é: observe, apenas observe. Buda não diz o que precisa ser observado - é tudo! Ao caminhar, observe o seu caminhar. Ao comer, observe seu comer. Ao tomar banho, observe a água, a água caindo sobre você, o toque da água, seu frescor, o calafrio que passa pela espinha - observe tudo, hoje, amanhã e sempre.
E finalmente, chega um momento em que você pode observar mesmo o seu sono. No que se refere ao observar, isso é o máximo. O corpo vai dormir e ainda assim existe um observador desperto, silenciosamente observando o corpo dormindo profundamente. No que se refere ao observar, isso é o máximo. No momento, acontece justamente o contrário: seu corpo está desperto, mas você está dormindo, em profunda sonolência. Então, você estará desperto e seu corpo estará dormindo.
O corpo precisa de repouso, mas sua consciência não precisa de sono. Sua consciência é consciência; ela é o estado de alerta, essa é a sua própria natureza. O corpo se cansa (e se desgasta) porque vive sob a lei da gravidade. É a gravidade que o deixa cansado (e desgastado). É por isso que ao correr rápido, você logo se cansa; ao subir escadas, você logo se cansa, pois a gravidade o puxa para baixo. Na verdade, ficar em pé é cansativo, sentar é cansativo, e quando você se deita na horizontal, somente então existe um pouco mais de repouso para o corpo, porque você fica mais em sintonia (equilíbrio) com a lei da gravidade. Quando você está em pé, na vertical, você está indo contra a lei; o sangue vai para a cabeça, contra a lei, e o coração precisa bater mais forte.
Mas a consciência não funciona sob a lei da gravidade, daí ela nunca se cansar. A gravidade não tem poder sobre a consciência; a consciência não é uma rocha, ela não tem peso. Ela funciona sob uma lei totalmente diferente, a lei da graça ou, como ela é conhecida no Oriente, a lei da levitação. Gravitação significa puxar para baixo, levitação significa puxar para cima.
O corpo está continuamente sendo puxado para baixo e, por isso, finalmente ele precisará se deitar na cova. Esse será o verdadeiro repouso para ele, pó sobre pó. O corpo, dessa forma, retornou à sua fonte, o tumulto cessou; agora não existe mais conflito. Os átomos de seu corpo terão verdadeiro repouso somente no túmulo.
A alma, no entanto, se eleva mais e mais alto. À medida que você se torna mais observador, você começa a ter asas - então, todo o céu é seu.
O ser humano é um encontro da terra com o céu, do corpo com a alma.
Fonte: Osho, Amor, Liberdade e Solitude, Editora Cultrix, 2006. ISBN 978-85-316-0913-8.
Ame a si mesmo.
Exatamente o oposto foi ensinado a você, por todas as tradições do mundo, todas as civilizações, culturas e igrejas. Elas dizem: Ame os outros, não ame a si mesmo. E existe uma certa estratégia ladina por trás desses ensinamentos.
O amor é o que nutre a alma. A comida é para o corpo o que o amor é para a alma. Sem comida, o corpo fica fraco; sem amor, a alma fica fraca. E nenhum país, nenhuma igreja e nenhum capital investido jamais desejou que as pessoas tivessem almas fortes, pois uma pessoa com energia espiritual elevada inevitavelmente será rebelde à sociedade.
O amor o torna rebelde, revolucionário, lhe dá asas para voar alto. O amor lhe dá discernimento sobre as coisas, de tal maneira que ninguém possa enganá-lo, explorá-lo, oprimi-lo. E os sacerdotes e os políticos sobrevivem somente com o seu sangue, somente com a sua exploração, sua escravização.
Todos os sacerdotes e políticos são parasitas. Para torná-lo espiritualmente fraco, eles encontraram um método seguro, cem por cento garantido, que é ensiná-lo a não se amar a si próprio. Porque se uma pessoa não puder amar a si mesma, ela também não poderá amar a mais ninguém. O ensinamento é muito astuto, eles dizem, "Ame os outros", pois sabem que, se você não puder amar a si mesmo, de modo nenhum você poderá amar. Mas eles ficam dizendo: "Ame os outros, a humanidade, a Deus. Ame a natureza, a sua esposa, o seu marido, os seus filhos, os seus pais". Mas não ame a si mesmo, porque, de acordo com eles, amar a si mesmo é egoísmo. O que mais eles condenam é o amor-próprio.
E eles fizeram com que esses ensinamentos parecessem muito lógicos. Eles dizem: "Se amar a si mesmo, você vai se tornar um egoísta, um narcisista". Isso não é verdade.
Uma pessoa que ama a si mesma descobre que não existe nenhum ego nela. O ego surge ao amar os outros sem amar a si mesmo, ao tentar amar os outros. Os missionários, os reformistas sociais, os benfeitores têm os maiores egos do mundo. Isso é natural, pois eles se consideram seres humanos superiores. Eles não são comuns; só pessoas comuns amam a si mesmas. Eles amam os outros, amam grandes ideais, amam Deus.
E todo o amor deles é falso, pois esse amor não tem raízes.
Uma pessoa que ama a si mesma dá o primeiro passo em direção ao amor real e verdadeiro. É como atirar uma pedra num lago tranquilo: primeiro, ondulações circulares surgirão em torno da pedra, muito próxima da pedra. Naturalmente! Onde mais as ondulações poderiam surgir? E depois elas se espalharão, alcançando a margem mais distante. Se você impedir essas ondulações iniciais de surgirem próximas da pedra (de você), de maneira nenhuma haverá outras ondulações se propagando. Então, nessa situação, não se pode esperar criar ondulações que alcancem as praias mais distantes; é impossível.
E os sacerdotes e os políticos perceberam esse fenômeno: ao impedir as pessoas de amarem a si mesmas, aniquilam-se suas capacidades de amar. Agora, tudo o que elas pensam que é amor será falso. Pode ser obrigação, mas não é amor - obrigação é uma palavra suja. Os pais estão cumprindo suas obrigações para com os filhos e, em troca, os filhos cumprirão suas obrigações para com os pais. A esposa cumpre seus deveres para com o marido, e o marido cumpre seus deveres para com a esposa. Onde está o amor em tudo isso?
O amor nada conhece de obrigação. Obrigação é um fardo, uma formalidade. Amor é uma alegria, um compartilhar; ele é informal. A pessoa que ama nunca sente que fez o suficiente; ela sempre sente que era possível fazer algo mais. Ela nunca sente: "Eu fiz um favor à outra pessoa". Pelo contrário, ela sente: "A pessoa me fez um favor recebendo o meu amor. Por receber minha dádiva, por não rejeitá-la, o outro me fez um favor".
A pessoa que cumpre obrigações pensa: "Sou superior, espiritual e extraordinário. Olhe como sirvo as pessoas!" Esses benfeitores são as pessoas mais falsas do mundo e também as mais nocivas. Se pudéssemos nos livrar dos benfeitores públicos, a humanidade tiraria um enorme peso dos ombros, se sentiria muito leve, seria capaz de novamente dançar, de novamente cantar.
Mas, durante séculos, as suas raízes têm sido cortadas, envenenadas. Fizeram com que você tivesse medo de sentir amor por você mesmo - que é o primeiro passo do amor e a primeira experiência. Uma pessoa que ama a si mesma respeita a si mesma. E a pessoa que ama e que respeita a si mesma, respeita os outros também, porque ela sabe: "Assim como eu sou, assim são os outros. Assim como tenho amor, respeito, dignidade, assim têm os outros". Nos detalhes, podemos ser um pouco diferentes uns dos outros - isso traz variedade, isso é belo -, mas na base, somos parte de uma só natureza.
A pessoa que ama a si mesma sente tanto amor e se torna tão bem-aventurada que o seu amor começa a transbordar, começa a alcançar os outros. Ele precisa alcançar! Se você viver o amor real, precisará compartilhá-lo. Você não poderá continuar a amar só a si mesmo para sempre, pois algo ficará absolutamente claro para você: se amar uma pessoa - a você mesmo - é tão imensamente extasiante e belo, mais êxtases estarão esperando você, se você começar a compartilhar seu amor com muitas, muitas pessoas!
Lentamente suas ondulações amorosas começarão a ir mais e mais longe. Você amará outras pessoas, e então começará a amar os animais, os pássaros, as árvores, as rochas. Você pode preencher todo o Universo com o seu amor. Uma única pessoa é suficiente para preencher todo o Universo com amor, exatamente como uma única pedrinha pode preencher todo o lago com andulações - uma única pedrinha.
Somente um buda pode dizer: Ame a si mesmo. Nenhum sacerdote, nenhum político pode concordar com isso, pois isso é destruir todo o edifício, toda a estrutura de exploração montada por eles. Se uma pessoa não tiver permissão para amar a si mesma, seu espírito, sua alma, fica cada dia mais fraca. Seu corpo pode se desenvolver, mas ela não terá crescimento interior, pois não terá nutrição interior. Ela permanece um corpo praticamente sem alma, ou com somente uma potencialidade, uma probabilidade de alma. A alma permanece uma semente e continuará assim, se você não puder encontrar o correto solo do amor para ela. E você não o encontrará, se seguir a idéia idiota usual: "Não ame a si mesmo".
Eu também lhe ensino a primeiro amar a si mesmo. Isso nada tem a ver com o ego. Na verdade, o amor é uma tal luz que a escuridão do ego de maneira nenhuma pode existir nela. Se você amar os outros, se seu amor estiver focado apenas nos outros, você viverá na escuridão. Primeiro, volte a sua luz em direção a si mesmo; primeiro, torne-se uma luz para si mesmo. Deixe a luz dispersar sua escuridão interior, sua fraqueza interior. Deixe que o amor faça de você um poder imenso, uma grande força espiritual.
E, uma vez que sua alma se torne poderosa, você saberá que não morrerá, que você é imortal, eterno. O amor lhe dá o primeiro discernimento com relação à eternidade, à imortalidade. O amor é a única experiência que transcende o tempo. Exatamente por isso, as pessoas que amam não temem a morte. Um único momento de amor é mais do que toda a eternidade.
Mas o amor precisa começar do começo, precisa iniciar com este primeiro passo:
Ame a si mesmo
Não se condene. Você já foi condenado demais e aceitou toda essa condenação. Agora, você fica se machucando. Ninguém se considera digno o suficiente, ninguém se considera uma bela criação de Deus, ninguém pensa que é necessário para a existência. Essas são idéias venenosas, mas você foi envenenado, envenenado com o leite de sua mãe, e esse tem sido todo o seu passado. A humanidade tem vivido sob uma escura nuvem de autocondenação. Se você se condena, como você poderá se desenvolver, como você poderá se tornar maduro? E se você se condena, como poderá venerar a existência? Se você não puder venerar a existência dentro de você, você será incapaz de venerar a existência nos outros; será impossível.
Você só pode se tornar parte do todo se tiver um grande respeito pelo Deus que reside dentro de você. Você é um anfitrião, Deus é seu convidado. Ao amar a si mesmo, você saberá: Deus o escolheu para ser um veículo. Ao escolher você para ser um veículo, ele já o respeitou, já o amou. Ao criar você, ele demonstrou seu amor por você. Ele não fez você acidentalmente; ele o fez com um certo destino, com um certo potencial, com uma certa glória que você precisa atingir. Sim, Deus criou o ser humano à sua própria imagem. O ser humano precisa se tornar um deus. A menos que o ser humano se torne um deus, não haverá preenchimento, contentamento.
Mas como você pode se tornar um deus? Seus sacerdotes dizem que você é um pecador, uma perdição, que você inevitavelmente irá para o inferno. E eles o deixam com muito medo de amar a si mesmo. Esse é o truque deles, cortar a própria raiz do amor. Eles são muito espertos. A profissão mais ardilosa no mundo é a dos sacerdotes. Eles dizem: "Ame os outros". Ora, isso será artificial, sintético, um fingimento, uma representação.
Eles dizem: "Ame a humanidade, sua terra natal, sua nação, a vida, a existência, Deus". Grandes palavras, mas completamente sem significado. Você já se deparou com a humanidade? Você sempre se depara com seres humanos - e infelizmente condenou o primeiro ser humano que encontrou, você.
Você não se respeita, não se ama. Agora você desperdiça toda a sua vida condenando os outros. É por isso que as pessoas são tão críticas. Elas se criticam, e como podem evitar de encontrar as mesmas faltas nos outros? Na verdadem, elas as encontrarão e as aumentarão; elas as tornarão tão grandes quanto possível. Essa parece ser a única escapatória para, de alguma maneira, livrar a cara; isso precisa ser feito. Por isso existe tanto criticismo e tanta falta de amor.
Eu digo que esse é um dos sutras mais profundos de Buda, e somente uma pessoa desperta como ele pode dar a você esse discernimento.
Ele diz: Ame a si mesmo... Essa pode se tornar a base para uma transformação radical. Não tenha medo de amar a si mesmo. Ame totalmente e você ficará surpreso: o dia em que você se livrar de toda autocondenação e autodesrespeito, em que você se livrar da idéia do pecado original, em que puder pensar em si mesmo como alguém valioso e amado pela existência, será um dia de grande bênção. Desse dia em diante, você começará a perceber as pessoas assim como elas são de verdade e terá compaixão. E essa não será uma compaixão cultivada; será um fluxo natural e espontâneo.
Uma pessoa que se ama pode facilmente se tornar meditativa, porque meditação significa estar consigo mesmo. Se você se odiar - como você se odeia, como lhe disseram para fazer e você fez religiosamente -, se você se odiar, como poderá ficar com você mesmo? E meditar nada mais é do que apreciar sua bela solitude. Celebrar a si mesmo, é isso o que a meditação é.
A meditação não é um relacionamento; o outro não é necessário, a pessoa é suficiente em si mesma, é banhada em sua própria glória, em sua própria luz. Ela está simplesmente feliz por estar viva, por existir.
O maior milagre do mundo é este: você existe, eu existo. Existir é o maior milagre, e a meditação abre as portas para esse grande milagre. Mas somente uma pessoa que ama a si mesma pode meditar; do contrário, você está sempre fugindo de si mesmo, evitando a si mesmo. Quem quer olhar para uma face feia e quem quer penetrar num ser feio? Quem quer penetrar fundo em sua própria lama, em sua própria escuridão? Quem quer entrar no inferno que você julga ser? Você quer manter tudo isso coberto com belas flores e sempre fugir de si mesmo.
Por isso as pessoas estão continuamente procurando companhia. Elas não conseguem ficar com elas mesmas e querem ficar com outras pessoas. As pessoas estão procurando qualquer tipo de companhia; se elas puderem evitar a companhia delas mesmas, qualquer coisa servirá. Elas sentarão num cinema durante três horas, assistindo algo completamente idiota; lerão um romance policial por horas, desperdiçando seu tempo. Lerão o mesmo jornal repetidamente, apenas para se manterem ocupadas; jogarão cartas e xadrez apenas para matar o tempo, como se tivessem muito tempo!
Nós não temos muito tempo, não temos tempo suficiente para nos desenvolver, para ser, para nos alegrar.
Mas este é um dos problemas básicos criados por uma educação equivocada: evite a si mesmo. As pessoas ficam sentadas em frente à TV, grudadas na poltrona durante quatro, cinco, até seis horas. Na média, o norte-americano assiste à televisão durante cinco horas por dia, e essa doença se espalhará por todo o mundo. E o que você está vendo? E o que você está ganhando com isso? Queimando seus olhos...
Mas isso sempre foi assim; mesmo se a televisão não existisse, haveria outras coisas. O problema é o mesmo: como evitar a si mesmo? Porque a pessoa se sente muito feia. E quem a fez ficar tão feia? Seus pretensos religiosos, seus papas. Eles são responsáveis por distorcerem suas faces, e foram bem-sucedidos, tornaram todos feios.
Toda criança nasce bela e, então, começamos a distorcer sua beleza, mutilando-a e paralisando-a de muitas maneiras, distorcendo sua proporção, tornando-a desequilibrada. Mais cedo ou mais tarde ela fica tão desgostosa consigo mesma que aceita ficar com qualquer um. O sujeito pode procurar uma prostituta apenas para evitar a si mesmo.
Ame a si mesmo, diz Buda. E isso pode transformar todo o mundo, pode destruir todo o feio passado, pode anunciar uma nova era, pode ser o princípio de uma nova humanidade.
Daí a minha insistência no amor - mas o amor começa com você mesmo. Depois ele pode continuar se espalhando, se espalhando por conta própria. Você não precisa fazer nada para espalhá-lo.
Ame a si mesmo, diz Buda e, logo depois, ele acrescenta: e observe. Isto é meditação, é o nome que Buda dá à meditação. Mas o primeiro requisito é se amar e, depois, observar. Se você não se amar e começar a observar, você vai querer se suicidar! Muitos budistas pensam em suicídio, pois não prestam atenção na primeira parte do sutra e, imediatamente, pulam para a segunda parte: "Observe a si mesmo". Na verdadem, nunca me deparei com um único comentário sobre o Dhammapada, sobre esses sutras de Buda, que desse qualquer atenção à sua primeira parte: Ame a si mesmo.
Sócrates diz: "Conheça a si mesmo". Buda diz: "Ame a si mesmo". Buda está muito mais correto, porque a menos que você ame a si mesmo, nunca se conhecerá. O conhecer virá somente mais tarde. O amor prepara o terreno, é a possibilidade de se conhecer, é o caminho correto para se conhecer.
Ninguém acha - nem mesmo os budistas - que amar a si mesmo precisa ser a base para conhecer a si mesmo, para observar a si mesmo, pois, a menos que você se ame, você não conseguirá se encarar. Você evitará. Isso porque o observar pode, ele próprio, ser uma maneira de evitar a si mesmo.
Primeiro: Ame a si mesmo e observe, hoje, amanhã e sempre.
Crie uma energia amorosa à sua volta. Ame o seu corpo, ame a sua mente, ame todo o seu mecanismo, todo o seu organismo. Amar significa aceitar como é. Não tentar reprimir. Reprimimos somente quando odiamos algo, quando somos contra algo. Não reprima, porque se você reprimir, como você irá observar? E não conseguimos olhar nos olhos do inimigo; só conseguimos olhar nos olhos de nosso amado. Se você não se amar, você não será capaz de olhar em seus próprios olhos, em sua própria face, em sua própria realidade.
Observar é meditar, é o nome que Buda dá à meditação. Observar é a senha de Buda. Ele diz: fique atento, fique alerta, não seja inconsciente, não se comporte de maneira sonolenta, não continue funcionando como uma máquina, como um robô. E é assim que as pessoas estão vivendo.
As pessoas estão vivendo inconscientemente, elas não estão conscientes do que estão dizendo, do que estão fazendo; elas não são observadoras. As pessoas ficam supondo e não vêem; elas não têm discernimento, não podem ter. O discernimento só acontece por meio de grande observação; então, pode-se ver até com os olhos fechados. No momento, você não pode ver nem mesmo com os olhos abertos. Você conclui, supõe, impõe, projeta.
Grace está deitada no divã do psiquiatra.
"Feche os olhos e relaxe", diz o médico, "e irei tentar um experimento".
Ele pegou seu chaveiro de bolso e levemente balançou as chaves. "O que este som lembra?", perguntou.
"Sexo", ela sussurrou.
Então, ele encostou levemente o chaveiro na palma da mão da moça, e o corpo dela enrijeceu.
"E isso?", perguntou o psiquiatra.
"Sexo", Grace murmurou nervosa.
"Agora, abra os olhos", instruiu o médico, "e me diga por que o que fiz fez você pensar em sexo".
Hesitantemente, suas pálpebras se abriram. Grace viu o molho de chaves na mão do psiquiatra e enrubesceu.
"Be-bem, para começar", ela gagejou, "pensei que o primeiro som fosse o zíper da sua calça se abrindo..."
Sua mente está constantemente projetando, projetando a si mesma. Ela está constantemente interferindo na realidade, dando-lhe uma cor, uma configuração e uma forma que não lhe é própria. Sua mente nunca permite que você perceba aquilo que é; ela permite que você perceba somente aquilo que ela deseja perceber.
Os cientistas pensavam que nossos olhos, ouvidos, nariz, os outros sentidos e a mente nada mais fossem do que aberturas para a realidade, pontes para a realidade. Mas agora todo o entendimento mudou. Agora eles dizem que nossos sentidos e a mente não são realmente aberturas para a realidade, mas defesas contra a realidade. Somente dois por cento da realidade passa por essas defesas e chega até você; noventa e oito por cento da realidade fica do lado de fora de você. E os dois por cento, que chegam até você e ao seu ser, são alterados. Eles precisam passar por tantas barreiras, precisam amoldar-se a tantas coisas da mente que, quando chegam até você, não são mais os mesmos.
Meditação significa colocar a mente de lado, de tal modo que ela não mais interfira na realidade e você possa perceber as coisas como elas são.
E por que a mente interfere? Ela interfere porque ela é criada pela sociedade, ela é o agente da sociedade em você! A mente não está a seu serviço, lembre-se disso! Ela é a sua mente, mas não está a seu serviço; ela está fazendo uma conspiração da sociedade contra você. A nossa mente foi condicionada pela sociedade, que implantou muitas coisas nela. Ela é a sua mente, mas não funciona como sua serva; ela funciona como serva da sociedade. Se você for cristão, ela funcionará como uma agente da igreja cristã; se você for hindu, ela será hindu; se você for budista, ela será budista. E a realidade não é cristã, hindu ou budista; a realidade é simplesmente como ela é.
Você precisa colocar de lado estas mentes: a mente comunista, a fascista, a católica, a protestante... Existem três mil religiões no mundo, grandes e pequenas, e pequenas seitas e seitas dentro de seitas... três mil no total. Dessa maneira, existem três mil mentes, tipos de mente, e a realidade é uma só, a existência é uma só, a verdade é uma só!!
Meditação significa: coloque a mente de lado e observe. O primeiro passo, ame a si mesmo, o ajudará imensamente. Ao amar a si mesmo, você irá destruir muito do que a sociedade implantou em você. Você se tornará mais livre da sociedade e de seus condicionamentos.
E o segundo passo é: observe, apenas observe. Buda não diz o que precisa ser observado - é tudo! Ao caminhar, observe o seu caminhar. Ao comer, observe seu comer. Ao tomar banho, observe a água, a água caindo sobre você, o toque da água, seu frescor, o calafrio que passa pela espinha - observe tudo, hoje, amanhã e sempre.
E finalmente, chega um momento em que você pode observar mesmo o seu sono. No que se refere ao observar, isso é o máximo. O corpo vai dormir e ainda assim existe um observador desperto, silenciosamente observando o corpo dormindo profundamente. No que se refere ao observar, isso é o máximo. No momento, acontece justamente o contrário: seu corpo está desperto, mas você está dormindo, em profunda sonolência. Então, você estará desperto e seu corpo estará dormindo.
O corpo precisa de repouso, mas sua consciência não precisa de sono. Sua consciência é consciência; ela é o estado de alerta, essa é a sua própria natureza. O corpo se cansa (e se desgasta) porque vive sob a lei da gravidade. É a gravidade que o deixa cansado (e desgastado). É por isso que ao correr rápido, você logo se cansa; ao subir escadas, você logo se cansa, pois a gravidade o puxa para baixo. Na verdade, ficar em pé é cansativo, sentar é cansativo, e quando você se deita na horizontal, somente então existe um pouco mais de repouso para o corpo, porque você fica mais em sintonia (equilíbrio) com a lei da gravidade. Quando você está em pé, na vertical, você está indo contra a lei; o sangue vai para a cabeça, contra a lei, e o coração precisa bater mais forte.
Mas a consciência não funciona sob a lei da gravidade, daí ela nunca se cansar. A gravidade não tem poder sobre a consciência; a consciência não é uma rocha, ela não tem peso. Ela funciona sob uma lei totalmente diferente, a lei da graça ou, como ela é conhecida no Oriente, a lei da levitação. Gravitação significa puxar para baixo, levitação significa puxar para cima.
O corpo está continuamente sendo puxado para baixo e, por isso, finalmente ele precisará se deitar na cova. Esse será o verdadeiro repouso para ele, pó sobre pó. O corpo, dessa forma, retornou à sua fonte, o tumulto cessou; agora não existe mais conflito. Os átomos de seu corpo terão verdadeiro repouso somente no túmulo.
A alma, no entanto, se eleva mais e mais alto. À medida que você se torna mais observador, você começa a ter asas - então, todo o céu é seu.
O ser humano é um encontro da terra com o céu, do corpo com a alma.
Fonte: Osho, Amor, Liberdade e Solitude, Editora Cultrix, 2006. ISBN 978-85-316-0913-8.
Marcadores: amor, consciência, gravidade, imortalidade, levitação, meditação, mente, obrigação, Osho
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Lindo, lindo Rui.
Todos os dias estou a vir em seu blog para aprender coisas valiosas que estão a me fazer uma pessoa melhor comigo mesmo. Obrigado pelas visões colocadas de se dar valor em um mundo materialista e implacável.
Estou bastante interessado nas histórias que não são contadas ao publico e que vc. narra.
Está sendo uma referencia diária este teu blog.
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Todos os dias estou a vir em seu blog para aprender coisas valiosas que estão a me fazer uma pessoa melhor comigo mesmo. Obrigado pelas visões colocadas de se dar valor em um mundo materialista e implacável.
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